Ocupação de parte da Fazenda Farfell, uma das mais lucrativas do país, gera impactos negativos na produção e arrisca afetar mais de 500 postos de trabalho. Proprietário trava uma batalha sem fim com a Justiça.
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A reforma agrária é um tema de discussão perene no Zimbabué. Em 2000, o então Presidente Robert Mugabe começou a expropriar agricultores brancos, e o setor agrário sofreu um grave revés. Dezanove anos mais tarde, os problemas continuam. Recentemente, uma fazenda de café, orquídeas e abacate, administrada com sucesso, foi parcialmente ocupada.
No centro de embalagem em Chipinge, no leste do Zimbabué, reina grande azáfama. A Fazenda Farfell é uma das poucas unidades de produção lucrativas do país. Aqui, são cultivados abacates, café arábica, nozes de macadâmia e orquídeas. A quinta pertence a Richard Le Vieux, que diz estar completamente farto.
Ocupações de fazendas no Zimbabué: um problema sem fim
"O que está a acontecer aqui é lamentável. Eu próprio me tornei um alvo, o que é mau para a nossa imagem. É contraproducente para tudo o que a nova administração quer alcançar, nomeadamente, que o país avance depois do caos dos últimos 20 anos", afirma.
Há quatro meses que Le Vieux discute regularmente com os intrusos na sua fazenda na província de Manica. Ellen Gwaradzimba, ministra da administração regional, concedeu ao seu filho o direito de ocupar metade das terras da fazenda. Esse filho agora aparece regularmente, e o agricultor já teve que responder em tribunal por oito vezes em quatro meses, e isto como réu.
O porta-voz do Governo, Nick Mangwana, diz que não há razão nenhuma para tratar deste modo o fazendeiro. "A política do Governo é proteger os empresários. O que é produtivo também é protegido. A nossa política não é interromper a produção ou ocupar terras. Respeitamos os direitos de propriedade", sublinha.
Impacto negativo
No entanto, a ocupação já começou a ter consequências negativas. Os importadores de 50 países aguardam em vão pelos fornecimentos de café. Le Vieux está preocupado com os seus investimentos: a fábrica de embalagem de abacates custou mais de um milhão de dólares.
Ben Gilpin, da União dos Agricultores do Zimbabué, exige a intervenção do Governo. "É sempre uma má notícia quando a produção é interrompida. Os investidores retraem-se quando veem que estas coisas continuam a acontecer hoje", critica.
O Governo de Harare está também ciente de que se trata de salvar postos de trabalho. Num país onde o desemprego é de 90%, todos os empregos valem ouro. Na fazenda de Farfell trabalham 600 pessoas, entre elas, Leny Kambarami.
"Uma ocupação seria um duro golpe para mim. Tenho três filhos, deixaria de poder pagar as propinas da escola ou comprar comida. Não consigo imaginar a perda. Seria terrível", lamenta.
Apesar de o Governo central apoiar o fazendeiro, Le Vieux ainda não ganhou esta batalha. E não há solução à vista.
Zimbabueanos lutam por uma vida melhor em Moçambique
Com o país num processo de renovação política e económica, os "zimbas" procuram em solo moçambicano, um sustento de vida, criando pequenos negócios, sem nunca saber o dia de amanhã.
Foto: DW/B. Jequete
Autocarros do Zimbabué em todos os cantos
O Zimbabué foi um dos países que, outrora, foi até considerado como o celeiro da África Austral. Era difícil ver na província de Manica um zimbabueano ou uma viatura do Zimbabué, na altura em que o país estava estável. Mas, nos últimos anos, é frequente ver machimbombos, autocarros e carros a fazerem o trajeto Zimbabué-Moçambique e vice-versa.
Foto: DW/B. Jequete
Negócio para todas as idades
Devido à crise económica que se instalou na República do Zimbabué, crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos são "obrigados" a deambular pelas ruas da província moçambicana de Manica, em particular, e em todo o país a venderem algo, para ganhar algum dinheiro. Os zimbabueanos vendem todo tipo de produtos.
Foto: DW/B. Jequete
Fardos de roupa asseguram a vida dos zambabueanos
No dia a dia, os zimbabueanos estão na capital provincial de Manica, Chimoio, à procura de negócios, como os fardos de roupa ou de sapatos. Os fardos são embalados dentro de um saco, uma estratégia encontrada para não ser distinguido com facilidade na fronteira, visto que se trata de contrabando.
Foto: DW/B. Jequete
Crise gera empregos para alguns
Apesar da crise, os zimbaueanos constituem uma fonte de renda para alguns moçambicanos, que sobrevivem com o pouco que são oferecidos. Os moçambicanos servem de guias aos zimbabueanos, mostrando-lhes as lojas e bons fardos de roupa ou sapatos, e estabelecem contactos com os comerciantes. Outra atividade que os moçambicanos (guias) prestam aos zimbabueanos, é o câmbio de valores em meticais.
Foto: DW/B. Jequete
Taxistas também faturam
As lojas que vendem fardos de roupa usada em Chimoio, são concorridas pelos zimbabueanos, pois taxistas e os condutores de carrinhas acabam por abandonar a praça e acantonam-se nas imediações das lojas, visando fazer o carregamento ou transportar os chamados “zimbas” de um lado para o outro. Pode-se dizer, que o mercado moçambicano tem estado a ser invadido pelos zimbabueanos.
Foto: DW/B. Jequete
Compra de arroz é imperativo
O sofrimento em que os zimbabueanos têm estado a passar é doloroso, pois antes de adquirir o negócio, eles pelo menos têm de comprar um saco de 10 ou 25 quilos de arroz, e 5 litros de óleo, dois dos produtos mais caros no seu país. Posto isso, é muito difícil almoçar e jantar. Os “zimbas” só jantam se economizarem os alimentos.
Foto: DW/B. Jequete
Cargas e descargas garantidas
Há muitos contentores de fardos de roupa usada, que se descarregam diariamente, devido à muita procura. O negócio de venda de fardos de roupa usada, tem estado a ser rentável, pois antes dos problemas económicos no país vizinho, a venda deste produto era difícil, mas, atualmente, os somalis, ugandeses e outras nacionalidades, ocupam-se da venda destes fardos de roupa usada.
Foto: DW/B. Jequete
Moçambique - o refúgio
Alguns zimbabueanos, principalmente as senhoras, deslocam-se a Moçambique para comercializarem os seus produtos como djamo, doi, paloni, chips, pão de forma e outros produtos alimentares. As ruas da cidade de Chimoio estão inundadas de zimbabueanos. Este povo tem grande liberdade de circulação em todo o território moçambicano.
Foto: DW/B. Jequete
Consumidor final
A roupa usada adquirida em fardos na província de Manica, é vendida desta forma: A roupa é estendida no chão. Assim, os clientes apreciam e procuram com calma, artigo por artigo, roupas para os seus filhos, marido ou esposa. A roupa que era menosprezada pelos zimbabueanos nos tempos passados, é hoje, algo muito procurada por quase todos.
Foto: DW/B. Jequete
A esperança dos "Zimbas"
Aquando da destituição do Presidente Robert Mugabe, os zimbabueanos queriam dar um novo rumo ao país, quer a nível político, quer a nível económico. Convicto disso, o povo foi às urnas e elegeu Emmerson Mnangagwa, como novo Presidente do Zimbabué.
Foto: DW/B. Jequete
Abandono do mercado local
Alguns empresários e agricultores zimbabueanos abandonaram o mercado local e instalaram-se na província de Manica. Uma das empresas que se dedica à produção de sementes no distrito de Barué, é um empresário zimbabueano. O produto daquela empresa, é apreciado pelos camponeses moçambicanos.
Foto: DW/B. Jequete
Só com passaporte
Na fronteira de Machipanda, entre Moçambique e Zimbabué, existem postos de controlo, pois sem passaportes, as pessoas não podem viajar. Entretanto, alguns que não possuem este documento, optam por violar a fronteira. Quando isso acontece, os indivíduos apanhados a cometer esta ilegalidade são detidos. Mais tarde, são libertos mediante o pagamento de uma multa.
Foto: DW/B. Jequete
Qual o rumo do Zimbabué?
Os zimbabueanos estão a atravessar dificuldades extremas. Nesta foto, temos o exemplo disso. Nos autocarros que os transportam até Moçambique, trazem refrigerantes para vender e ganhar dinheiro para depois, fazerem as compras necessárias. O que sobra, vai para o custo do regresso.