Áustria põe em prática limites diários para refugiados
19 de fevereiro de 2016
Medida controversa determina que apenas 80 pessoas poderão requerer asilo por dia na fronteira sul do país. Autoridades europeias questionam legalidade das novas regras.
O governo austríaco afirma que a imposição de limites se faz necessária, uma vez que ainda não foram postos em prática os planos da União Europeia (UE) para o envio de 3 bilhões de euros à Turquia, que em troca tentará barrar o fluxo migratório rumo à Europa e prestará assistência aos refugiados.
O número diário de imigrantes que passam por solo austríaco para pedir asilo em outro país será limitado a 3.200 por dia, e apenas 80 pessoas por dia poderão requerer asilo na fronteira sul da Áustria.
Controles mais rígidos serão adotados em 12 pontos de travessia na fronteira sul do país. Uma vez que essa cotas sejam atingidas, a fronteiras serão fechadas aos demais imigrantes.
As autoridades austríacas afirmaram que, após receber 90 mil pedidos de asilo em 2015, neste ano as concessões deverão ser de apenas 37,5 mil, fazendo com que o país deixe de ser um dos membros da UE com o maior número de requerentes per capita.
Os limites anunciados pela ministra do Interior, Johanna Mikl-Leitner, foram fortemente criticados pelos parceiros europeus. "Devo dizer que não aprecio essa decisão", afirmou o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, reiterando que os líderes europeus se opõem a ações unilaterais para lidar com a crise migratória. "Estamos questionando se [a imposição de limites] está de acordo com a lei europeia, e ainda teremos uma discussão amigável a respeito."
Em carta à ministra Mikl-Leitner, o comissário de Migração da UE, Dimitris Avramopoulos, afirmou que as cotas diárias são claramente incompatíveis com as obrigações austríacas sob as leis europeias e internacionais.
O chanceler federal austríaco, Werner Faymann, reiterou que a decisão não será revogada e pediu que outros países da rota dos Bálcãs sigam o exemplo. "No ano passado tivemos em torno de 6 mil pedidos de asilo a mais do que a Itália. Temos bem mais requerentes de asilo do que a França. Qualquer um que poder ver um mapa sabe que esses dois países, por exemplo, são maiores do que a Áustria e têm mais habitantes", afirmou Faymann.
RC/ap/afp
A miséria de refugiados no norte da França
Cerca de 2 mil imigrantes padecem no frio e na lama num acampamento perto da cidade portuária de Dunquerque. Enquanto esperam por uma oportunidade de rumar para o Reino Unido, eles dependem da ajuda de voluntários.
Foto: DW/B. Riegert
No meio da lama
Estima-se que um acampamento próximo à comuna de Grande Synthe, perto da cidade portuária de Dunquerque, no norte da França, abrigue 2 mil pessoas em pequenas tendas. À noite, o frio é intenso, e, quando chove, o local fica repleto de lama.
Foto: DW/B. Riegert
Persistência
Lizman vem da região curda do Iraque. "Em casa estamos em guerra", diz ele, que tem como objetivo chegar à Inglaterra. O iraquiano montou um café numa das barracas do acampamento, onde os jovens matam o tempo.
Foto: DW/B. Riegert
Objetivo: Reino Unido
Para proteger a barraca da sujeira e do frio, o iraquiano Asis conseguiu um martelo emprestado. O jovem curdo quer atravessar o Canal da Mancha e chegar à Inglaterra. Para isso, ele teria que pagar até 5.000 euros a um traficante. "Tem que ser melhor do outro lado", espera.
Foto: DW/B. Riegert
Sopro de esperança
O número de crianças que vive no acampamento repleto de lixo e lama não é claro. Voluntários coletaram ursinhos de pelúcia e os distribuíram na "barraca das crianças".
Foto: DW/B. Riegert
Perspectivas
Uma criança perdeu esta boneca na lama. Da mesma maneira, a esperança de muitas pessoas acaba desaparecendo no acampamento. À noite é muito fria, e não há iluminação. Apenas alguns banheiros químicos e chuveiros funcionam.
Foto: DW/B. Riegert
Voluntários do Reino Unido
O britânico Chris Bailey serviu como soldado no Iraque. Agora ele ajuda migrantes que querem chegar ao seu país. "A situação aqui é pior do que a de alguns lugares que vi na guerra", diz o veterano. Ele distribui cobertores e botas de borracha que foram doadas.
Foto: DW/B. Riegert
Bem-vindos à França
Além de chá, Denise (à esq.) e Maryse oferecem um bom papo aos imigrantes. Elas moram em frente ao acampamento. Uma rua separa dois mundos completamente diferentes. "As autoridades não se importam", opina Denise. Muitos vizinhos querem que os migrantes saiam dali.
Foto: DW/B. Riegert
Onde está o governo?
Um voluntário batizou com nomes de políticos europeus algumas das vias que levam até o precário acampamento. Esta, por exemplo, é a "Avenida François Hollande", porque o governo francês não se importa com o local. A polícia não dá segurança alguma. Moradores relatam violência entre grupos de imigrantes, principalmente à noite.
Foto: DW/B. Riegert
Voluntários da Alemanha
O número de refugiados que chegam a Munique diminuiu. "Aqui nós seremos necessários", diz Sinan von Stietencron da Volxküche München, iniciativa que distribui alimentos a migrantes na cidade alemã. Com a cozinha móvel, ele viajou com amigos da Baviera para o Canal da Mancha.
Foto: DW/B. Riegert
Emergência
A organização de ajuda humanitária Médicos sem Fronteiras (MSF) vacinou os moradores do acampamento contra sarampo e gripe. Especialmente as crianças acabam doentes, devido à umidade, ao frio e às péssimas condições de higiene. A MSF montou uma estação de emergência em Grande Synthe, a primeira unidade operacional da organização no coração da Europa.
Foto: DW/B. Riegert
Seguir adiante
Agachado dentro de sua barraca, Asim diz que fugiu do "Estado Islâmico" no Iraque. Ele se esforça para manter o pequeno espaço limpo e até oferece um chá para a repórter da DW. "Todos querem seguir adiante", diz o iraquiano.
Foto: DW/B. Riegert
A última estação
O porto de Dunquerque fica a 10 quilômetros do acampamento. As chances de conseguir chegar à Inglaterra partindo daqui são mínimas. Quase ninguém quer entrar com um pedido de asilo na França. O que fazer agora? Pagar um transporte clandestino para atravessar o Canal da Mancha? Recuar para a Bélgica ou Alemanha? Ou simplesmente esperar?