Zona de Livre Comércio em África: O maior mercado do mundo
rl | ck | AFP | Reuters | Lusa
22 de março de 2018
44 países africanos assinaram o acordo para a criação da Zona de Livre Comércio Continental, que não tem o apoio da Nigéria e da África do Sul. União Africana acredita que comércio intra-africano poderá aumentar em 60%.
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O acordo foi assinado esta quarta-feira (21.03), na cimeira extraordinária da União Africana (UA), que terminou esta quarta-feira em Kigali, a capital ruandesa. "Este acordo não é apenas um documento: tem importantes implicações económicas para a população africana", salientou a ministra dos Negócios Estrangeiros do Ruanda, Louise Mushikiwabo.
"Abrirá o mercado a 1,2 mil milhões de pessoas com a possibilidade de gerar grande riqueza para o continente, acelerando o investimento, diversificando a economia e aumentando o comércio", explicou.
No entanto, o emblemático projeto da UA, que está já a ser negociado desde 2015, não conta com o apoio de todos os países: 11 dos 55 membros da União Africana mostraram-se céticos em relação às vantagens do livre comércio no continente e não assinaram o acordo. Entre eles estão a Nigéria e a África do Sul, as duas maiores economias do continente.
Ceticismo nigeriano
O Presidente nigeriano, Muhammadu Buhari, que nem esteve presente na cimeira, disse que precisava de mais tempo para analisar o documento, após lhe terem chegado críticas de líderes empresariais e sindicatos do seu país.
Zona de Livre Comércio em África: O maior mercado do mundo
Sani Yan Daki, da Associação Nigeriana de Câmaras de Comércio, Indústria, Minas e Agricultura, é um dos que partilha o ceticismo de Buhari em relação à assinatura deste acordo.
"A Nigéria ainda é uma economia em desenvolvimento. Os países que estão a fazer pressão para a criação da Zona de Livre Comércio, como Marrocos, Egito ou Tunísia, são menores que a Nigéria em termos de recursos nacionais, mas em termos de desenvolvimento estão muito mais à frente", explica em entrevista à DW África.
Uma opinião que não é partilhada pelo economista Tope Fasua, que entende que a Nigéria devia assinar o acordo. "A Nigéria é considerada a maior economia de África. A Alemanha, a maior economia da União Europeia (UE), defende a criação de um mercado comum naquele continente. E a Nigéria devia fazer o mesmo em África", defende.
Maior mercado do mundo
"Como continente, no seu todo, a vantagem [deste acordo] é muito grande porque dá para reunir esforços" nas negociações com outros blocos comerciais, afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação moçambicano, José Pacheco, quem declarações à Rádio Moçambique. Entre os países africanos de língua portuguesa, apenas a Guiné-Bissau não assinou o acordo.
Apesar da assinatura do documento, desconhece-se quando será válido o acordo. O passo seguinte é a ratificação interna dos Estados signatários - serão necessárias pelo menos 22 confirmações para que entre em vigor. "A assinatura fará bem a África, mas apenas no papel, pois levará ainda muito tempo a entrar em vigor e vai encontrar ainda muitos contratempos", considerou o consultor nigeriano Sola Afolabi.
Se todos os 55 membros da UA concordassem com o acordo, o livre comércio no continente abrangeria 1,2 mil milhões de pessoas. A Zona de Livre Comércio Continental tem potencial para se constituir como o maior mercado do mundo: os 55 Estados-membros da UA representam um produto interno bruto (PIB) de 2.500 mil milhões de dólares (2.030 mil milhões de euros).
China em África: maldição ou benção?
A China quer mudar a sua imagem: de país explorador das matérias-primas africanas, para agente de desenvolvimento. Fazemos uma viagem pela história das relações sino-africanas.
Foto: AFP/Getty Images
Parceiros igualitários?
A China leva estradas asfaltadas, grandes estádios de futebol e internet de banda larga para África. Ao mesmo tempo, pede ao continente petróleo e outras matéria-primas. A China já é o maior parceiro comercial de África. Até 2020, o país pretende duplicar o volume de negócios para 400 mil milhões de dólares. Os críticos temem que haja apenas um vencedor nestes negócios: a China.
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TAZARA: o primeiro grande projeto
A cooperação sino-africana começou nos anos 50 e 60. Como sinal da fraternidade socialista, a China financiou a construção de uma linha ferroviária que transportava o cobre da Zâmbia para a cidade portuária da Tanzânia, Dar es Salaam. O projeto baseava-se na amizade inter-étnica e no trabalho solidário. A ferrovia chamda TAZARA " Tanzania-Zambia Railway" funciona até aos dias de hoje.
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Chegaram para fazer negócios
Com a estratégia "Go Global", na década de 90, o Governo chinês muda a sua política para África, começando a apoiar empresas do próprio país a fazerem negócios com o continente. O objetivo: proteger os recursos naturais estratégicos e promover o desenvolvimento económico da China. Ou seja, ter África como um parceiro de negócios e mercado para os bens de consumo chineses.
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Críticas do Ocidente
Com a nova política, a China garante para si campos de petróleo e as minas de metais preciosos, não tendo medo de trabalhar com regimes autoritários e corruptos. O país não é bem visto na Europa e nos Estados Unidos. A China só estaria interessada na exploração de recursos naturais, mas não no bem das pessoas, é a crítica do Ocidente.
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Infraestruturas como moeda de troca
A China também faz negócios com o Presidente do Sudão, Omar al-Bashir, procurado pelo Tribunal Penal Internacional por genocídio. O país está a tornar-se o mais importante investidor na indústria de petróleo sudanês. Além disso, a empresa chinesa de petróleo estatal financia a construção da barragem de Merowe, no norte do Sudão.
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Oferta de 150 milhões de euros à União Africana
As boas relações com a África são bem pagas pela China. Em 2012, o país financiou a construção da sede da União Africana, em Adis Abeba. "A China vai ajudar os países africanos a ampliar a sua força e independência", disse o chefe da delegação chinesa na cerimónia de abertura.
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Líder do mercado de telecomunicações
Duas empresas chinesas dominam o mercado africano de telecomunicações: a ZTE e a Huawei. Foi a essas empresas que Governos de todo o continente fizeram as suas grandes encomendas. Na Etiópia, a Huawei e a ZTE constroem uma rede de 3G para todo o país por 1,7 mil milhões de dólares. Na Tanzânia, empresas chinesas instalaram cerca de 10 mil quilómetros de cabos de fibra ótica.
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Concorrentes desagradáveis
As esperanças de melhores oportunidades em África não atraem apenas as grandes empresas, mas também milhares de cidadãos comuns chineses . Eles abrem pequenas lojas onde vendem produtos chineses baratos: utensílios de cozinha, jóias, dispositivos elétricos. "Muitos comerciantes africanos não estão satisfeitos com a nova concorrência", diz o economista queniano David Owiro.
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À espera de novos postos de trabalho
Seja no comércio de retalho ou na construção de estradas "os africanos raramente lucram com investimentos chineses. As empresas trazem os seus próprios trabalhadores", diz Owiro. Agora, na África do Sul, onde a China acaba de inaugurar uma fábrica de camiões, isso pode mudar. O Governo sul-africano elogia o projeto como um marco para a industrialização africana e espera novos postos de trabalho.
Foto: Imago
De exportador a agente de desenvolvimento?
O primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, ofereceu dois mil milhões de dólares para um fundo de desenvolvimento para África durante a sua visita ao primeiro-ministro da Etiópia, Hailemariam Desalegn, em maio de 2014. A liderança chinesa quer abrir um novo capítulo nas relações China-África, passando de país explorador das matérias-primas para agente de um desenvolvimento sustentável.
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Medo pela reputação
"A China teme pela sua reputação no mundo", diz Sun Yun do centro de pesquisa norte-americano "Brookings". As alegações nos média de que a China só estaria interessada nas matérias-primas de África levaram a esta mudança. O Governo publicou recentemente uma lista dos programas de ajuda ao desenvolvimento, que inclui 30 hospitais, 150 escolas, 105 projetos de energia e água renováveis.
Foto: AFP/Getty Images
O charme chinês
Para promover a sua missão em África, a China lançou uma grande campanha mediática. Os meios de comunicação do Governo para o estrangeiro focam claramente os negócios, África é retratada como o continente próspero. Algo que contrasta com décadas de cobertura negativa dos meios de comunicação ocidentais.