Zimbabué: Norte-americana detida por insultos a Mugabe
Lusa | AP | tm
4 de novembro de 2017
Martha O'Donovan é acusada de subversão por alegadamente ter descrito Robert Mugabe na rede social Twitter como um "homem doente". A ofensa pode levar até 20 anos de prisão.
Publicidade
Uma cidadã norte-americana foi detida nesta sexta-feira (03.11) pela polícia do Zimbabué por alegadamente ter insultado o Presidente do país, Robert Mugabe.
Os advogados da jovem de 25 anos afirmam que a ação é ilegal porque a polícia não explicou os motivos para a detenção quando Martha O'Donovan foi retirada da sua casa, na capital, Harare, na manhã de sexta-feira. O oficial de justiça, responsável pela operação, foi questionado em tribunal.
O'Donovan é acusada de veicular uma publicação na rede social Twitter em que descrevia Mugabe, de 93 anos, como um "homem doente". A publicação terá incluído uma ilustração do chefe de Estado zimbabueano com um cateter.
A detenção por subversão pode durar até 20 anos de prisão. O'Donovan também é acusada de minar a autoridade e insultar o Presidente. Por sua vez, a cidadã norte-americana diz que as alegações são "sem fundamento e mal-intencionadas".
Ativista dos média
A cidadã dos Estados Unidos, formada pela Universidade de Nova Iorque, apresenta-se como gestora da Magamba TV, além de "ativista dos média". No início deste ano, apresentou uma palestra numa conferência de cultura digital com o título "Como os zimbabueanos se rebelam online".
A organização Advogados do Zimbabué para os Direitos Humanos afirma que representa atualmente mais de 200 pessoas que se encontram nas mesmas circunstâncias da cidadã norte-americana. Todas são acusadas de insultos a Robert Mugabe, que é considerado o chefe de Estado há mais tempo no poder nas últimas décadas.
"Esta detenção marca o início de um novo e assustador capítulo para a liberdade de expressão no Zimbabué. O campo de batalha, agora, são as redes sociais", disse o membro da Amnistia Internacional Muleya Mwananyanda. Segundo a organização de defesa dos direitos humanos, as autoridades do Zimbabué já seguiam as publicações da cidadã norte-americana no Twitter.
"Novo ministro"
Em outubro, Mugabe nomeou um novo ministro para a Cibersegurança, medida criticada por ativistas, que consideram a decisão como mais um meio para calar os comentários da população nas redes sociais.
No ano passado, o Zimbabué foi abalado pela maior onda protestos contra o Governo. A frustração está a crescer à medida que a economia colapsa. Ainda assim, o Presidente Robert Mugabe, no poder desde 1980, candidata-se às próximas eleições, previstas para 2018.
Protestos no Zimbabué podem trazer mudanças?
Há cada vez mais zimbabueanos a protestar nas redes sociais e a ir para as ruas. Conhecido em tempos como o celeiro de África, o país enfrenta agora graves problemas económicos. Os manifestantes pedem uma nova liderança.
Foto: Getty Images/AFP/Z. Auntony
Contra a fome
Centenas de mulheres saíram às ruas de Bulawayo, a segunda maior cidade do Zimbabué, a 16 de julho. Levavam na mão tachos e panelas em que batiam com colheres de pau para denunciar as dificuldades económicas e fome no país. "Estamos a aquecer ainda mais a panela que já está a ferver. Vamos aquecer a panela até que Mugabe saia", cantavam as mulheres da campanha #BeatThePot (#BateOTacho).
Foto: Getty Images/AFP/Z. Auntony
O pastor e a bandeira
Em abril de 2016, o pastor Evan Mawarire lançou a campanha #ThisFlag (#EstaBandeira) nas redes sociais, exigindo ao Presidente Robert Mugabe que agisse contra a corrupção no Governo. Mawarire convocou para 6 de julho uma paralisação nacional contra as dificuldades económicas - a maioria dos zimbabueanos ficou em casa; na capital, a maior parte das empresas e os bancos estrangeiros não abriram.
Foto: picture-alliance/AP Photo/T.Mukwazhi
Protestos dos taxistas
A 4 de julho, taxistas e condutores de transportes semi-coletivos de passageiros protestaram contra os abusos da polícia. Muitos jovens não conseguem encontrar emprego e, por isso, ganham a vida a transportar passageiros. Mas os motoristas queixam-se dos vários bloqueios policiais na estrada, que, segundo eles, servem para os agentes extorquirem dinheiro a quem por ali passa.
Foto: Getty Images/AFP/J. Njikizana
"Mugabe tem de sair"
Sobe a pressão para o Presidente Mugabe abandonar o cargo, devido à grave crise económica que o país atravessa. Há cada vez mais zimbabueanos descontentes com a alta taxa de desemprego, a corrupção no Governo e a falta de dinheiro, que faz com que as pessoas tenham de esperar horas a fio nos bancos para fazer um levantamento - e só podem levantar 50 dólares por dia (45 euros) na caixa automática.
Foto: Getty Images/AFP/J. Njikizana
Mugabe não quer sair
Robert Mugabe tem mandado as forças de segurança abafar as vozes críticas desde que está no poder, há 36 anos. E continua a não querer deixar a Presidência, apesar de aumentarem os pedidos para que se demita face à crise económica. Mugabe mantém tensas relações com o Ocidente, e os seus aliados asiáticos, como a China e Singapura, não estão dispostos a oferecer a ajuda que o país necessita.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Ufumeli
Uma economia estilhaçada
Os cofres do Zimbabué estão virtualmente vazios. Os preços dos produtos aumentaram com a seca no país e a economia ficou ainda mais fragilizada. Do Ocidente chega pouca ajuda, depois das sanções à liderança política do país devido a fraude eleitoral e violações dos direitos humanos.
Foto: AFP/Getty Images
Instituições financeiras relutantes
O Zimbabué não consegue obter nenhum empréstimo no estrangeiro e tenta devolver os 1,8 mil milhões de dólares em atraso ao Fundo Monetário Internacional, Banco Africano de Desenvolvimento e Banco Mundial, para conseguir desbloquear novos financiamentos. Para isso, o Executivo de Mugabe terá de resolver os problemas relacionados com a governação e transparência e levar a cabo reformas económicas.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Lo Scalzo
Sem fim à vista
Hoje em dia, o Zimbabué já não é o celeiro de África, como foi considerado em tempos. A seca prolongou-se e as colheitas foram más. Agora, são esperados novos protestos. Na última campanha eleitoral, Mugabe prometeu dois milhões de empregos aos jovens licenciados. A promessa continua por cumprir.