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"É impossível o Irã não responder à morte de Soleimani"

Rodion Ebbighausen rpr
3 de janeiro de 2020

Especialista questiona se governo americano calculou potencial de conflito no Oriente Médio ao decidir matar o mais poderoso general iraniano e teme uma guerra total entre EUA e Teerã.

O aiatolá Ali Khamenei beija o general Soleimani em Teerã: figuras mais poderosas da República Islâmica
O aiatolá Ali Khamenei beija o general Soleimani em Teerã: figuras mais poderosas da República IslâmicaFoto: ravapress.ir

Qassim Soleimani, líder da poderosa Força Quds da Guarda Revolucionária iraniana, foi morto nesta sexta-feira (03/01) por um bombardeio americano em Bagdá ordenado por Donald Trump.

O general Soleimani era chefe da unidade de elite responsável pelo serviço de inteligência do Irã e por conduzir operações militares secretas no exterior.

Para Sanam Vakil, vice-chefe e pesquisadora sênior do programa para Oriente Médio e Norte da África o instituto Chatham House de Londres, uma resposta iraniana à morte do general é inevitável.

Em entrevista à DW, ela diz que uma escalada na região é provável, sobretudo no Iraque, e no momento considera difícil evitar um conflito militar total entre Teerã e Washington.

DW: Qual é a importância de Soleimani no Irã?

Sanam Vakil: Qassim Soleimani era um estrategista e general muito bem sucedido e desenvolveu a doutrina atual da política externa iraniana. Acredita-se que a doutrina tenha obtido muito sucesso ao afastar as ameaças das fronteiras iranianas e fortalecer as relações assimétricas de Teerã com atores não estatais em todo o Oriente Médio.

Soleimani tinha uma relação muito próxima com o líder supremo do Irã. No entanto, o general trabalhava dentro do sistema da Guarda Revolucionária.  A sua morte vai ser incrivelmente celebrada e lamentada ao mesmo tempo dentro do Irã. E vai ser quase impossível para a República Islâmica não responder ao seu assassinato.

Qual era a estratégia de Soleimani?

A sua estratégia foi construída com base na ideia de defesa avançada, que era afastar as ameaças da fronteira iraniana. Ele construiu fortes laços com o Hisbolá no Líbano e com grupos de milícias no Iraque. Essa estratégia expandiu a influência do Irã de uma forma muito pouco convencional e desestabilizadora em toda a região, mas protegeu o Irã e deu alavancagem a Teerã em alguns países.

O que esperar do Irã agora?

É muito complicado agora prever a resposta imediata iraniana. Eu acho que provavelmente o primeiro passo do governo iraniano será lamentar a morte de Qassim Soleimani e fazer uma grande cerimônia de luto por ele. Ao mesmo tempo, eles vão planejar como responder à morte. Será impossível para o governo iraniano não responder à sua morte. Portanto, a questão é na verdade é como será essa resposta.

Penso que vai haver uma série de consequências que poderemos ver nos próximos dias. Primeiro de tudo, a escalada no Iraque é a forma mais provável que eu acho que os iranianos vão responder. Este é um lugar que já está em conflito e que tem um vácuo de poder.

Outra possibilidade é aumentar a atividade de enriquecimento de urânio. Ao mesmo tempo, não podemos ignorar que o Irã pode começar a atacar navios no Golfo Pérsico e pode até atacar um país do Golfo Árabe com mísseis, semelhante aos ataques de 14 de setembro.

Por que os EUA mataram Soleimani?

O ataque foi preventivo. Foi baseado no fato de que as agências de inteligência dos EUA tinham informações sugerindo que Soleimani estava planejando novos ataques a funcionários do governo e militares dos EUA no Oriente Médio. Mas não tenho certeza se o governo americano pensou em algumas das consequências potenciais da sua ação ou se está preparado para proteger os seus militares das consequências deste conflito se o Iraque virar uma zona de guerra, com mísseis iranianos atacando bases americanas e mais perdas de vidas americanas. É muito difícil não ver um conflito militar total entre Teerã e Washington.

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