"Às vezes é mais fácil trabalhar com jovens", diz Felipão
Philip Verminnen7 de maio de 2014
Técnico convoca 17 jogadores sem experiência em Mundiais e garante que time titular na Copa das Confederações será a base. Pouco contestado, ele brinca: "Desta vez foi mais tranquilo que em 2002."
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A lista dos 23 jogadores convocados para a Copa do Mundo, divulgada nesta quarta-feira (07/05) em evento no Rio de Janeiro, não teve grandes surpresas. Como já havia anunciado na véspera, o técnico Luiz Felipe Scolari foi coerente com as suas últimas convocações e repetiu 15 atletas do grupo vitorioso da Copa das Confederações.
Ao contrário da convocação para o Mundial de 2002, para a qual o Brasil pedia em coro uníssono o atacante Romário, Felipão não enfrentou pressão popular desta. "Na época, eu tive que improvisar. Sabia que a minha lista não seria bem recebida. Cheguei inclusive a trocar de hotel. Ontem [terça-feira] não precisei fazer isso. Eu sei que a convocação nunca vai ser do agrado geral, mas desta vez foi mais tranquilo. Com o trabalho que fizemos, a montagem dessa equipe foi relativamente mais fácil."
Apenas a escolha de Henrique, zagueiro que atuou com Felipão no Palmeiras, gerou mais debate. Como o próprio Felipão admitiu, ele foi o atleta mais discutido pela comissão técnica. "Onde tivemos os olhares finais e tivemos uma série de detalhes observados, foi a última indicação para a quarta zaga", explicou Felipão. A justificativa pela escolha do zagueiro do Napoli foi curta e simples: "É um jogador que eu confio. Gosto do futebol dele."
Questão física preocupa
A atual comissão técnica, que assumiu a seleção em novembro de 2012, testou 50 jogadores. Apenas seis atletas que já atuaram em uma Copa do Mundo estão na lista, ou seja, 17 jogadores farão, no dia 12 de junho, a primeira aparição no maior torneio de futebol do mundo. "Esses jovens têm ambição e gostam do que fazem. Às vezes é mais fácil trabalhar com eles do que com os mais experientes", disse o treinador, que salientou que a comissão técnica tem a obrigação de mostrar a esses atletas como uma Copa do Mundo é disputada.
E segundo o próprio Felipão, a estrutura da equipe sempre esteve bem clara: "O time da Copa das Confederações é a base. Hoje o brasileiro sabe quem são nove ou dez jogadores titulares. E confirmo que 90% da base deve ser mantida. Mas claro que depende como os atletas chegarão de seus clubes."
De fato, o fator físico foi o único ponto preocupante para o treinador. Questionado sobre os problemas enfrentados pelo lateral Marcelo e a falta de ritmo de jogo de Paulinho e Oscar, Felipão disse que, nos primeiros dias, dará ênfase aos testes físicos. "Teremos um trabalho na parte física e colocaremos todos no mesmo nível para chegarmos equilibrados. Na parte técnica, ninguém perde a qualidade. O Oscar, por exemplo, é de longe um dos melhores meias do mundo. Aqueles que virão com problemas físicos serão corretamente trabalhados."
A entrevista coletiva, que durou cerca de 50 minutos e foi acompanhada por mais de 800 jornalistas, não teve praticamente um único momento polêmico. A exceção foi quando uma jornalista espanhola pediu a Felipão que justificasse a ausência dos dois finalistas da Liga dos Campeões do Atlético de Madrid, Filipe Luís e Miranda, e o posicionamento de Neymar no Barcelona. Felipão tergiversou.
"Os 23 convocados são esses, e o papel de Neymar no Barcelona quem define é o Tata Martino. Não tenho como me manifestar sobre isso. Na seleção ele tem uma maneira diferente de atuar e em espaços diferentes do campo. Ele também carrega muito mais responsabilidade, mas na seleção o grupo também trabalha mais para ele."
Mais dois testes
Em busca do hexa: os 23 convocados
Do grupo que vai buscar o título, apenas Júlio César, Daniel Alves, Thiago Silva, Maicon, Ramires e Fred já participaram de uma Copa do Mundo. Confira os 23 convocados para a Copa de 2014.
Foto: picture-alliance/dpa
Júlio César – Toronto FC (CAN) – 73 jogos
É a terceira Copa do Mundo de Júlio César. Convocado há 11 anos para a seleção brasileira, esteve presente em 2006 – como terceiro goleiro, atrás de Dida e Rogério Ceni – e em 2010, como titular. Depois de ficar no banco no Queens Park Rangers da segunda divisão inglesa e buscar ritmo de jogo no Toronto FC, ele chega para a Copa num momento de baixa em sua carreira, mas bancado por Felipão.
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Jéfferson – Botafogo FR – 9 jogos
Jefferson foi promovido ao profissional do Cruzeiro com apenas 17 anos, em 2000, exatamente por Luiz Felipe Scolari. Na seleção brasileira, o capitão do Botafogo estreou no Superclássico das Américas contra a Argentina, em 2011. Foi campeão sem sofrer gol nas duas partidas. Com Felipão, Jefferson esteve em campo em três jogos – duas vitórias e a derrota por 1 a 0 contra a Suíça, em 2013.
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Victor - Clube Atlético Mineiro - 6 jogos
Victor já faz parte dos convocados para a seleção brasileira desde 2009. O goleiro do Atlético Mineiro, foi inclusive campeão da Copa das Confederações, mas para o Mundial foi preterido por Dunga, que preferiu levar Doni, na época reserva na Roma. Ao todo, Victor jogou seis jogos com a camisa da seleção e sofreu apenas um gol, na derrota por 1 a 0 contra a Argentina, em 2010.
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Daniel Alves – FC Barcelona (ESP) – 69 jogos – 5 gols
A atitude de comer a banana que havia sido jogada em sua direção, em um jogo pelo Campeonato Espanhol, repercutiu no mundo inteiro. A simbologia do ato é tão grande quanto a coleção de troféus do lateral-direito. Ao baiano de Juazeiro falta apenas a Copa do Mundo. Em 2010, Daniel Alves foi reserva de Maicon. Em 2014, ao que tudo indica, será titular absoluto.
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Marcelo – Real Madrid CF (ESP) – 29 jogos – 4 gols
Em 2007, o Real Madrid contratou Marcelo junto ao Fluminense para suprir a saída de Roberto Carlos. Desde então, ele é peça fundamental no clube madrilenho. Assim como Daniel Alves, o lateral-esquerdo possui características ofensivas, sendo, às vezes, posicionado como ala em campo. Estreou na seleção brasileira em 2007, mas não foi convocado por Dunga para a Copa de 2010.
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Maicon - AS Roma (ITA) - 62 jogos - 6 gols
Na concorrência com Filipe Luís e Rafinha, venceu a experiência. Maicon atua pela seleção brasileira desde 2003. É bicampeão tanto da Copa América (2004 e 2007) quanto da Copa das Confederações (2005 e 2009). No Mundial de 2010 foi o lateral-direito titular e marcou o primeiro gol daquela campanha, na estreia contra a Coreia do Norte. Na Copa de 2014, será reserva de Daniel Alves.
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Maxwell - Paris Saint-Germain (FRA) - 7 jogos
Depois de duas convocações-relâmpago em 2004, quando o treinador da seleção era Carlos Alberto Parreira, Maxwell só retornou à seleção brasileira no amistoso contra a Suíça - o primeiro realizado após a conquista da Copa das Confederações, no ano passado. O lateral-esquerdo, assim como o goleiro Jefferson, foi promovido ao profissional do Cruzeiro em 2000.
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Thiago Silva – Paris Saint-Germain (FRA) – 45 jogos – 2 gols
Caso o Brasil conquiste o Hexa, no dia 13 de julho no Maracanã, Thiago Silva será o primeiro jogador a levantar a Copa do Mundo. O zagueiro de 29 anos é o capitão da seleção brasileira e pode, assim, repetir o gesto de Bellini, Mauro, Carlos Alberto Torres, Dunga e Cafu. Na última entrega da Bola de Ouro da Fifa, Thiago Silva foi eleito o melhor zagueiro do mundo.
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David Luiz – Chelsea FC (ING) – 34 jogos
Zagueiro de ofício, mas volante por excelência, David Luiz é ambidestro e possui a versatilidade que é importante na hora de formar um grupo de jogadores. Devido ao bom passe, costuma atuar à frente dos zagueiros no clube inglês, inclusive marcando gols e dando assistências. Na seleção brasileira, David Luiz é peça certa no time titular, mas na defesa central, ao lado de Thiago Silva.
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Dante – FC Bayern München (ALE) – 11 jogos – 2 gols
A carreira de Dante demorou a decolar. Depois de passar por clubes europeus de menor expressão, o zagueiro de 30 anos chegou ao Bayern de Munique em 2012. Logo em sua primeira temporada, assumiu a titularidade e conquistou a tríplice coroa. Dante debutou pela seleção justamente na primeira convocação de Felipão, em janeiro de 2013, quando o Brasil perdeu para a Inglaterra em Londres, por 2 a 1.
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Henrique - SSC Napoli (ITA) - 4 jogos
Henrique foi o jogador mais debatido na comissão técnica. Critério determinante foi a polivalência do zagueiro, que também pode atuar como primeiro volante e lateral-direito plantado. Além disso, Henrique conquistou a Copa do Brasil de 2012 com o Palmeiras, na época comandado por Felipão. Atualmente no Napoli, Henrique soma passagens pelo Barcelona e o Bayer Leverkusen.
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Luiz Gustavo – VfL Wolfsburg (ALE) – 17 jogos – 1 gol
Depois de boas atuações pelo Hoffenheim, da segunda divisão alemã, Luiz Gustavo foi contratado pelo Bayern de Munique, onde, assim como Dante, conquistou a tríplice coroa em 2013. Porém, com a chegada de Pep Guardiola, perdeu espaço e, para manter o sonho de disputar a Copa, transferiu-se para o Wolfsburg. Luiz Gustavo é um volante lutador – característica que agrada, e muito, Felipão.
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Paulinho – Tottenham Hotspur FC (ING) – 25 jogos – 5 gols
Paulinho tem apenas 25 anos e já passou pelo futebol lituano, polonês e até pela quarta divisão paulista. Mas foi no Corinthians que ele estourou para o futebol mundial. E após boas atuações e dois gols na Copa das Confederações, o volante foi contratado pelo Tottenham. Na Inglaterra, Paulinho ainda briga por uma vaga na equipe, o que não o impede de ser titular com Felipão.
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Ramires – Chelsea FC (ING) – 41 jogos – 4 gols
Ramires já pode ser considerado um veterano na seleção. O volante de 27 anos foi campeão da Copa das Confederações e fez parte do plantel da Copa - ambos na África do Sul. Já na Era Felipão, não participou da Copa das Confederações no Brasil, devido à uma confusão envolvendo uma suposta lesão. Mas as boas atuações no Chelsea e nos recentes amistosos da seleção garantiram Ramires na Copa de 2014.
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Fernandinho – Manchester City FC (ING) – 7 jogos – 1 gol
Fernandinho precisou exatamente de uma partida para cravar o seu nome na lista. O polivalente ambidestro, que atua como segundo volante ou meia de armação, já havia feito outras seis partidas pela seleção, mas não vinha sendo lembrado por Felipão. No último amistoso, contra a África do Sul, o jogador do Manchester City atuou os 90 minutos, marcou o seu primeiro gol pela seleção e convenceu.
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Hernanes – FC Internazionale Milano (ITA) – 23 jogos – 2 gols
Hernanes é outro polivalente e ambidestro no grupo de Felipão. Formado nas categorias de base do São Paulo, já atuou como volante, lateral e meia. Conquistou a confiança de Felipão no amistoso contra a França, antes da Copa das Confederações. Hernanes entrou no segundo tempo, mudou a partida, marcou um gol e o Brasil voltou a vencer uma das "grandes seleções" depois de três anos.
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Oscar – Chelsea FC (ING) – 29 jogos – 9 gols
No Campeonato Sul-Americano Sub-20 em 2011, Oscar se tornou o primeiro jogador a marcar três gols em uma final de um torneio organizado pela Fifa. O talento de Oscar é inegável, e as ótimas atuações no Campeonato Brasileiro de 2011 deram ao meia a sua primeira convocação para a seleção. Oscar é o único atleta na lista de Felipão que ocupa a função de criação de jogadas.
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Willian – Chelsea FC (ING) – 5 jogos – 1 gol
Willian pulou no último segundo para a lista dos convocados. O meio-campista, que também atua caindo pelos lados, foi chamado por Felipão nos últimos três amistosos da seleção – contra Honduras, Chile e África do Sul – e convenceu. Contra Honduras marcou um dos cinco gols do Brasil. A versatilidade, comprovada nessa temporada no Chelsea, é o principal trunfo de Willian.
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Fred – Fluminense FC – 25 jogos – 13 gols
A posição de atacante é a principal preocupação na atual geração do futebol brasileiro. Fred foi o artilheiro da Copa das Confederações com cinco gols – um terço dos gols brasileiros no torneio -, mas as recentes apresentações pelo Fluminense não são animadoras. O atacante fez parte dos 23 convocados de Parreira para a Copa de 2006, na Alemanha, mas foi preterido por Dunga para o Mundial de 2010.
Foto: Reuters
Hulk – FC Zenit (RUS) – 33 jogos – 8 gols
Depois da fase áurea no Porto, Hulk foi para o Zenit, em 2012. O grandalhão da Paraíba se tornou não só o primeiro jogador negro na história do clube russo, como é até hoje a transferência mais cara do futebol português – 60 milhões de euros. Mas, a princípio, Hulk não é o atacante dos sonhos de nenhum torcedor brasileiro. E os números não mentem: com Felipão foram 15 jogos, mas apenas dois gols.
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Jô – Clube Atlético Mineiro – 15 jogos – 5 gols
Artilheiro da última Copa Libertadores (sete gols), Jô se destacou durante a boa fase do Atlético Mineiro, no ano passado. Na Copa das Confederações, o atacante canhoto herdou a vaga de última hora devido à contusão de Leandro Damião e mostrou ser um reserva eficiente. Em três partidas, Jô entrou faltando dez minutos para o apito final e, mesmo assim, anotou dois gols.
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Bernard – FC Shakhtar Donetsk (UCR) – 10 jogos – 1 gol
Com 21 anos de idade, 1,64 metro de altura e 60 quilos, Bernard é o caçula, o mais baixo e o mais leve do elenco. O habilidoso meia ofensivo é destro, mas costuma atuar no lado esquerdo, quase como um ponta. Bernard se destacou no Brasileirão de 2012, quando foi eleito a revelação do campeonato. Na Copa das Confederações, Bernard entrou no decorrer de duas partidas – contra a Itália e Uruguai.
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Neymar – FC Barcelona (ESP) – 47 jogos – 30 gols
O garoto prodígio da Vila Belmiro é a grande estrela do Brasil. Na primeira temporada no Barcelona, Neymar mostrou dificuldades de adaptação ao futebol europeu, mas, pela seleção, o atacante de 22 anos é um fenômeno. Se mantiver a média de 0,64 gols por partida, Neymar vai ultrapassar Pelé como o maior artilheiro da seleção brasileira (77 gols na contagem oficial) aos 27 anos de idade.
Foto: picture-alliance/dpa
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E como já é característico, Felipão enalteceu a participação da torcida na Copa das Confederações e pediu que o povo brasileiro apoie os 23 convocados. "Chegamos a uma conclusão de nomes e definimos esses nomes. A partir da escolha, pedimos aos nossos torcedores que os 23 sejam muito bem recebidos. Hoje temos um pouco mais de confiança do nosso público. E jogamos junto com o público. Se nós conseguirmos ter essa empatia, acho que vamos ter um trabalho conjunto e dar os passos corretos."
No dia 13 de maio, a CBF vai divulgar a lista obrigatória dos jogadores suplentes. No mínimo precisam ser anunciados outros sete atletas. O treinador deu a entender que a tendência será divulgar os nomes de um goleiro, dois defensores, dois meias e dois atacantes.
Nos dias 3 e 6 de junho, a seleção brasileira fará os últimos dois amistosos antes da estreia na Copa do Mundo. Primeiro enfrentará o Panamá, no Serra Dourada, em Goiânia, e depois a Sérvia, no Morumbi, em São Paulo.
Goleiros
Júlio César (Toronto) Jefferson (Botafogo) Victor (Atlético-MG)
Laterais
Daniel Alves (Barcelona) Marcelo (Real Madrid) Maxwell (PSG) Maicon (Roma)
Zagueiros
Thiago Silva (PSG) David Luiz (Chelsea) Dante (Bayern de Munique) Henrique (Napoli)
Meias
Ramires (Chelsea) Luiz Gustavo (Wolfsburg) Paulinho (Tottenham) Oscar (Chelsea) Willian (Chelsea) Fernandinho (Manchester City) Hernanes (Inter de Milão)
Atacantes
Bernard (Shakhtar) Neymar (Barcelona) Hulk (Zenit) Jô (Atlético-MG) Fred (Fluminense)