Em entrevista à DW, secretário-geral da Otan afirma que ameaças russas visam coagir Ocidente a interromper ajuda à Ucrânia. Stoltenberg alerta, contudo, que aliados precisam estar preparados para um ataque nuclear.
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Em entrevista à DW, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, afirmou que a aliança militar se mantém firme em seu apoio à Ucrânia e está preparada para todas as eventualidades, em meio a uma escalada da guerra.
Nas últimas semanas, a Rússia iniciou uma mobilização das tropas, anexou ilegalmente territórios ucranianos, ameaçou usar armas nucleares e fez uma série de bombardeios à infraestrutura civil na Ucrânia.
Em entrevista ao programa Conflict Zone nesta terça-feira (18/10), Stoltenberg avaliou esses desenvolvimentos como a maior escalada da guerra desde a invasão russa em fevereiro.
"Não vamos nos intimidar ou aceitar a chantagem da Rússia. Essa retórica nuclear, essas ameaças que vemos da Rússia visam, é claro, nos coagir, nos chantagear para pararmos de apoiar a Ucrânia", afirmou Stoltenberg.
Embora o secretário-geral tenha considerado baixo o risco de um ataque nuclear russo, ele disse que o Ocidente precisa estar preparado para tal. "A retórica nuclear do presidente Putin é perigosa, é imprudente, e, portanto, precisamos levar essa ameaça a sério", acrescentou.
A aliança militar está se preparando para todos os cenários com um exercício de capacidade de dissuasão nuclear que ocorrerá nesta semana. As manobras de rotina envolvem 60 aviões de 14 dos 30 países-membros da Otan.
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Ucrânia se prepara para o inverno
Com a aproximação do inverno, Moscou lançou uma série de bombardeios em estações de energia elétrica e infraestrutura civil na Ucrânia. Os ataques já deixaram parte do país sem luz e sem acesso a água potável.
Na avaliação de Stoltenberg, os bombardeios a alvos civis demonstram a brutalidade da guerra e destacam a importância de a Otan e seus parceiros continuarem fornecendo todo o apoio necessário à Ucrânia.
"Precisamos fazer mais agora", ressaltou. "Enquanto continuarmos vendo uma presença russa significante, precisamos garantir que vamos fornecer ajuda a longo prazo, pelo tempo e quantidades necessárias."
De acordo com Stoltenberg, desde o início da guerra em fevereiro, os aliados da Ucrânia têm enviado suprimentos com base nos estoques existentes. "Em algum momento não poderemos continuar assim. Precisamos agora aumentar nossa produção."
Ele contou ainda que os aliados se preparam para fornecer à Ucrânia suprimentos militares e civis de inverno, como tendas, geradores de energia e roupas quentes.
Aumento dos gastos da Otan
O secretário-geral destacou ainda que as capacidades de defesa da aliança militar estão em sua melhor forma, como não ocorria há tempos.
"O que vimos desde 2014 é o maior reforço no coletivo de defesa da Otan desde o fim da Guerra Fria. Pela primeira vez na história, temos um conflito na parte oriental da aliança, e tudo isso foi desencadeado pela anexação da Crimeia pela Rússia e o controle do Donbass. Então estávamos preparados para o que aconteceu em fevereiro."
No fim da entrevista, Stoltenberg fez um apelo ao presidente russo, Vladimir Putin, para que ele encerre a guerra. Ele afirmou que o conflito começou com Putin e que ele é peça fundamental para acabar com essa situação. "Se Putin e a Rússia pararem de lutar, haverá paz."
Ataques da Rússia a alvos civis na Ucrânia
Vladimir Putin nega que o exército russo esteja atacando alvos civis na guerra na Ucrânia. Mas os fatos o contradizem, como mostra esta galeria de fotos, que nem de longe abrange todos os ataques russos.
Foto: Maksim Levin/REUTERS
Mais de 5.500 civis mortos
O presidente russo, Vladimir Putin, declarou no fim de junho: "O exército russo não está atacando alvos civis". Observadores independentes discordam: de acordo com dados da ONU, mais de 5.500 civis morreram na Ucrânia desde o início da guerra e mais de 7.800 ficaram feridos como resultado de ataques russos. Na foto, um centro comercial destruído em Kremenchuk, 27/06/2022.
Foto: Efrem Lukatsky/AP Photo/picture alliance
Chaplyne: 25 mortos em bombardeio
Uma enorme cratera em Chaplyne. A pequena cidade no leste da Ucrânia, com cerca de 3.800 habitantes, foi alvo de um ataque russo em 24 de agosto, como admitiu mais tarde o Ministério da Defesa em Moscou. O alvo foi um trem de transporte de armas, mas o ataque também atingiu civis. Segundo a companhia ferroviária ucraniana, 25 foram mortos, incluindo duas crianças.
Foto: Dmytro Smolienko/Ukrinform/IMAGO
Vinnytsia: 28 vítimas em ataque com foguete
Em 14 de julho, o exército russo atingiu com um míssil a Casa dos Oficiais de Vinnytsia, onde teria ocorrido "uma reunião da liderança militar das Forças Armadas ucranianas e fornecedores estrangeiros de armas". Entre os 28 mortos, estavam três crianças e três oficiais, além de mais de 100 feridos. Vinnytsia se localiza a sudoeste de Kiev.
Foto: State Emergency Service of Ukraine/REUTERS
Chasiv Yar: 48 mortos em bombardeio
Na noite de 9 de julho, a pequena cidade de Chasiv Yar, no leste da Ucrânia, foi bombardeada. Segundo a mídia, os lançadores de foguetes múltiplos Uragan foram disparados em áreas residenciais. Um edifício residencial de cinco andares foi duramente atingido, e 48 corpos foram resgatados de seus escombros.
Foto: Nariman El-Mofty/AP/dpa/picture alliance
Serhiyivka: 21 mortos em ataque com mísseis de cruzeiro
Um ataque a Serhiyivka em 1º de julho custou pelo menos 21 vidas. O porto perto de Odessa aparentemente foi atingido por mísseis de cruzeiro durante a noite, como a Anistia Internacional informou após investigações no local. Pelo menos 35 ficaram feridos nos ataques. Por ser um resort de saúde, Serhiyivka é particularmente popular entre os turistas russos.
Foto: Maxim Penko/AP/picture alliance
Kramatorsk: 61 mortos na estação de trem
Imagens terríveis de Kramatorsk deram a volta ao mundo em 8 de abril: vários mísseis submarinos russos 9K79-1 Tochka atingiram a estação ferroviária da cidade no leste da Ucrânia, enquanto passageiros esperavam pelo trem. 61 foram mortos, incluindo sete crianças. Cientistas de balística determinaram que os mísseis haviam sido disparados da área da Ucrânia controlada pelos russos.
Foto: Ukrainian President Volodymyr Zelenskyy's Telegram channel/dpa/picture alliance
Bucha: encontrados 1.316 corpos
Bucha tornou-se sinônimo das ações brutais do Exército russo: depois que as tropas inimigas partiram, em 30 de março, vários corpos jaziam na rua Jablunska. No total, foram encontrados 1.316 corpos em Bucha e arredores. Embora a Rússia tenha negado quaisquer massacres, verificadores de fatos internacionais e equipes de investigação confirmaram execuções de civis por soldados russos.
Foto: Zohra Bensemra/Reuters
Mykolaiv: 36 mortos em ataque à administração regional
Em 29 de março, um ataque aéreo atingiu o prédio da administração regional de Mykolaiv. A parte central do edifício foi completamente destruída, do primeiro ao nono andar, restando apenas um esqueleto do prédio. A explosão também danificou vários edifícios residenciais e administrativos próximos, causando a morte de 36 cidadãos.
Em 16 de março, uma bomba destruiu o teatro no centro de Mariupol. De acordo com a Human Rights Watch, mais de 500 civis estavam se abrigando dos ataques no prédio na época. A palavra "Crianças" escrita em enormes letras brancas na frente e atrás do prédio não serviu como escudo. Segundo a prefeitura, 300 morreram.
Foto: Pavel Klimov/REUTERS
Mariupol: quatro mortos em ataque a clínica
Um ataque aéreo russo em 9 de março destruiu o hospital infantil e a maternidade de Mariupol. Houve menos quatro mortes, incluindo uma grávida e seu bebê, 17 ficaram feridos. Enquanto o Ministério da Defesa russo falou de uma "provocação encenada", o chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, chamou o atentado de "crime de guerra".
Foto: Evgeniy Maloletka/AP/picture alliance
Charkiv: foguete mata 24 pessoas
Um vídeo de vigilância divulgado pelo Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia mostrou um foguete atingindo o prédio da Administração Estatal Regional de Kharkiv em 1º de março, causando 24 mortes, inclusive de transeuntes.
Foto: Pavel Dorogoy/AP/picture alliance
Inquérito do Tribunal Penal Internacional
As autoridades ucranianas relatam mais de 29 mil crimes de guerra, do início do conflito, em 24 de fevereiro de 2022, até 26 de agosto. Investigações independentes prosseguem. O Tribunal Penal Internacional enviou equipes para coletar informações. De acordo com as Convenções de Genebra, ataques deliberados a civis são crimes de guerra. No entanto, a Rússia não reconhece a corte sediada em Haia.