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É falso vídeo sobre tatuagens gratuitas com rosto de Putin

Joscha Weber | Rachel Baig
15 de setembro de 2022

Com dezenas de milhares de visualizações, vídeo que alega ser da DW mostra supostos residentes de casa de saúde alemã sendo tatuados de graça com imagens de políticos russos. Tanto autoria como conteúdo são falsos.

Cenas de vídeo falso sobre tatuagens com rosto de Putin
A intenção das tatuagens, segundo o vídeo, seria "levar os líderes russos à morte, como bonecos de vodu vivos" Foto: Quelle: Screenshots Twitter/Telegram10

Um homem de barba branca, usando óculos e um chapéu, está sentado em uma poltrona olhando fotos. Apresentado no vídeo como "Horst Bauer", ele então aparece tatuando pessoas em seu estúdio. Há ainda cenas de uma casa de saúde alemã e seus supostos residentes – que estariam sendo tatuados de graça com imagens de Vladimir Putin, Serguei Lavrov e outros políticos russos. A ideia, segundo o vídeo, seria "levar os líderes russos à morte, como bonecos de vodu vivos".

Absurdo? Sim. Mas é exatamente isso que alega um vídeo em inglês que tem circulado no Telegram e no Twitter e já foi visto dezenas de milhares de vezes. O clipe de um minuto foi editado como se fosse um vídeo da DW e sugere ser uma produção da rede internacional de notícias alemã.

O vídeo não somente não é de autoria da DW, como seu conteúdo é completamente falso. Trata-se de uma compilação de vários vídeos antigos e de diferentes fontes.

Usando pesquisa de imagem, a DW descobriu, por exemplo, que uma das cenas não mostra um residente de um centro de cuidados paliativos, mas um recordista do Guinness, o livro dos recordes. Em 2016, o britânico Jack Reynolds fez uma tatuagem aos 104 anos, tornando-se a pessoa mais velha a ser tatuada.

Reynolds morreu em 2020 e, portanto, não teria como ser residente da Casa de Saúde Anna Katharina, na cidade de Dülmen, no oeste da Alemanha, como afirma o vídeo.

"Um absurdo"

A instituição, que só tomou conhecimento do vídeo após um questionamento da DW, se disse chocada. "Isso é desinformação direcionada", afirma Stephan Chilla, presidente da Heilig-Geist-Stiftung em Dülmen, fundação responsável pela Casa de Saúde Anna Katharina.

"Em nenhum momento os residentes da casa de saúde fizeram tatuagens em nossas instalações, isso é um absurdo", prossegue Chilla. O vídeo reflete "a insolência e o desrespeito sem fim por nossos residentes e nossa equipe". A Heilig-Geist-Stiftung apresentou uma queixa-crime à polícia.

Na verdade, as cenas que mostram a Casa de Saúde Anna Katharina vêm de um vídeo de apresentação da instituição datado de 2017. Portanto, também não são filmagens atuais do centro de cuidados paliativos em Dülmen, que acolhe pessoas gravemente doentes cujos cuidados no ambiente familiar não são mais possíveis.

Outras incoerências

As imagens do suposto tatuador Horst Bauer também são antigas. E ele não tem esse nome: o artista que aparece no vídeo é o conhecido tatuador Doc Price, de Plymouth, na Inglaterra. Ele próprio diz ser o tatuador mais velho do mundo.

A equipe de checagem de fatos da DW encontrou um documentário de maio de 2021 que mostra Price em seu estúdio de tatuagem: é possível reconhecer várias cenas dele no falso vídeo.

E as incoerências vão além do conteúdo. Alguns detalhes gráficos do vídeo – como tipografia e o posicionamento do texto e do logo da DW – revelam que não se trata de um vídeo feito pela emissora alemã. Esses erros ficam claros quando o vídeo falso é comparado com um vídeo real da DW.

Detalhes gráficos do vídeo não seguem os padrões da DW

Além de tudo, também são notáveis os muitos erros gramaticais e ortográficos no vídeo.

Traços levam à Rússia

Esta não é a primeira vez que um vídeo falso alegando ser da DW circula na internet. Em junho, uma conta em japonês no Twitter direcionada à guerra na Ucrânia compartilhou um suposto vídeo sobre um criminoso refugiado ucraniano. Mais uma vez, a história era falsa, e o vídeo não era da DW.

Mas o clipe sobre as tatuagens de líderes russos parece ter ido mais longe: uma postagem no Telegram com o vídeo alcançou mais de 25 mil usuários, além de muito mais compartilhamentos em outras plataformas.

Especialistas veem evidências claras de que os rastros das produções falsas levam à Rússia. Josephine Lukito, professora da Escola de Jornalismo e Mídia da Universidade do Texas, vê "estruturas profissionais" por trás dos vídeos falsos.

Grande parte da desinformação pró-Rússia pode ser atribuída à Internet Research Agency (IRA), uma fábrica russa de propaganda online que está ativa desde 2012.

"O objetivo de longo prazo dessa desinformação que emana da Rússia é semear desconfiança no sistema de mídia", disse Lukito à DW. Nesse processo, a credibilidade da imprensa também é deliberadamente explorada para outros fins. Trata-se de um fenômeno relativamente novo de desinformação, em que notícias supostamente sérias são publicadas sob nomes falsos.

Especialistas alertam para uma intensificação da campanha de desinformação russa nos próximos meses, em meio ao agravamento da crise de energia.

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