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Áudios acirram crise no governo Bolsonaro

19 de fevereiro de 2019

Mensagens divulgadas pela "Veja" rebatem versão de família Bolsonaro sobre conversa com Gustavo Bebianno. Áudios revelam ainda que presidente e ex-ministro falaram sobre escândalo de candidaturas laranjas.

Jair Bolsonaro
Campanha de Bolsonaro foi articulada por BebiannoFoto: Getty Images/AFP/N. Almeida

O embate público entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, em meio ao escândalo de candidaturas laranjas do PSL, atingiu um novo patamar nesta terça-feira (19/02). Uma série de áudios divulgada pela revista Veja contestou a versão da família Bolsonaro sobre conversas entre os dois.

No centro da crise instalada em Brasília em meio às denúncias de que o PSL teria usado candidaturas laranjas, Bebianno tentou negar a existência de uma tensão no governo afirmando que havia conversado três vezes com Bolsonaro na terça-feira passada. A declaração, porém, acabou causando um confronto do político com um dos filhos do presidente.

No dia seguinte, Carlos Bolsonaro usou sua conta no Twitter para negar as conversas. Endossado pelo pai, chamou Bebianno de mentiroso e postou um áudio do presidente para provar. A crise culminou com a demissão do então ministro na segunda-feira.

Áudios de conversas entre Bebianno e Bolsonaro, divulgados pela Veja, no entanto, confirmaram a versão do ex-ministro e mostram que os dois conversaram também sobre o esquema de candidaturas laranjas, que foi revelado pelo jornal Folha de São Paulo.

Nos áudios do Whatsapp, que seriam do dia 12 de fevereiro, o presidente e o então ministro conversaram sobre uma viagem de Bebianno à Amazônia junto com os ministros do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves. O presidente pede que a visita seja cancelada.

"Eu não quero que vocês viajem, por quê? Vocês criam a expectativa de uma obra, aí vai ficar o povo todo me cobrando. Isso pode ser feito quando nós acharmos que vai ter recurso, que vai ser aprovado etc. Então essa viagem não se realizará, tá ok?", ressalta Bolsonaro.

Segundo a Veja, no mesmo dia, Bolsonaro dá ordens a Bebianno sobre a audiência que o ministro teria com vice-presidente de Relações Institucionais do Grupo Globo, Paulo Tonet Camargo.

"Gustavo, o que eu acho desse cara da Globo dentro do Palácio do Planalto: eu não quero ele aí dentro. Qual a mensagem que vai dar para as outras emissoras? Que nós estamos se aproximando da Globo. Então não dá para ter esse tipo de relacionamento. Agora… Inimigo passivo, sim. AgoraTrazer o inimigo para dentro de casa é outra história. Pô, cê tem que ter essa visão, pelo amor de Deus, cara", diz Bolsonaro.

"Fica complicado a gente ter um relacionamento legal dessa forma porque cê tá trazendo o maior cara que me ferrou – antes, durante, agora e após a campanha – para dentro de casa. Me desculpa. Como presidente da República: cancela, não quero esse cara aí dentro, ponto final", finaliza o presidente.

De acordo com a Veja, os outros áudios divulgados são dos dias que sucederam o confronto entre o filho de Bolsonaro e o ex-ministro. A primeira mensagem seria uma resposta do presidente às queixas de Bebianno sobre as acusações de Carlos.

"Capitão, está difícil para mim. Não vou ser taxado de mentiroso por ninguém. Não sou mentiroso, não sou desonesto. Isso não está certo! O Carlos não pode mais seguir ofendendo as pessoas, agredindo, xingando, transformando seus aliados e amigos em opositores. Isso precisa parar. Isso vai comprometer o seu governo", teria escrito Bebianno.

Em resposta, Bolsonaro defendeu o filho, botou a culpa na imprensa e ressaltou que não falou com ele no dia anterior. Bebianno rebate dizendo que há várias formas de conversar e lembra as trocas de mensagens sobre a viagem à Amazônia e a visita do funcionário da Globo.

"Capitão, as coisas precisam ser analisadas de outra forma. Tira isso do lado pessoal. Ele não pode atacar um ministro dessa forma. Nem a mim nem a ninguém, capitão. Isso está errado. Por que esse ódio? Qual a relevância disso? Vir a público me chamar de mentiroso? Eu só fiz o bem, capitão. Eu só fiz o bem até aqui. Eu só estive do seu lado, você sabe disso. Será que o senhor vai permitir que eu seja agredido dessa forma? Isso não está certo, não, capitão", reclama Bebianno, em mensagem de áudio.

O ex-ministro manda outro áudio destacando que é uma pessoa correta e que prega a paz e argumenta que não foi ele que criou a crise. "Eu não falo nada em público. Muito menos agrido ninguém em público...quando eu recebo esse tipo de coisa, depois de um post desse, é realmente muito desagradável. Inverta. Imagine se eu chamasse alguém de mentiroso em público", diz Bebianno e conclui a mensagem perguntando o motivo do ataque. 

Bolsonaro responde acusando o ex-ministro de pregar uma nota no site Antagonista para tentar mostrar que não havia crise entre os dois e pede para que ele "restabeleça a verdade", ameaçando parar de dialogar com Bebianno. Em seguida, o presidente fala sobre o escândalos dos candidatos laranjas.

"Querer empurrar essa batata quente desse dinheiro lá pra candidata em Pernambuco pro meu colo, aí não vai dar certo. Aí é desonestidade e falta de caráter. Agora, todas as notas pregadas nesse sentido foram nesse sentido exatamente, então a Polícia Federal vai entrar no circuito, já entrou no circuito, pra apurar a verdade. Tudo bem, vamos ver daí… Quem deve paga, tá certo? Eu sei que você é dessa linha minha aí", conclui Bolsonaro.

Num áudio posterior, Bebianno nega que tenha vazado informações para a imprensa e lembra que o caso das candidaturas laranjas foi revelado pela Folha de São Paulo e apenas replicado pelo Antagonista. O presidente volta então a acusar o ex-ministro de ser informante da imprensa.

Bebianno nega novamente ter vazado informações e também diz que não tem nenhum envolvimento com o escândalo. "A minha tarefa como presidente interino nacional foi cuidar da sua campanha. A prestação de contas que me competia foi aprovada com louvor, é… Agora, cada Estado fez a sua chapa. Em nenhum partido, capitão, a nacional é responsável pelas chapas estaduais. O senhor sabe disso melhor do que eu", destaca.

"Cada chapa foi montada pela sua estadual. No caso de Pernambuco, pelo Bivar, logicamente. Se o Bivar escolheu candidata laranja, é um problema dele, político. E é um problema legal dela explicar o que ela fez com o dinheiro. Da minha parte, eu só repassei o dinheiro que me foi solicitado por escrito... Eu não tenho nada a ver com isso", ressalta.

O ex-ministro conclui a mensagem acusando o presidente de estar "envenenado" e afirma estar com a consciência tranquila.

Advogado, Bebianno ganhou a confiança da família ao assumir a defesa de Bolsonaro em algumas ações. Foi ele que articulou a manobra que tirou Bolsonaro do Patriota e viabilizou sua candidatura pelo PSL. Ele assumiu o comando do partido interinamente em 2018, como figura de confiança de Bolsonaro. Após a vitória nas urnas, deixou a chefia da legenda e ganhou um cargo no governo.

O caso de Bebianno se complicou com a revelação, por meio de uma reportagem da Folha de S. Paulo, de que ele liberou 250 mil reais de verba de campanha para a candidatura de uma ex-assessora à Assembleia Legislativa pernambucana. A maior parte do dinheiro foi para uma gráfica pertencente ao atual presidente do PSL, Luciano Bivar, no município de Amaraji, no interior de Pernambuco. 

CN/ots

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