Zimbabué: Um ano turbulento para o Presidente Mnangagwa
Privilege Musvanhiri | bd
30 de julho de 2019
O Zimbabué enfrenta a maior crise económica das últimas décadas, sob a presidência de Emmerson Mnangagwa. Cidadãos estão indignados, apesar de o chefe de Estado prometer melhorias se conseguir implementar reformas.
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Um ano após o fim da era do ex-Presidente Robert Mugabe, o custo de vida disparou e os zimbabueanos deparam-se com a pior crise energética dos últimos tempos. Cidades como Harare e Mutare quase não têm iluminação pública.
"Tivemos uma pequena mudança, mas a pobreza está a aumentar no Zimbabué. Os preços de bens e serviços estão a aumentar constantemente e os preços dos combustíveis continuam altos", conta Hayden Sibanda, de 28 anos.
Tal como muitos jovens, o ajudante de motorista contava com melhores perspetivas económicas quando o Presidente Emmerson Mnangagwa foi eleito há um ano. Agora, o jovem que luta pela sobrevivência da sua família está desiludido com a situação atual.
Os apagões de 18 horas por dia afetaram severamente as pequenas indústrias e algumas empresas recorrem aos turnos noturnos para trabalhar durante as cinco horas em que o Estado consegue fornecer energia elétrica.
A crise da energia elétrica está a ter impacto nas atividades económicas, que estão a ressentir-se das constantes restrições no fornecimento de energia nos últimos tempos.
A caminho da hiperinflação
O Zimbabué caminha para uma hiperinflação, que ronda os 175%, e corre o risco de regressar às condições de 2008, quando o país registou a mais alta taxa do ano em todo o mundo. Durante os últimos 12 meses tiveram lugar no país várias mudanças, sem um estudo prévio do mercado. Uma dessas decisões foi a proibição do uso do dólar americano e de outras moedas internacionais no país.
Zimbabué: Um ano turbulento para o Presidente Mnangagwa
O analista económico, Prosper Chitambara, fala em falta de políticas públicas consistentes viradas para a coesão social. "O Governo tem experimentado uma série de medidas políticas. Trocam de medidas sem eliminar obstáculos que impedem a implementação de políticas estruturais. A questão do diálogo é muito importante, tendo em conta que o Zimbabué tem uma sociedade altamente dividida", lembra.
Embora se registem melhorias no que concerne à liberdade de expressão e outras, não há progressos nas condições de vida das populações. "Não há nenhum investidor importante ou país sério que possa acreditar em Mnangagwa. Os próprios cidadãos - quase metade da população - não acreditam nele", afirma o analista político Alexander Rusero, que sugere a restauração da confiança política a nível nacional e internacional.
"O que Mnangagwa precisa desesperadamente é de convergência nacional e de aproximação com a oposição, principalmente com o Nelson Chamisa, que, por acaso, é um protagonista político crítico nesta época", defende ainda o especialista.
O Banco Mundial prevê para o próximo ano um crescimento económico de menos de 3%, o menor da África Austral. A administração de Emmerson Mnangagwa pede paciência à população, afirmando que as reformas institucionais, em implementação, terão resultados positivos muito em breve.
Família Mugabe: 37 anos de luxo e ostentação
Enquanto Robert Mugabe liderou o Zimbabué, não foi uma preocupação da sua família esconder o luxo em que vivia. Num país em que parte da população é pobre, a família do Presidente exibiu, durante anos, uma vida faustosa.
Foto: Getty Images/M.Safodien
Fortuna de um bilião
Estima o The Guardian que a fortuna de Mugabe deverá rondar um bilião de euros, espalhados, entre outros, em contas secretas na Suiça e Bahamas. Só a sua mansão, localizada a norte de Harare, está avaliada em cerca de oito milhões de euros. Um valor que um cidadão comum no Zimbabué só conseguiria pagar se trabalhasse cerca de 3.825 anos seguidos sem gastar um centavo.
Foto: Getty Images
Seis pessoas, 25 quartos
Desenhada por arquitetos chineses, a mansão “Blue Roof”- com este nome por causa dos azulejos azuis do telhado importados da China - tem 25 quartos. Se cada elemento da família tiver um quarto - Robert, Grace, os três filhos do casal e o filho do primeiro casamento de Grace - sobrarão ainda 19. A casa tem ainda lagos, monitores panorâmicos, cadeiras de veludo e camas em estilo monárquico.
Foto: Getty Images/J.Njikizana
Outras propriedades
Sabe-se que o casal possui ainda propriedades na Malásia, Singapura e Dubai . Em 2009, diz o Sunday Times, Robert e Grace Mugabe adquiriram uma outra casa num bairro de luxo em Hong Kong, cidade onde estudou a sua filha Bona, por 4,5 milhões de euros. Na mesma altura, "Dis Grace", como também é chamada pelos zimbabueanos, terá gasto mais de 60 mil euros em estátuas de mármore do Vietname.
Foto: picture-alliance/dpa/Ym Yik
Casamento extravagante
Robert e Grace Mugabe deram o nó em agosto de 1996, quatro anos após a morte da primeira esposa do presidente do Zimbabué, Sally, ter falecido. O casamento custou um milhão de dólares e contou com 40 mil convidados. Na imprensa local, falou-se no “casamento do século”. Para assinalar o 20º aniversário de casamento, Grace terá comprado um anel de diamantes por 1,15 milhões de euros.
Foto: Getty Images/O.Anderson
"Gucci Grace"
Embora quisesse ser notícia pelo trabalho social que desenvolvia no Zimbabué, a agora ex primeira-dama, apelidada também de "Gucci Grace" pela sua futilidade, era criticada pelos seus gastos pessoais com objetos de luxo. Grace Mugabe, 40 anos mais nova que Robert Mugabe, não escondia as suas roupas, sapatos e jóias de marcas de luxo.
Foto: Getty Images/Z.Auntony
Às compras pela Europa...
Diz o The Guardian que a marca favorita de sapatos de Grace é a Ferragamo. Ao todo, o seu armário, contará com mais de três mil pares de sapatos. Em 2003, o Daily Telegraph deu conta que Grace gastou, numa só viagem a Paris, cerca de 63 mil euros. Já em Londres, a primeira-dama terá gasto 45 mil. Até 2004, Grace terá retirado do Banco Central do Zimbabué mais de cinco milhões de euros.
Foto: Getty Images/J.Delay
Luxo “hereditário”
O gosto por gastar é algo que Grace parece ter incutido nos seus filhos. Só o casamento de Bona (na foto) custou mais de três milhões de euros. Já Robert Jr. e Bellarmine Chatunga, os outros dois filhos do casal, enquanto viveram no Dubai, estiveram instalados num apartamento que tinha uma renda mensal de cerca de 30 mil euros. Já na África do Sul, pagavam cerca de 4,5 mil.
Foto: Getty Images/R.Rahman
Filhos não escondem riqueza
Este ano, o filho mais novo de Mugabe publicou um vídeo onde derramava champanhe Armand de Brignac em cima do seu relógio de luxo. Dias antes, diz o The Guardian, o jovem postou uma fotografia com a legenda “51 mil euros no pulso quando o seu pai comanda o país”. A imprensa local não deixou também passar em branco a excentricidade do enteado de Mugabe, que importou dois luxuosos Rolls-Royce.
Foto: Rolls-Royce
"Gucci Grace" em tribunal
Recentemente “DisGrace” travou uma guerra no tribunal com um negociante de diamantes libanês. Grace Mugabe afirma ter pago cerca de 858 mil euros por um diamante de 100 quilates que não recebeu.
Foto: dapd
Festas de anos milionárias
As festas de anos de Mugabe já eram uma tradição. Ano após ano, em fevereiro, repetiam-se as notícias relacionadas com as suas extravagâncias. No seu 85º aniversário, por exemplo, foram encomendadas duas mil garrafas de champanhe Moet & Chandon e 400 doses de caviar. Já por altura dos seus 91 anos, Mugabe gastou cerca de um milhão de dólares na festa, que teve lugar num hotel de cinco estrelas.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Ufumeli
Na mira do “Wikileaks”
Em 2010, as informação reveladas pelo Wikileaks vieram dar razão aos zimbabueanos que criticavam os luxos da família Mugabe. Os documentos divulgados fizeram referência ao envolvimento de elites e altos funcionários do governo do Zimbabué em negócios de diamantes. Um dos nomes citados foi precisamente o de Grace Mugabe.