Zona de Livre Comércio em África discutida em Davos
Malte Rohwer-Kahlmann | rl
25 de janeiro de 2019
Representantes de empresas e de organizações voltaram a debater o livre comércio em África, desta vez durante o Fórum Económico Mundial, em Davos, na Suíça. Defensores do projeto esperam aprová-lo ainda este ano.
Publicidade
A Zona de Livre Comércio em África voltou a ser tema de debate, desta vez, em Davos, na Suíça, por ocasião do Fórum Económico Mundial, que termina esta sexta-feira (25.01).
Durante o encontro, representantes de empresas e líderes de organizações não-governamentais voltaram a debruçar-se sobre o que significará para o continente africano este mercado comum, que tem como objetivo desenvolver as trocas comerciais entre os 55 Estados-membro da União Africana.
Tony Elumelu é empresário na Nigéria e é um dos que não duvida das vantagens da Zona de Livre Comércio para África. Isso mesmo que explicou à DW, à margem do Fórum Económico Mundial. "Se olharmos para outras partes do mundo, vemos o quanto o comércio intra-regional ajudou [os países]. Para nos desenvolvermos em África, devemos abraçar [o mercado comum]".
O desejo deste empresário pode estar perto de se tornar real. No ano passado, 49 Estados africanos assinaram o acordo para a criação da Zona de Livre Comércio Continental que, segundo a União Africana, deverá impulsionar o comércio dentro do continente em 52%.
Transformação das economias
Muitos dos defensores deste acordo, como é o caso de Akinwumi Adesina, presidente do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), esperam transformar as economias africanas numa escala sem precedentes, o que consequentemente atrairá mais investimento.
"África está aberta para negócios, as oportunidades estão lá. Quando as pessoas olham para este continente, pensam na população, na classe média, nas enormes oportunidades de investir além fronteiras. [Pensem] nas oportunidades de se investir num continente, cuja população será, até 2050, do mesmo tamanho da China e da Índia", disse Adesina.
Zona de Livre Comércio em África discutida em Davos
No entanto, e apesar das muitas vantagens, existem também desafios que terão de ser superados. Winifred Byanyima, chefe da Oxfam International, alerta os Governos para os desafios da globalização. Byanyima diz que em países ricos, as empresas mais ricas e pessoas mais ricas são as que beneficiam da liberalização do comércio, enquanto muitos são deixados de fora.
"Não é isso que queremos no nosso bloco", afirma Winifred Byanyima, que prossegue: "Por isso temos de definir o que queremos e o que consideramos ser o sucesso para o nosso continente. Acho que a medida mais importante será a qualidade dos empregos que serão criados para os nossos jovens e mulheres".
O acordo da Zona de Livre Comércio em África só deverá entrar em vigor quando 22 países o ratificarem. Neste momento, apenas sete, entre eles a Nigéria, ainda faltam assinar, o que para os defensores do mercado comum poderá querer dizer que esta será uma realidade já em 2019.
China em África: maldição ou benção?
A China quer mudar a sua imagem: de país explorador das matérias-primas africanas, para agente de desenvolvimento. Fazemos uma viagem pela história das relações sino-africanas.
Foto: AFP/Getty Images
Parceiros igualitários?
A China leva estradas asfaltadas, grandes estádios de futebol e internet de banda larga para África. Ao mesmo tempo, pede ao continente petróleo e outras matéria-primas. A China já é o maior parceiro comercial de África. Até 2020, o país pretende duplicar o volume de negócios para 400 mil milhões de dólares. Os críticos temem que haja apenas um vencedor nestes negócios: a China.
Foto: Getty Images
TAZARA: o primeiro grande projeto
A cooperação sino-africana começou nos anos 50 e 60. Como sinal da fraternidade socialista, a China financiou a construção de uma linha ferroviária que transportava o cobre da Zâmbia para a cidade portuária da Tanzânia, Dar es Salaam. O projeto baseava-se na amizade inter-étnica e no trabalho solidário. A ferrovia chamda TAZARA " Tanzania-Zambia Railway" funciona até aos dias de hoje.
Foto: cc-by-sa-Jon Harald Søby
Chegaram para fazer negócios
Com a estratégia "Go Global", na década de 90, o Governo chinês muda a sua política para África, começando a apoiar empresas do próprio país a fazerem negócios com o continente. O objetivo: proteger os recursos naturais estratégicos e promover o desenvolvimento económico da China. Ou seja, ter África como um parceiro de negócios e mercado para os bens de consumo chineses.
Foto: AP
Críticas do Ocidente
Com a nova política, a China garante para si campos de petróleo e as minas de metais preciosos, não tendo medo de trabalhar com regimes autoritários e corruptos. O país não é bem visto na Europa e nos Estados Unidos. A China só estaria interessada na exploração de recursos naturais, mas não no bem das pessoas, é a crítica do Ocidente.
Foto: picture-alliance/Tong jiang
Infraestruturas como moeda de troca
A China também faz negócios com o Presidente do Sudão, Omar al-Bashir, procurado pelo Tribunal Penal Internacional por genocídio. O país está a tornar-se o mais importante investidor na indústria de petróleo sudanês. Além disso, a empresa chinesa de petróleo estatal financia a construção da barragem de Merowe, no norte do Sudão.
Foto: picture-alliance/dpa
Oferta de 150 milhões de euros à União Africana
As boas relações com a África são bem pagas pela China. Em 2012, o país financiou a construção da sede da União Africana, em Adis Abeba. "A China vai ajudar os países africanos a ampliar a sua força e independência", disse o chefe da delegação chinesa na cerimónia de abertura.
Foto: Imago
Líder do mercado de telecomunicações
Duas empresas chinesas dominam o mercado africano de telecomunicações: a ZTE e a Huawei. Foi a essas empresas que Governos de todo o continente fizeram as suas grandes encomendas. Na Etiópia, a Huawei e a ZTE constroem uma rede de 3G para todo o país por 1,7 mil milhões de dólares. Na Tanzânia, empresas chinesas instalaram cerca de 10 mil quilómetros de cabos de fibra ótica.
Foto: AFP/Getty Images
Concorrentes desagradáveis
As esperanças de melhores oportunidades em África não atraem apenas as grandes empresas, mas também milhares de cidadãos comuns chineses . Eles abrem pequenas lojas onde vendem produtos chineses baratos: utensílios de cozinha, jóias, dispositivos elétricos. "Muitos comerciantes africanos não estão satisfeitos com a nova concorrência", diz o economista queniano David Owiro.
Foto: DW/J. Jaki
À espera de novos postos de trabalho
Seja no comércio de retalho ou na construção de estradas "os africanos raramente lucram com investimentos chineses. As empresas trazem os seus próprios trabalhadores", diz Owiro. Agora, na África do Sul, onde a China acaba de inaugurar uma fábrica de camiões, isso pode mudar. O Governo sul-africano elogia o projeto como um marco para a industrialização africana e espera novos postos de trabalho.
Foto: Imago
De exportador a agente de desenvolvimento?
O primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, ofereceu dois mil milhões de dólares para um fundo de desenvolvimento para África durante a sua visita ao primeiro-ministro da Etiópia, Hailemariam Desalegn, em maio de 2014. A liderança chinesa quer abrir um novo capítulo nas relações China-África, passando de país explorador das matérias-primas para agente de um desenvolvimento sustentável.
Foto: Reuters
Medo pela reputação
"A China teme pela sua reputação no mundo", diz Sun Yun do centro de pesquisa norte-americano "Brookings". As alegações nos média de que a China só estaria interessada nas matérias-primas de África levaram a esta mudança. O Governo publicou recentemente uma lista dos programas de ajuda ao desenvolvimento, que inclui 30 hospitais, 150 escolas, 105 projetos de energia e água renováveis.
Foto: AFP/Getty Images
O charme chinês
Para promover a sua missão em África, a China lançou uma grande campanha mediática. Os meios de comunicação do Governo para o estrangeiro focam claramente os negócios, África é retratada como o continente próspero. Algo que contrasta com décadas de cobertura negativa dos meios de comunicação ocidentais.