O Zimbabué enfrenta uma crise económica grave. E o Governo teve uma ideia para salvar a economia: introduzir títulos de dinheiro, as 'bond notes'. Mas muitos zimbabueanos temem o pior.
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O plano do Executivo para introduzir as "bond notes" gerou uma nova onda de contestação no Zimbabué, que tem sido palco de protestos nos últimos meses.
Muitos cidadãos estão frustrados devido ao colapso económico do país. O Zimbabué tem um défice orçamental de centenas de milhões de euros e não consegue pagar atempadamente os salários dos funcionários públicos. Nos últimos anos, milhares de empresas foram obrigadas a fechar as portas.
A emissão das "bond notes" foi a resposta do regime do Presidente Robert Mugabe à crise. Os títulos de dinheiro substituem a moeda local, com a vantagem de não desvalorizarem no mercado interno. Segundo o Executivo, uma "bond note" será o equivalente a um dólar norte-americano. Mas as "bond notes" não podem ser trocadas nem valem absolutamente nada no estrangeiro. A população teme que a operação económica de nada sirva para travar a crise financeira.
22.11.2016 Zimbabué - MP3-Mono
"Nós não queremos usar estes títulos, porque são tão maus quanto os que foram introduzidos antes, quando tivemos escassez de dinheiro. Perdem todo o valor quando compramos no estrangeiro", afirmou uma zimbabueana.
Medo da hiperinflação
Os populares receiam uma repetição da impressão excessiva que desembocou numa hiperinflação, entre 2007 e 2009. As notas de 100 biliões de dólares zimbabueanos, por exemplo, ficaram famosas na altura. Face à desvalorização da moeda local, desde 2009 o país passou a usar o dólar norte-americano. Mas agora está sem reservas.
O Governo anunciou que as "bond notes" entrarão em circulação a partir de 30 de novembro, embora a data tenha sido sucessivamente protelada pelo executivo.
Robert Mugabe, de 92 anos, está na Presidência do Zimbabué há quase três décadas. A grave situação económica do país, causada em grande medida pela corrupção, ameaça a continuidade do líder. Mas Mugabe quer manter-se no poder, pretendendo concorrer às eleições de 2018, ainda que nos últimos meses tenha multiplicado esforços para evitar as tensões dentro do seu partido, o ZANU-PF.
Protestos no Zimbabué podem trazer mudanças?
Há cada vez mais zimbabueanos a protestar nas redes sociais e a ir para as ruas. Conhecido em tempos como o celeiro de África, o país enfrenta agora graves problemas económicos. Os manifestantes pedem uma nova liderança.
Foto: Getty Images/AFP/Z. Auntony
Contra a fome
Centenas de mulheres saíram às ruas de Bulawayo, a segunda maior cidade do Zimbabué, a 16 de julho. Levavam na mão tachos e panelas em que batiam com colheres de pau para denunciar as dificuldades económicas e fome no país. "Estamos a aquecer ainda mais a panela que já está a ferver. Vamos aquecer a panela até que Mugabe saia", cantavam as mulheres da campanha #BeatThePot (#BateOTacho).
Foto: Getty Images/AFP/Z. Auntony
O pastor e a bandeira
Em abril de 2016, o pastor Evan Mawarire lançou a campanha #ThisFlag (#EstaBandeira) nas redes sociais, exigindo ao Presidente Robert Mugabe que agisse contra a corrupção no Governo. Mawarire convocou para 6 de julho uma paralisação nacional contra as dificuldades económicas - a maioria dos zimbabueanos ficou em casa; na capital, a maior parte das empresas e os bancos estrangeiros não abriram.
Foto: picture-alliance/AP Photo/T.Mukwazhi
Protestos dos taxistas
A 4 de julho, taxistas e condutores de transportes semi-coletivos de passageiros protestaram contra os abusos da polícia. Muitos jovens não conseguem encontrar emprego e, por isso, ganham a vida a transportar passageiros. Mas os motoristas queixam-se dos vários bloqueios policiais na estrada, que, segundo eles, servem para os agentes extorquirem dinheiro a quem por ali passa.
Foto: Getty Images/AFP/J. Njikizana
"Mugabe tem de sair"
Sobe a pressão para o Presidente Mugabe abandonar o cargo, devido à grave crise económica que o país atravessa. Há cada vez mais zimbabueanos descontentes com a alta taxa de desemprego, a corrupção no Governo e a falta de dinheiro, que faz com que as pessoas tenham de esperar horas a fio nos bancos para fazer um levantamento - e só podem levantar 50 dólares por dia (45 euros) na caixa automática.
Foto: Getty Images/AFP/J. Njikizana
Mugabe não quer sair
Robert Mugabe tem mandado as forças de segurança abafar as vozes críticas desde que está no poder, há 36 anos. E continua a não querer deixar a Presidência, apesar de aumentarem os pedidos para que se demita face à crise económica. Mugabe mantém tensas relações com o Ocidente, e os seus aliados asiáticos, como a China e Singapura, não estão dispostos a oferecer a ajuda que o país necessita.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Ufumeli
Uma economia estilhaçada
Os cofres do Zimbabué estão virtualmente vazios. Os preços dos produtos aumentaram com a seca no país e a economia ficou ainda mais fragilizada. Do Ocidente chega pouca ajuda, depois das sanções à liderança política do país devido a fraude eleitoral e violações dos direitos humanos.
Foto: AFP/Getty Images
Instituições financeiras relutantes
O Zimbabué não consegue obter nenhum empréstimo no estrangeiro e tenta devolver os 1,8 mil milhões de dólares em atraso ao Fundo Monetário Internacional, Banco Africano de Desenvolvimento e Banco Mundial, para conseguir desbloquear novos financiamentos. Para isso, o Executivo de Mugabe terá de resolver os problemas relacionados com a governação e transparência e levar a cabo reformas económicas.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Lo Scalzo
Sem fim à vista
Hoje em dia, o Zimbabué já não é o celeiro de África, como foi considerado em tempos. A seca prolongou-se e as colheitas foram más. Agora, são esperados novos protestos. Na última campanha eleitoral, Mugabe prometeu dois milhões de empregos aos jovens licenciados. A promessa continua por cumprir.