Estudo: álcool eleva risco de AVC mesmo em pequenas doses
5 de abril de 2019
Pesquisa com milhares de pessoas derruba ideia de que consumo moderado pode até ser benéfico. Uma ou duas doses por dia elevam risco de derrame de 10% a 15%, afirmam cientistas.
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O consumo mesmo moderado de álcool eleva a pressão sanguínea e o risco de um acidente vascular cerebral (AVC), afirma um estudo genético publicado na revista científica The Lancet nesta quinta-feira (04/04).
O estudo contesta a ideia amplamente difundida de que um copo ou dois por dia pode ter um efeito benéfico para a saúde e não encontrou evidências de efeitos positivos do consumo de bebidas alcoólicas.
Os cientistas acompanharam mais de 500 mil pessoas em toda a China durante uma década, registrando seus históricos médicos e avaliando se eram ou não fumantes, se faziam exercícios e a quantidade de álcool que consumiam.
A China foi escolhida para o experimento porque muitas pessoas de ascendência asiática possuem variações genéticas que limitam a tolerância do corpo ao álcool. Como consequência, essas pessoas não costumam beber.
A equipe de cientistas das universidades de Oxford, Pequim e da Academia Chinesa de Ciências Médicas disse que seria impossível fazer a mesma pesquisa com populações ocidentais, uma vez que as variações genéticas de intolerância ao álcool são praticamente inexistentes.
As conclusões da pesquisa valem para todas as pessoas em qualquer lugar do mundo, afirmaram. Outros cientistas viram como limitação da pesquisa o fato de ela ter levado em conta apenas drinques, e não vinho, que algumas pessoas afirmam ter outros elementos que podem ter efeitos positivos sobre a saúde.
Dos participantes do estudo, cerca de 160 mil adultos chineses tinham as variações genéticas que os levam a optar por não consumir álcool, ou consumir muito pouco, por causa dos efeitos desagradáveis, como dor de cabeça ou náuseas.
Assim fica mais fácil para os cientistas saberem se alterações na saúde estão de fato relacionadas ou não ao consumo de álcool e não a outros fatores.
A conclusão é que as pessoas que bebem moderadamente – ou seja, consomem de uma dose (10 gramas) a duas doses (20 gramas) de álcool por dia – aumentam de 10% a 15% o risco de sofrer um AVC. Para os que bebem quatro ou mais doses por dia, a pressão sanguínea aumenta significativamente, e o risco de derrames cerebrais aumenta em 35%.
"A mensagem é que, ao menos no que diz respeito aos derrames, não há efeito de proteção por beber moderadamente", afirmou Zhengming Chen, professor do Departamento de Saúde Populacional da Universidade de Oxford, que coliderou a pesquisa. "As provas genéticas mostram que o efeito de proteção não é real."
A ocorrência de infarto entre os participantes foi considerada baixa, o que não permitiu que se chegasse a alguma conclusão sobre riscos ao coração associados ao consumo de álcool.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que em torno de 2,3 bilhões de pessoas em todo o mundo consumam álcool, com média diária de 33 gramas de álcool puro por indivíduo. Isso equivale mais ou menos a dois copos de vinho de 150 ml ou uma garrafa grande de cerveja (750 ml) ou duas doses de bebidas destiladas (40 ml cada dose).
"Utilizar a genética é um meio inovador para se descobrir se o consumo moderado de álcool pode realmente proteger ou se é levemente danoso", disse Iona Millwood, epidemiologista da Universidade de Oxford que coliderou o estudo. "Nossas análises nos ajudaram a entender a relação entre causa e efeito."
Os cientistas defenderam um maior controle sobre a venda de álcool, afirmando que os riscos das bebidas alcoólicas são subestimados.
Segundo a OMS, a Europa tem o maior consumo per capita mundial de álcool, mesmo após uma queda de 10% desde 2010. Tendências globais apontam para um aumento do consumo nos próximos dez anos.
RC/rtr/ap
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Carnaval é, para muitos, um momento de tomar umas a mais. Boa hora para conferir um estudo científico sobre o assunto. Que traz notícias nem tão alegres...
Foto: picture-alliance/dpa
Me engana que eu gosto
Há décadas a ciência vinha oferecendo perspectivas reconfortantes aos amigos do copo: álcool em quantidades moderadas – um ou dois copos de vinho por dia, por exemplo – faz bem à saúde e até prolonga a vida, dizem. Infelizmente, tal bonança acabou: entre outras revelações, um relatório do "British Medical Journal" apresenta um convite à revisão radical dos hábitos etílicos.
Foto: picture-alliance/dpa
Fato 1: Os europeus bebem mais do que os outros
Consumindo 11,8 e 11,6 litros de álcool puro por ano, respectivamente, os alemães e os britânicos ocupam uma posição mediana entre os grandes bebedores – ao contrário do que se poderia imaginar. Porém, no geral, está comprovado que os nativos do Velho Continente tendem a se embriagar mais do que os da América do Norte ou da Ásia.
Foto: picture-alliance/dpa
Fato 2: Mas ninguém bebe mais do que um bielorrusso
A ex-república soviética Belarus ocupa o topo absoluto na lista dos países mais beberrões do mundo: a média do consumo de álcool puro entre sua população é de 17,5 litros por ano. E a Rússia vem cambaleando logo atrás, com 15,1 litros. Ou seja: mesmo com a contínua alta dos preços, o império de Vladimir Putin segue sendo o paraíso da vodca.
Foto: picture-alliance/dpa
Fato 3: Olhos puxados e álcool não combinam
Ou, em termos um tanto mais científicos: grupos étnicos como os asiáticos dispõem de quantidades menores das enzimas que metabolizam o álcool. É uma questão de genética. Talvez por isso o turista japonês da foto, flagrado na Oktoberfest de Munique, já pareça estar antecipando a ressaca.
Foto: dpa
Fato 4: Beber não é coisa para mulher
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as mulheres bebem menos da metade do álcool que os homens. Não é uma questão de machismo, é um mero fato fisiológico. Entre os fatores em jogo estão a diferença de tamanho e a composição do corpo feminino, cujo maior teor de gordura tende a concentrar o álcool. Já os homens apresentam mais água no corpo, o que favorece a difusão da substância.
Foto: Fotolia/Kitty
Fato 5: A prosperidade faz o beberrão
Nos países em desenvolvimento, como a China e a Índia, o consumo alcoólico está em alta. Homens e mulheres da classe média em expansão têm agora meios para adquirir boas bebidas importadas, como cerveja alemã ou vinho francês. Ou fazer como as jovens indianas da foto: viajar até a Oktoberfest de Munique para provar a típica cerveja bávara.
Foto: DW/I. Moog
Fato 6: Embriaguez é também questão religiosa
O menor consumo do mundo é registrado no Norte da África e no Oriente Médio. No Paquistão, Kuwait, Líbia e Mauritânia, só se ingere 0,1 litro de álcool puro por ano. É que, para a religião muçulmana, essa substância é "haram" – impura, e, portanto, proibida para os fiéis. Nesses países, a bebida mais popular é o chá.
Foto: picture-alliance/dpa
Fato 7: Álcool mata. Mesmo
E agora é que a coisa começa a ficar sem graça. A OMS alerta: o consumo etílico está relacionado a mais de 200 enfermidades e condições crônicas. Essa lista, que inclui o câncer e a cirrose, mata 3,3 milhões de amigos do copo por ano – o equivalente a cerca de 6% do número global de óbitos. Mas... só se a pessoa beber muito, não é mesmo?
Foto: Getty Images
O mito: Um copo de vinho ao dia prolonga a vida
Errado. O relatório do "British Medical Journal" aponta falhas técnicas nos estudos anteriores que aconselhavam o consumo alcoólico moderado. Como eles não distinguiam entre não bebedores e os menos saudáveis ex-bebedores, os antigos cálculos não são confiáveis. Portanto, a forma mais saudável de beber, é mesmo não beber uma só gota.
Foto: DW/D. P. Lopes
A solução?
Para quem acredita cem por cento nos pesquisadores britânicos e quer ter vida longa a todo custo, só resta seguir o exemplo do Paquistão. Como mostra a foto, a república islâmica destrói regularmente, em massa, as garrafas que apreende, contrabandeadas de sua vizinha, a emergente e cada vez mais alcoólica Índia. Algum candidato a adotar solução tão radical? Quem sabe em 2016?