Governo austríaco convida nove nações dos Bálcãs para debater soluções para a crise migratória. Grécia fica de fora do encontro, o que eleva as tensões entre Viena e Atenas.
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Pouco antes do início de uma cúpula sobre migração com líderes dos Bálcãs, o governo austríaco anunciou a possibilidade de enviar suas Forças Armadas ao exterior e ajudar países no controle de suas fronteiras.
"A Áustria é favorável ao reforço dos controles fronteiriços ao longo da rota dos Bálcãs e, com isso, está oferecendo à Macedônia também o apoio de soldados austríacos", disse o ministro da Defesa da Áustria, Hans Peter Doskozil, nesta quarta-feira (24/02).
O Ministério da Defesa já enviou representantes a Skopje, a fim de esclarecer com as autoridades locais as necessidades do país vizinho à Grécia.
Viena convocou para esta quarta-feira uma cúpula intitulada "Gerenciamento conjunto da migração", que inclui a presença de ministros de Albânia, Bósnia, Bulgária, Croácia, Kosovo, Macedônia, Montenegro, Sérvia e Eslovênia.
A Grécia, país europeu mais afetado pela rota dos migrantes e refugiados, não foi convidada, elevando assim as tensões entre Viena e Atenas.
O Ministério do Exterior da Grécia reagiu e afirmou que a exclusão significa que a cúpula é "uma tentativa de tomar, sem a Grécia, decisões que afetam diretamente a Grécia e as fronteiras gregas".
Os ministros devem discutir questões como a gestão de fronteiras e o combate a contrabandistas de seres humanos, além da melhora da troca de informações. "É importante pararmos o fluxo de refugiados ao longo da rota dos Bálcãs", afirmou a ministra do Interior da Áustria, Johanna Mikl-Leitner.
A cúpula em Viena também tentará obter posições unificadas visando o encontro dos ministros do Interior da União Europeia (UE), agendado para esta quinta-feira.
Segundo Doskozil, o interesse numa solução europeia para a crise migratória segue em pauta, mas enquanto o registro de imigrantes não funcionar corretamente na Grécia, não houver uma redistribuição dos refugiados e nem uma cooperação com a Turquia, medidas nacionais seguirão sendo implementadas.
Nas fronteiras austríacas, o número de soldados foi aumentado, desde segunda-feira, de 450 para 1.450. No fim de 2015, Viena havia decidido enviar até 2.200 soldados às fronteiras para lidar com a chegada de migrantes.
Pressão sobre Berlim
No sudeste da Europa e na Áustria há um clima de incerteza em relação ao que pode acontecer caso a Alemanha deixe de praticar sua "cultura de boas-vindas".
O ministro austríaco do Exterior, Sebastian Kurz, exigiu uma mensagem clara de Berlim. Em entrevista ao tabloide alemão Bild, Kurz disse esperar que a Alemanha "diga se ainda está pronta para receber refugiados e quantos, ou se não está mais disposta a isso".
"No ano passado, a Áustria teve o dobro de pedidos de asilo per capita do que a Alemanha", afirmou o ministro, defendendo a mudança de rumo político de Viena. "Isso não pode acontecer uma segunda vez."
Nunca tantas pessoas estiveram em fuga como em 2015. Muitos delas seguiram para a Europa, com o objetivo de chegar à Alemanha ou à Suécia. Confira uma restrospectiva fotográfica do "ano dos refugiados".
Foto: Reuters/O. Teofilovski
Chegada à União Europeia
Esses jovens sírios superaram uma etapa perigosa da sua viagem: eles conseguiram chegar à Grécia e, assim, à União Europeia. O objetivo final, porém, ainda não foi alcançado: eles querem continuar a jornada para o norte, em direção a outros países-membros do bloco. Em 2015, a maioria dos refugiados seguiu para a Alemanha e para a Suécia.
Foto: Reuters/Y. Behrakis
Perigosa travessia do Mediterrâneo
O caminho que eles deixam para trás é extremamente perigoso. Vários barcos com refugiados, nem sempre aptos à navegação, já viraram durante a travessia do Mar Mediterrâneo. Estas crianças sírias e seu pai tiveram sorte: eles foram resgatados por pescadores gregos na costa da ilha de Lesbos, na Grécia.
Foto: Reuters/Y. Behrakis
A imagem que comoveu o mundo
Aylan Kurdi, de 3 anos, não sobreviveu à fuga. No início de setembro, ele se afogou no Mar Egeu, juntamente com o irmão e a mãe, ao tentar chegar à ilha grega de Kos. A foto do menino sírio, morto na praia de Bodrum, espalhou-se rapidamente pela mídia e chocou pessoas de todo o mundo.
Foto: Reuters/Stringer
Onde as diferenças são visíveis
A ilha grega de Kos, a menos de 5 quilômetros de distância da Turquia continental, é o destino de muitos refugiados. As praias geralmente cheias de turistas servem de ponto de desembarque, como no caso deste grupo de refugiados paquistaneses que chegou à costa da Grécia com um bote de borracha.
Foto: Reuters/Y. Behrakis
Em meio ao caos
Porém, muitos refugiados não conseguem simplesmente seguir viagem quando chegam a Kos. Eles somente podem seguir para o continente após serem registrados. Durante o verão europeu, a situação se agravou quando as autoridades fizeram com que os refugiados esperassem pelo registro num estádio, sob o sol escaldante e sem água.
Foto: Reuters/Y. Behrakis
Um navio para refugiados
Por causa da condições precárias, tumultos eram frequentes na ilha de Kos. Para acalmar a situação, o governo grego fretou um navio, que permaneceu ancorado e foi transformado em alojamento temporário para até 2.500 pessoas e em centro de registro de migrantes.
Foto: Reuters/A. Konstantinidis
"Dilema europeu"
Mais ao norte, na fronteira da Grécia com a Macedônia, policiais não permitiam mais a passagem de pessoas, entre elas crianças aos prantos, separadas de seus pais. Esta foto tirada pelo fotógrafo Georgi Licovski no local, e que mostra o desespero de duas crianças, foi premiada pelo Unicef como a imagem do ano, já que mostra "o dilema e a responsabilidade da Europa".
Foto: picture-alliance/dpa/G. Licovski
Sem conexões para refugiados
No final do verão europeu, Budapeste se transformou em símbolo do fracasso das autoridades e da xenofobia. Milhares de refugiados estavam acampados nas proximidades de uma estação de trem da capital húngara, pois o governo do país os proibira de seguir viagem. Muitos decidiram seguir a pé em direção à Alemanha.
Foto: picture-alliance/dpa/B. Roessler
Fronteiras abertas
Uma decisão na noite de 5 de setembro abriu caminho para os refugiados: a chanceler federal alemã, Angela Merkel, e o chanceler austríaco, Werner Faymann, decidiram simplesmente liberar a continuação da viagem por parte dos migrantes. Como consequência, vários trens especiais e ônibus seguiram para Viena e Munique.
Foto: picture alliance/landov/A. Zavallis
Boas vindas em Munique
No primeiro final de semana de setembro, cerca de 20 mil refugiados chegaram a Munique. Na estação central de trem da capital da Baviera, inúmeros voluntários se reuniram para receber os refugiados com aplausos e lhes fornecer comida e roupas.
Foto: Getty Images/AFP/P. Stollarz
Selfie com a chanceler
Enquanto a chanceler federal Angela Merkel era aplaudida por refugiados e defensores de sua política de asilo, muitos alemães se voltavam contra a política migratória. "Se tivermos de pedir desculpas por mostrar uma face acolhedora em situações de emergência, então este não é mais o meu país", respondeu a chanceler. A frase "Nós vamos conseguir" se tornou o mantra de Merkel.
Foto: Reuters/F. Bensch
Histórias na bagagem
No final de setembro, a polícia federal alemã divulgou uma imagem comovente: o presente que uma menina refugiada deu a um policial da cidade alemã de Passau. O desenho mostra o horror que vários migrantes vivenciaram e o quão felizes eles estavam por, finalmente, estarem em um local seguro.
Foto: picture-alliance/dpa/Bundespolizei
O drama continua
Até o final de outubro, mais de 750 mil refugiados haviam chegado à Alemanha. Mas o fluxo não parava. Sobrecarregados, os países da chamada Rota dos Bálcãs decidiram fechar suas fronteiras. Apenas sírios, afegãos e iraquianos estavam autorizados a passar. Em protesto, migrantes de outros países chegaram a costurar seus lábios.
Foto: picture-alliance/dpa/G. Licovski
Sem fim à vista
"Ajude-nos, Alemanha" está escrito em cartazes de manifestantes na fronteira com a Macedônia. Na Europa, o inverno se aproxima, e milhares de pessoas, entre elas crianças, estão presas nas fronteiras. Enquanto isso, até mesmo a Suécia retomou o controle temporário de fronteiras. Em 2016, o fluxo de refugiados deverá continuar.