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Zimbabué: "Mugabe tem de deixar o lugar da Presidência vago"

Victoria Schneider
18 de novembro de 2017

A situação não deve "regressar à normalidade" depois dos eventos desta semana em Harare, capital do Zimbabué, diz Dumiso Dabengwa, líder do ZAPU, um dos principais partidos da oposição.

Simbabwe Oppositionspartei ZAPU Dumiso Dabengwa
Foto: DW/V. Schneider

Dumiso Dabengwa é o líder do partido da oposição União do Povo Africano do Zimbabué (ZAPU). Foi ministro do Interior durante a Presidência de Mugabe entre 1992 e 2000. A partir de Joanesburgo, na África do Sul, concedeu uma entrevista à DW África.

DW África: Em que situação está agora o Zimbabué?

Dumiso Dabengwa, do ZAPU, numa reunião com a imprensa em Joanesburgo, África do SulFoto: DW/V. Schneider

Dumiso Dabengwa (DD): Em primeiro lugar, estou desapontado com o facto de Robert Mugabe ter estado numa cerimónia universitária na sexta-feira (17.11). Isso significa que o exército retirou-o da prisão domiciliária e ele está de volta à Presidência. Os [líderes da União Africana (UA)] querem convidá-lo e deixá-lo defender-se. Eles já vieram dizer que o que o exército fez foi um golpe. Quando Mugabe voltar, vai julgá-los por traição. E a UA vai ficar feliz com isso e dizer que a justiça foi feita.

DW África: Diria que o que se passou foi um golpe de Estado?

DD: Não acredito que foi um golpe de Estado.

DW África: Está a dizer que o que aconteceu durante a última semana não tem repercussões na vida do país?

DD: Estou a afirmar que ele vai considerar dizer que o que aconteceu foi um golpe, com a segurança e o apoio dos outros chefes de Estado.

DW África: Tem estado em Joanesburgo desde domingo, dia 12 de novembro. O que tem estado a fazer?

DD: Vim para aqui para discutir os fundamentos do meu legado e para saber como devo proceder com a nação. Depois aconteceu isto. E os meus colegas perguntaram-me: "Por favor, podes vir para cá e dizer aos nossos amigos nas ruas o que está a acontecer? As pessoas devem parar de se referir a isto como um golpe".

DW África: Vai voltar para o Zimbabué?

Robert Mugabe numa cerimónia pública na sexta-feira (17.11)Foto: picture-alliance/AP Photo/T. Mukwazhi

DD: Sim, vou voltar.

DW África: Em que posição?

DD: Voltarei como líder do meu partido, o ZAPU.

DW África: O que poderemos esperar nos próximos dias?

DD: Veremos com as manifestações planeadas. As forças armadas não deverão participar. Veremos se a polícia não dispersará o protesto. Eles [a associação de veteranos de guerra] vão protestar em frente à residência [de Mugabe].     

DW África: Voltamos um pouco atrás. Porque é que isto aconteceu? O que está mal e o que precisa de mudar?

Manifestação contra Mugabe, em Harare, este sábado (18.11)Foto: Getty Images/AFP/Z. Auntony

DD: O que aconteceu de errado é que Mugabe demitiu o seu vice-presidente [Emmerson Mnangagwa], o mesmo homem que despediu Joice Mujuru, o seu outro vice-presidente. Ao fazer isto, [Mugabe] está a procurar apoio para a sua mulher se tornar vice-presidente do partido em vez de Mnangagwa. Depois ela torna-se automaticamente vice-Presidente do país. E o que acontece a seguir é que ele morre em dois anos e esta mulher [Grace Mugabe] torna-se líder do Zimbabué. É este o cenário que temos à nossa frente.

DW África: Existem eleições programadas para o próximo ano. Se tudo voltar ao normal, acha que as eleições vão trazer mudanças?

DD: Vamos ver se as coisas vão regressar à normalidade...

DW África: Que papel vai desempenhar no meio disto tudo?

DD: A minha confiança é que nós não deixemos que a situação volte ao normal. Mugabe tem de deixar o lugar da Presidência vago.

DW África: E em relação à possibilidade de o próprio Dumiso Dabengwa se tornar vice-presidente se houver um novo Governo?

DD: Com certeza que tenho capacidades para fazê-lo, mas apenas se ele [Mugabe] aceitar sair ou se for forçado a sair. Se as pessoas o forçarem a sair, eu não sei o que a União Africana e a SADC [Comunidade de Desenvolvimento da África Austral] vão pensar. Não sei se não vão referir-se a isso como um golpe de Estado.

União Africana condena intervenção militar no Zimbabué

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