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SaúdeÁustria

Áustria planeja lockdown para não vacinados contra covid-19

23 de outubro de 2021

Governo austríaco anunciou que, se ocupação de leitos de UTI com pacientes covid-19 atingir nível crítico, pessoas não imunizadas poderão sair de casa apenas em casos excepcionais, como compras essenciais e trabalho.

Uma moça e um rapaz de máscara e roupas de inverno aguardam em uma estação de trem.
Na Áustria, 17% da população ainda não pretende se vacinarFoto: Tobias Steinmaurer/picturedesk.com/picture alliance

O governo da Áustria anunciou nesta sexta-feira (22/10) que vai fechar ainda mais o cerco aos não vacinados contra a covid-19, impondo, inclusive, lockdown aos que se recusarem a se imunizar.

De acordo com as novas regras, se mais de 600 leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTI) forem ocupados por pacientes com covid-19 (33% do total disponível), os não imunizados poderão sair de casa apenas em casos excepcionais, como para fazer compras essenciais ou ir trabalhar. Não estão incluídas na regra pessoas que não podem se vacinar, como menores de 12 anos, para as quais não há uma vacina aprovada.

"Estamos prestes a cair em uma pandemia de não vacinados", disse o chanceler federal austríaco, Alexander Schallenberg.

Atualmente, 220 leitos de UTI estão ocupados com pacientes covid-19 na Áustria, o equivalente a aproximadamente 11% do total.

No país, cerca de 61,5% da população está completamente imunizada contra a doença, de acordo com a plataforma Our World in Data, da Universidade de Oxford.

No entanto, uma pesquisa recente do Austrian Corona Panel Project (ACPP), da Universidade de Viena, mostrou que 17% dos austríacos ainda não pretende se vacinar contra a covid-19 e 8% estão hesitantes.

Peso nos ombros dos não vacinados

Schallenberg descartou um novo lockdown para vacinados e recuperados da doença. "As decisões que tomamos hoje não têm efeito sobre aqueles que foram vacinados", reforçou.

Para o chanceler, deve ficar claro para toda a população que "há muita responsabilidade sobre os ombros" dos não vacinados, referindo-se à ocupação das UTIs, que também repercute em pacientes com outras doenças.

"Como chanceler federal, não permitirei que o sistema de saúde fique sobrecarregado porque ainda temos muitos hesitantes e procrastinadores", afirmou.

Restrições mesmo com testes negativos

Se for excedida a marca de 500 leitos de UTI ocupados com pacientes covid-19 (25% da capacidade total), as pessoas não vacinadas serão barradas em locais como restaurantes, hotéis, eventos, instituições culturais, instalações de lazer e eventos esportivos, mesmo que apresentem um teste negativo de coronavírus, seja ele de antígeno ou PCR. Os detalhes ainda estão sendo acertados e devem ser divulgados em breve pelo ministro da Saúde, Wolfgang Mückstein.

"Vamos diferenciar entre os protegidos e os testados", destacou. 

Como Schallenberg, ele apelou a todos para que se vacinem. "Há uma alternativa às restrições: vacinação", enfatizou o ministro, lembrando que as restrições podem ser evitadas, caso mais pessoas se vacinem. 

Críticas da oposição

Alguns políticos criticaram a decisão do governo. O presidente ultradireitista Partido da Liberdade (FPÖ), Herbert Kickl, disse que "o governo federal não sabe mais o que fazer".

"É um passo que nos lembra os capítulos mais sombrios da nossa história. Com a ameaça de privação de liberdade, as pessoas são coagidas a se vacinarem", afirmou.

Em setembro, nas eleições municipais, a Áustria foi surpreendida pelo desempenho de um novo partido criado para se opor às restrições impostas na pandemia de covid-19.

O Menschen-Freiheit-Grundrechte (MFG) conquistou um assento no parlamento do estado da Alta Áustria ao obter mais de 6% dos votos.

Segundo Michael Brunner, líder do partido, a principal preocupação da legenda é a proteção dos direitos fundamentais.

"Nossos antepassados lutaram muito por esses direitos e não vamos desistir", disse Brunner, que critica abertamente o uso de máscaras, a realização de testes de coronavírus e a vacinação de crianças e jovens contra a covid-19.

Pichação em muro de cidade austríaca diz "não se vacinem"Foto: Reinhard Kaufhold/dpa/picture alliance

Endurecimento das regras na Europa

Muitos países da Europa vêm impondo regras a não vacinados, para incentivar que as pessoas se imunizem. A Alemanha, por exemplo, aboliu os testes gratuitos, já que, em muitos locais, é obrigatório apresentar comprovante de vacinação, de recuperação ou um teste negativo.

Na Itália, desde 15 de outubro, todos os trabalhadores (cerca de 23 milhões de pessoas) precisam apresentar um passe sanitário para acessar os locais de trabalho. Os trabalhadores devem comprovar que se vacinaram contra a covid-19, se recuperaram da doença ou apresentar testes negativos, que são gratuitos apenas para quem não pode se imunizar por motivos de saúde.

Quem não apresentar o documento e precisar se ausentar devido à doença não receberá pagamento nos dias em que estiver afastado.

Resistência à vacinação em países do leste europeu

Uma nova onda de covid-19 se alastra pela Europa, sobretudo em países do Centro e do Leste, onde as taxas de imunização se mantêm mais baixas. A alta nos casos em vários países faz com que governos reimponham restrições e deixa em alerta o restante do continente.

A Rússia, que vem registrando há dias recordes no número de mortes devido ao coronavírus, decretou um feriado prolongado de uma semana para tentar conter o avanço da doença. Os dias entre 30 de outubro e 7 de novembro não serão considerados dias úteis, forçando os trabalhadores a ficarem em casa, embora os salários sejam mantidos. Regiões poderão estender o decreto, dependendo das situações locais.

Na terça-feira, o prefeito de Moscou, Serguei Sobyanin, afirmou que cidadãos com mais de 60 anos não vacinados terão que ficar em casa por quatro meses.

Não só a Rússia enfrenta resistência da população frente à vacina, mas também outros países do Leste Europeu. Na União Europeia, os Estados-membros com as menores taxas de imunização ficam na região, como Bulgária, Romênia, Croácia, Polônia, Letônia e Estônia.

A Letônia decretou um novo lockdown de pelo menos quatro semanas, com escolas, lojas e restaurantes fechados. Já a Romênia, enfrenta escassez de caixões, com uma morte por coronavírus a cada cinco minutos. 

le (apa, ots)