Zimbabué: Partido de Tsvangirai cada vez mais dividido
mjp | Privilege Musvanhiri | Reuters | Lusa
21 de fevereiro de 2018
A morte do líder da oposição Morgan Tsvangirai exacerbou as divisões internas no Movimento para a Mudança Democrática. A poucos meses das eleições, muitos zimbabueanos estão preocupados com o vazio na oposição.
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Milhares de pessoas assistiram esta terça-feira (20.02) ao funeral de Morgan Tsvangirai, que morreu há uma semana (14.02), vítima de cancro, aos 65 anos. Nas cerimónias fúnebres do adversário histórico do regime do ex-Presidente Robert Mugabe, ficaram claras as divisões no Movimento para a Mudança Democrática (MDC). Além de vaias a dois dirigentes que reclamam a sucessão de Tsvangirai, o funeral foi interrompido por confrontos entre diferentes facções do partido, segundo noticiou o jornal online Zimbabwean Times.
Porém, numa breve declaração aos jornalistas, o líder interno do MDC, Nelson Chamisa, garantiu que o partido "está unido" em torno da direção. Durante a cerimónia em Buhera, aldeia natal de Morgan Tsvangirai, Chamisa sublinhou o legado do líder do partido. "O carácter de humildade, do trabalho conjunto, uma visão inspirada pelo amor. Esse é o seu legado", sublinhou. "Ninguém vai derrotá-lo, até Robert Mugabe falhou. Mugabe não conseguiu planear a sucessão no seu partido. Tsvangirai planeou a sua sucessão."
Vazio na oposição
Com a morte do líder do MDC, muitos zimbabueanos estão preocupados com o vazio na oposição a apenas alguns meses das eleições. Nelson Chamisa foi escolhido para chefiar o partido de Tsvangirai nos próximos 12 meses, mas dois outros responsáveis partidários, Thokozani Khupe, e o anterior presidente da câmara de Harare Elias Mudzuri, também querem liderar o Movimento para a Mudança Democrática.
Zimbabué: Partido de Tsvangirai cada vez mais dividido
Para o analista político Alexander Rusero, as divisões internas no MDC são um sintoma da incapacidade dos líderes africanos para elegerem sucessores. "A morte de Tsvangirai nesta altura crítica pode traduzir-se num vazio temporário de políticas credíveis da oposição capazes de fazer frente ao ZANU-PF", afirma. "A sua morte, especialmente numa altura em que se tentava formar uma aliança na oposição, é um duro golpe. Não há nenhuma figura que se compare ao que Tsvangirai significava em termos de princípios, coerência e carisma", conclui o analista.
As próximas eleições gerais no Zimbabué ainda não têm data definida, havendo propostas para julho e agosto. Sem Robert Mugabe, afastado da Presidência em novembro, após 37 anos no poder, o partido ZANU-PF e o Presidente Emmerson Mnangagwa prometem realizar eleições livres, justas e transparentes.
"Choramos a morte de um herói"
Presentes no funeral estiveram também os líderes da oposição de outros países africanos, como Raila Odinga, do Quénia, e o representante da Aliança Democrática sul-africana Moeletsi Mbeki. Odinga lembrou Tsvangirai como um símbolo da luta pela independência. "Choramos a morte de um herói. O Zimbabué e África perderam um dos baluartes da luta pela emancipação e pela mudança democrática em África", declarou.
Morgan Tsvangirai foi também lembrado pelos seus rivais históricos do ZANU-PF, o partido no poder, pelo seu trabalho para garantir o sucesso da democracia multi-partidária no Zimbabué. O presidente do Parlamento, Jacob Mudenda, marcou presença nas cerimónias fúnebres em representação do Governo. "Tsvangirai é um ícone da democracia. Ninguém lhe pode tirar este estatuto", reconheceu.
Família Mugabe: 37 anos de luxo e ostentação
Enquanto Robert Mugabe liderou o Zimbabué, não foi uma preocupação da sua família esconder o luxo em que vivia. Num país em que parte da população é pobre, a família do Presidente exibiu, durante anos, uma vida faustosa.
Foto: Getty Images/M.Safodien
Fortuna de um bilião
Estima o The Guardian que a fortuna de Mugabe deverá rondar um bilião de euros, espalhados, entre outros, em contas secretas na Suiça e Bahamas. Só a sua mansão, localizada a norte de Harare, está avaliada em cerca de oito milhões de euros. Um valor que um cidadão comum no Zimbabué só conseguiria pagar se trabalhasse cerca de 3.825 anos seguidos sem gastar um centavo.
Foto: Getty Images
Seis pessoas, 25 quartos
Desenhada por arquitetos chineses, a mansão “Blue Roof”- com este nome por causa dos azulejos azuis do telhado importados da China - tem 25 quartos. Se cada elemento da família tiver um quarto - Robert, Grace, os três filhos do casal e o filho do primeiro casamento de Grace - sobrarão ainda 19. A casa tem ainda lagos, monitores panorâmicos, cadeiras de veludo e camas em estilo monárquico.
Foto: Getty Images/J.Njikizana
Outras propriedades
Sabe-se que o casal possui ainda propriedades na Malásia, Singapura e Dubai . Em 2009, diz o Sunday Times, Robert e Grace Mugabe adquiriram uma outra casa num bairro de luxo em Hong Kong, cidade onde estudou a sua filha Bona, por 4,5 milhões de euros. Na mesma altura, "Dis Grace", como também é chamada pelos zimbabueanos, terá gasto mais de 60 mil euros em estátuas de mármore do Vietname.
Foto: picture-alliance/dpa/Ym Yik
Casamento extravagante
Robert e Grace Mugabe deram o nó em agosto de 1996, quatro anos após a morte da primeira esposa do presidente do Zimbabué, Sally, ter falecido. O casamento custou um milhão de dólares e contou com 40 mil convidados. Na imprensa local, falou-se no “casamento do século”. Para assinalar o 20º aniversário de casamento, Grace terá comprado um anel de diamantes por 1,15 milhões de euros.
Foto: Getty Images/O.Anderson
"Gucci Grace"
Embora quisesse ser notícia pelo trabalho social que desenvolvia no Zimbabué, a agora ex primeira-dama, apelidada também de "Gucci Grace" pela sua futilidade, era criticada pelos seus gastos pessoais com objetos de luxo. Grace Mugabe, 40 anos mais nova que Robert Mugabe, não escondia as suas roupas, sapatos e jóias de marcas de luxo.
Foto: Getty Images/Z.Auntony
Às compras pela Europa...
Diz o The Guardian que a marca favorita de sapatos de Grace é a Ferragamo. Ao todo, o seu armário, contará com mais de três mil pares de sapatos. Em 2003, o Daily Telegraph deu conta que Grace gastou, numa só viagem a Paris, cerca de 63 mil euros. Já em Londres, a primeira-dama terá gasto 45 mil. Até 2004, Grace terá retirado do Banco Central do Zimbabué mais de cinco milhões de euros.
Foto: Getty Images/J.Delay
Luxo “hereditário”
O gosto por gastar é algo que Grace parece ter incutido nos seus filhos. Só o casamento de Bona (na foto) custou mais de três milhões de euros. Já Robert Jr. e Bellarmine Chatunga, os outros dois filhos do casal, enquanto viveram no Dubai, estiveram instalados num apartamento que tinha uma renda mensal de cerca de 30 mil euros. Já na África do Sul, pagavam cerca de 4,5 mil.
Foto: Getty Images/R.Rahman
Filhos não escondem riqueza
Este ano, o filho mais novo de Mugabe publicou um vídeo onde derramava champanhe Armand de Brignac em cima do seu relógio de luxo. Dias antes, diz o The Guardian, o jovem postou uma fotografia com a legenda “51 mil euros no pulso quando o seu pai comanda o país”. A imprensa local não deixou também passar em branco a excentricidade do enteado de Mugabe, que importou dois luxuosos Rolls-Royce.
Foto: Rolls-Royce
"Gucci Grace" em tribunal
Recentemente “DisGrace” travou uma guerra no tribunal com um negociante de diamantes libanês. Grace Mugabe afirma ter pago cerca de 858 mil euros por um diamante de 100 quilates que não recebeu.
Foto: dapd
Festas de anos milionárias
As festas de anos de Mugabe já eram uma tradição. Ano após ano, em fevereiro, repetiam-se as notícias relacionadas com as suas extravagâncias. No seu 85º aniversário, por exemplo, foram encomendadas duas mil garrafas de champanhe Moet & Chandon e 400 doses de caviar. Já por altura dos seus 91 anos, Mugabe gastou cerca de um milhão de dólares na festa, que teve lugar num hotel de cinco estrelas.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Ufumeli
Na mira do “Wikileaks”
Em 2010, as informação reveladas pelo Wikileaks vieram dar razão aos zimbabueanos que criticavam os luxos da família Mugabe. Os documentos divulgados fizeram referência ao envolvimento de elites e altos funcionários do governo do Zimbabué em negócios de diamantes. Um dos nomes citados foi precisamente o de Grace Mugabe.