Mensagens divulgadas pela "Veja" rebatem versão de família Bolsonaro sobre conversa com Gustavo Bebianno. Áudios revelam ainda que presidente e ex-ministro falaram sobre escândalo de candidaturas laranjas.
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O embate público entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, em meio ao escândalo de candidaturas laranjas do PSL, atingiu um novo patamar nesta terça-feira (19/02). Uma série de áudios divulgada pela revista Veja contestou a versão da família Bolsonaro sobre conversas entre os dois.
No centro da crise instalada em Brasília em meio às denúncias de que o PSL teria usado candidaturas laranjas, Bebianno tentou negar a existência de uma tensão no governo afirmando que havia conversado três vezes com Bolsonaro na terça-feira passada. A declaração, porém, acabou causando um confronto do político com um dos filhos do presidente.
No dia seguinte, Carlos Bolsonaro usou sua conta no Twitter para negar as conversas. Endossado pelo pai, chamou Bebianno de mentiroso e postou um áudio do presidente para provar. A crise culminou com a demissão do então ministro na segunda-feira.
Áudios de conversas entre Bebianno e Bolsonaro, divulgados pela Veja, no entanto, confirmaram a versão do ex-ministro e mostram que os dois conversaram também sobre o esquema de candidaturas laranjas, que foi revelado pelo jornal Folha de São Paulo.
Nos áudios do Whatsapp, que seriam do dia 12 de fevereiro, o presidente e o então ministro conversaram sobre uma viagem de Bebianno à Amazônia junto com os ministros do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves. O presidente pede que a visita seja cancelada.
"Eu não quero que vocês viajem, por quê? Vocês criam a expectativa de uma obra, aí vai ficar o povo todo me cobrando. Isso pode ser feito quando nós acharmos que vai ter recurso, que vai ser aprovado etc. Então essa viagem não se realizará, tá ok?", ressalta Bolsonaro.
Segundo a Veja, no mesmo dia, Bolsonaro dá ordens a Bebianno sobre a audiência que o ministro teria com vice-presidente de Relações Institucionais do Grupo Globo, Paulo Tonet Camargo.
"Gustavo, o que eu acho desse cara da Globo dentro do Palácio do Planalto: eu não quero ele aí dentro. Qual a mensagem que vai dar para as outras emissoras? Que nós estamos se aproximando da Globo. Então não dá para ter esse tipo de relacionamento. Agora… Inimigo passivo, sim. Agora… Trazer o inimigo para dentro de casa é outra história. Pô, cê tem que ter essa visão, pelo amor de Deus, cara", diz Bolsonaro.
"Fica complicado a gente ter um relacionamento legal dessa forma porque cê tá trazendo o maior cara que me ferrou – antes, durante, agora e após a campanha – para dentro de casa. Me desculpa. Como presidente da República: cancela, não quero esse cara aí dentro, ponto final", finaliza o presidente.
De acordo com a Veja, os outros áudios divulgados são dos dias que sucederam o confronto entre o filho de Bolsonaro e o ex-ministro. A primeira mensagem seria uma resposta do presidente às queixas de Bebianno sobre as acusações de Carlos.
"Capitão, está difícil para mim. Não vou ser taxado de mentiroso por ninguém. Não sou mentiroso, não sou desonesto. Isso não está certo! O Carlos não pode mais seguir ofendendo as pessoas, agredindo, xingando, transformando seus aliados e amigos em opositores. Isso precisa parar. Isso vai comprometer o seu governo", teria escrito Bebianno.
Em resposta, Bolsonaro defendeu o filho, botou a culpa na imprensa e ressaltou que não falou com ele no dia anterior. Bebianno rebate dizendo que há várias formas de conversar e lembra as trocas de mensagens sobre a viagem à Amazônia e a visita do funcionário da Globo.
"Capitão, as coisas precisam ser analisadas de outra forma. Tira isso do lado pessoal. Ele não pode atacar um ministro dessa forma. Nem a mim nem a ninguém, capitão. Isso está errado. Por que esse ódio? Qual a relevância disso? Vir a público me chamar de mentiroso? Eu só fiz o bem, capitão. Eu só fiz o bem até aqui. Eu só estive do seu lado, você sabe disso. Será que o senhor vai permitir que eu seja agredido dessa forma? Isso não está certo, não, capitão", reclama Bebianno, em mensagem de áudio.
O ex-ministro manda outro áudio destacando que é uma pessoa correta e que prega a paz e argumenta que não foi ele que criou a crise. "Eu não falo nada em público. Muito menos agrido ninguém em público...quando eu recebo esse tipo de coisa, depois de um post desse, é realmente muito desagradável. Inverta. Imagine se eu chamasse alguém de mentiroso em público", diz Bebianno e conclui a mensagem perguntando o motivo do ataque.
Bolsonaro responde acusando o ex-ministro de pregar uma nota no site Antagonista para tentar mostrar que não havia crise entre os dois e pede para que ele "restabeleça a verdade", ameaçando parar de dialogar com Bebianno. Em seguida, o presidente fala sobre o escândalos dos candidatos laranjas.
"Querer empurrar essa batata quente desse dinheiro lá pra candidata em Pernambuco pro meu colo, aí não vai dar certo. Aí é desonestidade e falta de caráter. Agora, todas as notas pregadas nesse sentido foram nesse sentido exatamente, então a Polícia Federal vai entrar no circuito, já entrou no circuito, pra apurar a verdade. Tudo bem, vamos ver daí… Quem deve paga, tá certo? Eu sei que você é dessa linha minha aí", conclui Bolsonaro.
Num áudio posterior, Bebianno nega que tenha vazado informações para a imprensa e lembra que o caso das candidaturas laranjas foi revelado pela Folha de São Paulo e apenas replicado pelo Antagonista. O presidente volta então a acusar o ex-ministro de ser informante da imprensa.
Bebianno nega novamente ter vazado informações e também diz que não tem nenhum envolvimento com o escândalo. "A minha tarefa como presidente interino nacional foi cuidar da sua campanha. A prestação de contas que me competia foi aprovada com louvor, é… Agora, cada Estado fez a sua chapa.Em nenhum partido, capitão, a nacional é responsável pelas chapas estaduais. O senhor sabe disso melhor do que eu", destaca.
"Cada chapa foi montada pela sua estadual. No caso de Pernambuco, pelo Bivar, logicamente. Se o Bivar escolheu candidata laranja, é um problema dele, político. E é um problema legal dela explicar o que ela fez com o dinheiro. Da minha parte, eu só repassei o dinheiro que me foi solicitado por escrito... Eu não tenho nada a ver com isso", ressalta.
O ex-ministro conclui a mensagem acusando o presidente de estar "envenenado" e afirma estar com a consciência tranquila.
Advogado, Bebianno ganhou a confiança da família ao assumir a defesa de Bolsonaro em algumas ações. Foi ele que articulou a manobra que tirou Bolsonaro do Patriota e viabilizou sua candidatura pelo PSL. Ele assumiu o comando do partido interinamente em 2018, como figura de confiança de Bolsonaro. Após a vitória nas urnas, deixou a chefia da legenda e ganhou um cargo no governo.
O caso de Bebianno se complicou com a revelação, por meio de uma reportagem da Folha de S. Paulo, de que ele liberou 250 mil reais de verba de campanha para a candidatura de uma ex-assessora à Assembleia Legislativa pernambucana. A maior parte do dinheiro foi para uma gráfica pertencente ao atual presidente do PSL, Luciano Bivar, no município de Amaraji, no interior de Pernambuco.
CN/ots
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Com diplomação, presidente eleito conclui primeira fase da transição e já tem o gabinete formado. Durante a campanha, ele prometeu reduzir número de ministros de 29 para 15, mas acabou com 22. Veja quem são.
Foto: picture-alliance/AP Images/L. Correa
Redução modesta
Durante a campanha, Jair Bolsonaro prometeu reduzir o número de ministérios de 29 para 15. Mas, durante a transição, o presidente voltou atrás e promoveu uma redução bem menor do que a prometida. Ao todo, há 22 pastas no novo governo. Entre os ministros, há filiados do DEM, PSL e MDB, além de dez com laços militares, dois discípulos de Olavo de Carvalho e apenas duas mulheres.
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Paulo Guedes
Guru econômico e ministro anunciado ainda durante a campanha, Paulo Guedes comanda o superministério da Economia, formado pela junção das pastas da Fazenda, do Planejamento e da Indústria e Comércio Exterior. O economista é investigado pelo Ministério Público Federal (MPF), suspeito de ter cometido fraudes na captação de recursos de fundos de pensão de estatais entre 2009 e 2013.
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Onyx Lorenzoni
Deputado federal do DEM, Onyx Lorenzoni articulou a campanha de Bolsonaro desde 2017 e foi indicado para assumir a Casa Civil. Em sua carreira política, já foi deputado estadual no Rio Grande do Sul e, desde 2003, tem mandatos na Câmara. Após ser citado na delação da JBS, ele admitiu ter recebido caixa dois de campanha, e está sendo investigado pela Procuradoria-Geral da República.
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Sérgio Moro
Juiz federal que foi responsável pela Lava Jato em primeira instância, Sérgio Moro comandará o Ministério da Justiça. Seu decisão de entrar para a política causou polêmica. Foi ele quem condenou Lula pela primeira vez em 2017, o que marcou o início dos problemas do ex-presidente em registrar sua nova candidatura ao Planalto em 2018. Fato que ajudou Bolsonaro a assumir a liderança nas pesquisas.
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Marcos Pontes
Astronauta que chegou a ser cotado para vice da chapa do PSL, Marcos Pontes chefiará o Ministério da Ciência Tecnologia. Formado em engenharia aeronáutica pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica, Pontes se tornou o primeiro astronauta brasileiro da história e foi enviado ao espaço pela Missão Centenário, em 2006, durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele é filiado ao PSL.
A deputada federal Tereza Cristina (DEM) comandará o Ministério da Agricultura. Engenharia agrônoma e empresária, Tereza Cristina foi presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária e indicada pela bancada ruralista para o cargo. Ela defende a aprovação do projeto lei que flexibiliza as regras para a fiscalização e aplicação de agrotóxicos no país.
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Ernesto Araújo
Diplomata de carreira, Ernesto Araújo assumirá o Ministério das Relações Exteriores. Discípulo de Olavo de Carvalho, ele atuou no Itamaraty em várias áreas, porém, nunca chefiou uma embaixada. Araújo mantinha um blog no qual fez campanha para Bolsonaro, chamou o PT de "Partido Terrorista" e disse querer libertar o mundo da "ideologia globalista". Admira Donald Trump e nega o aquecimento global.
Foto: Getty Images/AFP/S. Lima
Luiz Henrique Mandetta
Deputado federal do DEM (MS), Luiz Henrique Mandetta ficou com o comando do Ministério da Saúde. Médico ortopedista e ligado a Lorenzoni, ele era crítico do Programa Mais Médicos. Entre 2005 e 2010, Mandetta foi secretário municipal de saúde de Campo Grande. A passagem pelo cargo lhe rendeu um inquérito por suspeita de fraude em licitação, tráfico de influência e caixa dois.
Foto: Agência Brasil
Fernando Azevedo e Silva
O general da reserva Fernando Azevedo e Silva foi escolhido para o Ministério da Defesa. Natural do Rio, ele deixou o Alto Comando do Exército em 2018 e passou a assessorar o presidente do STF, Dias Toffoli. Azevedo e Silva foi chefe do Estado-Maior do Exército e comandante da Brigada Paraquedista, onde serviu ao lado de Bolsonaro. Chefiou ainda operações na Missão de Paz da ONU no Haiti.
Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
Ricardo Vélez Rodríguez
Escolha do colombiano antipetista Ricardo Vélez Rodríguez para assumir o Ministério da Educação foi indicação de Olavo de Carvalho. Nascido em Bogotá e naturalizado brasileiro, Vélez Rodríguez é formado em filosofia e mostrou apoiar várias das bandeiras defendidas por Bolsonaro, como a expansão de escolas militares no país e o combate a uma suposta predominância de ideias esquerdistas no ensino.
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Tarcísio Gomes de Freitas
O ex-diretor do Dnit Tarcísio Gomes de Freitas chefiará o novo Ministério da Infraestrutura, que deve englobar a atual pasta de Transportes, Portos e Aviação Civil. No governo Temer, Freitas foi secretário de Coordenação de Projetos do Programa de Parceria em Investimentos e consultor legislativo da Câmara dos Deputados. O engenheiro civil iniciou a carreira no Exército e atuou no Haiti.
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Gustavo Canuto
Servidor efetivo do Ministério do Planejamento, Gustavo Henrique Rigodanzo Canuto comandará o novo Ministério do Desenvolvimento Regional. Servidor sem filiação partidária, Canuto é formado em engenharia da computação e direito e já atuou na Secretaria Geral da Presidência da República, na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e na Secretaria de Aviação Civil.
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Osmar Terra
Ex-ministro do governo Temer, Osmar Terra assumiu o novo Ministério da Cidadania e Ação Social. Médico, Terra é deputado federal pelo MDB desde 2001. Já foi prefeito de Santa Rosa (RS) e secretário de Saúde do RS. Terra poderá ser um dos ministros que trará dor de cabeça a Bolsonaro. O deputado apareceu na superplanilha da Odebrecht, que indicaria propinas pagas a políticos.
Foto: Viola Jr/Camara dos Deputados
Marcelo Álvaro Antônio
Deputado do PSL Marcelo Álvaro Antônio assumirá o Ministério do Turismo. Integrante da frente parlamentar evangélica, ele foi o candidato mais votado em Minas Gerais, reeleito para o segundo mandato neste ano. Antes de ser deputado, Antônio foi vereador de Belo Horizonte. Antônio é o segundo filiado do PSL escolhido por Bolsonaro para integrar seu governo.
Foto: Agência Brasil/Valter Campanato
Bento Costa Lima Leite de Albuquerque Júnior
O almirante Bento Costa Lima Leite de Albuquerque Júnior chefiará o Ministério de Minas e Energia. Ele atuou como diretor-geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Marinha, foi observador do Brasil na Força de Paz das Nações Unidas em Sarajevo, na Bósnia-Herzegovina, e comandante de submarinos.
Foto: Getty Images/AFP/H. Retamal
Damares Alves
Pastora evangélica e assessora do senador Magno Malta (PR), Damares Alves foi escolhida para chefiar o Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos. A advogada trabalha há mais de 20 anos no Congresso. Ela já declarou que a mulher nasceu para ser mãe, se posicionou contra o feminismo e políticas voltadas a diminuir a discriminação de homossexuais. É contra a legalização do aborto e das drogas.
Foto: Agência Brasil/V. Campanato
Ricardo de Aquino Salles
Advogado e criador do Endireita Brasil, Ricardo de Aquino Salles será o ministro do Meio Ambiente. Salles foi secretário estadual do Meio Ambiente no governo de Geraldo Alckmin. É réu por improbidade administrativa, acusado de esconder alterações em mapas do zoneamento ambiental do rio Tietê, numa ação que teria favorecido mineradoras. Foi ainda diretor da Sociedade Rural Brasileira.
Foto: Imago/Fotoarena
Ministérios dentro do Planalto
Além da Casa Civil, outros três ministérios funcionam dentro do Planalto. Ex-presidente do PSL e aliado próximo de Bolsonaro, Gustavo Bebianno será o chefe da Secretaria-Geral. O general reformado que comandou a Missão ONU para a Estabilização no Haiti Augusto Heleno ficou com o Gabinete de Segurança Institucional. Já o general Carlos Alberto dos Santos Cruz ficará com a Secretaria de Governo.
Foto: Getty Images/AFP/M. Pimentel
AGU e CGU
A Advocacia-Geral da União (AGU) ficará sob o comando do advogado André Luiz de Almeida Mendonça, que, ao longo da carreira, atuou em áreas de transparência e combate à corrupção. O Ministério da Transparência e Controladoria-Geral da União (CGU) continuará a ser chefiado por Wagner Rosário (foto). O servidor de carreira ocupa o cargo desde junho de 2017, indicado pelo ex-presidente Michel Temer.
Foto: Agência Brasil/Marcelo Camargo
Roberto Campos Neto
O chefia do Banco Central ficou com o economista Roberto Campos Neto, neto do ex-ministro do Planejamento Roberto Campos, que comandou a pasta entre 1964 e 1967, durante a ditadura militar. Próximo de Paulo Guedes, já atuou no banco Santader, no banco Bonzano Simonsen e na gestora de fundos Claritas.