Zimbabué: Polícia reprime manifestação por eleições justas
Columbus Mavhunga (Harare) | gs
13 de julho de 2017
Forças de segurança usaram gás lacrimogéneo e canhões de água para dispersar protesto contra os centros de registo eleitoral, acusados de favorecer o Presidente Robert Mugabe.
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Os manifestantes saíram à rua na capital do Zimbabué, Harare, esta quarta-feira (13.07), exigindo justiça nas eleições previstas para julho de 2018. O Movimento Democrático para a Mudança (MDC), partido da oposição, convocou a manifestação para protestar contra os centros de registo eleitoral, que acusa de favorecerem o Presidente Robert Mugabe.
A manifestação foi convocada depois de a Comissão Eleitoral do Zimbabué ter anunciado que não vai registar cidadãos que vivem fora do Zimbabué e aqueles que, vivendo no país, não têm comprovativo de residência.
A polícia tentou dispersar os manifestantes com gás lacrimogéneo e canhões de água, mas muitos não arredaram pé. Foi o caso de Chris Rueben, que apela ao respeito dos direitos dos cidadãos. "Vamos ter eleições em breve, mas não me consegui registar como eleitor”, conta Rueben, que se mostra preocupado com a possibilidade de "a comissão não conseguir registar toda a gente em seis meses”.
O manifestante não pode ser registado porque lhe falta o comprovativo de residência. Para obter o documento, qualquer cidadão zimbabuano tem de ter uma propriedade em seu nome. E Rueben não tem. Quer trabalhar como advogado, "mas não há empregos no país”, lamenta.
CNE reencaminha críticas para os partidos
13.07.17 Protestos no Zimbabue - MP3-Mono
Em reação à manifestação, a presidente da Comissão Eleitoral, Rita Makarau, afirma que a comissão não decide os critérios de registo dos eleitores e frisa que "o objetivo da CNE é inscrever tantos eleitores quanto for possível para 2018”.
"Na verdade, não é a comissão que determina quem deve votar. Reunimo-nos com os partidos políticos com representação no Parlamento. Remetemos o problema para eles: são os deputados que devem fazer leis apropriadas”, explica Rita Makarau, sublinhando que o papel da comissão "é apenas implementar a lei”.
"Remetemos isso para os partidos políticos, particularmente aqueles com assento parlamentar, ZANU-PF, MDC-T e MDC”, afirma a presidente da comissão.
Já no passado, a comissão eleitoral foi acusada pela oposição de favorecer o Presidente Robert Mugabe. No poder desde a independência do Zimbabué, em 1980, Mugabe, de 93 anos, voltará a ser o candidato do ZANU-PF para as eleições de 2018. Atualmente, encontra-se em Singapura, por motivos de saúde.
Enquanto o seu partido está dividido por rivalidades sobre a sucessão de Mugabe, as forças da oposição estão em negociações a fim de se unirem em torno de um único candidato às eleições de 2018.
Protestos no Zimbabué podem trazer mudanças?
Há cada vez mais zimbabueanos a protestar nas redes sociais e a ir para as ruas. Conhecido em tempos como o celeiro de África, o país enfrenta agora graves problemas económicos. Os manifestantes pedem uma nova liderança.
Foto: Getty Images/AFP/Z. Auntony
Contra a fome
Centenas de mulheres saíram às ruas de Bulawayo, a segunda maior cidade do Zimbabué, a 16 de julho. Levavam na mão tachos e panelas em que batiam com colheres de pau para denunciar as dificuldades económicas e fome no país. "Estamos a aquecer ainda mais a panela que já está a ferver. Vamos aquecer a panela até que Mugabe saia", cantavam as mulheres da campanha #BeatThePot (#BateOTacho).
Foto: Getty Images/AFP/Z. Auntony
O pastor e a bandeira
Em abril de 2016, o pastor Evan Mawarire lançou a campanha #ThisFlag (#EstaBandeira) nas redes sociais, exigindo ao Presidente Robert Mugabe que agisse contra a corrupção no Governo. Mawarire convocou para 6 de julho uma paralisação nacional contra as dificuldades económicas - a maioria dos zimbabueanos ficou em casa; na capital, a maior parte das empresas e os bancos estrangeiros não abriram.
Foto: picture-alliance/AP Photo/T.Mukwazhi
Protestos dos taxistas
A 4 de julho, taxistas e condutores de transportes semi-coletivos de passageiros protestaram contra os abusos da polícia. Muitos jovens não conseguem encontrar emprego e, por isso, ganham a vida a transportar passageiros. Mas os motoristas queixam-se dos vários bloqueios policiais na estrada, que, segundo eles, servem para os agentes extorquirem dinheiro a quem por ali passa.
Foto: Getty Images/AFP/J. Njikizana
"Mugabe tem de sair"
Sobe a pressão para o Presidente Mugabe abandonar o cargo, devido à grave crise económica que o país atravessa. Há cada vez mais zimbabueanos descontentes com a alta taxa de desemprego, a corrupção no Governo e a falta de dinheiro, que faz com que as pessoas tenham de esperar horas a fio nos bancos para fazer um levantamento - e só podem levantar 50 dólares por dia (45 euros) na caixa automática.
Foto: Getty Images/AFP/J. Njikizana
Mugabe não quer sair
Robert Mugabe tem mandado as forças de segurança abafar as vozes críticas desde que está no poder, há 36 anos. E continua a não querer deixar a Presidência, apesar de aumentarem os pedidos para que se demita face à crise económica. Mugabe mantém tensas relações com o Ocidente, e os seus aliados asiáticos, como a China e Singapura, não estão dispostos a oferecer a ajuda que o país necessita.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Ufumeli
Uma economia estilhaçada
Os cofres do Zimbabué estão virtualmente vazios. Os preços dos produtos aumentaram com a seca no país e a economia ficou ainda mais fragilizada. Do Ocidente chega pouca ajuda, depois das sanções à liderança política do país devido a fraude eleitoral e violações dos direitos humanos.
Foto: AFP/Getty Images
Instituições financeiras relutantes
O Zimbabué não consegue obter nenhum empréstimo no estrangeiro e tenta devolver os 1,8 mil milhões de dólares em atraso ao Fundo Monetário Internacional, Banco Africano de Desenvolvimento e Banco Mundial, para conseguir desbloquear novos financiamentos. Para isso, o Executivo de Mugabe terá de resolver os problemas relacionados com a governação e transparência e levar a cabo reformas económicas.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Lo Scalzo
Sem fim à vista
Hoje em dia, o Zimbabué já não é o celeiro de África, como foi considerado em tempos. A seca prolongou-se e as colheitas foram más. Agora, são esperados novos protestos. Na última campanha eleitoral, Mugabe prometeu dois milhões de empregos aos jovens licenciados. A promessa continua por cumprir.