É melhor ser ateu que católico hipócrita, sugere papa
23 de fevereiro de 2017
Em missa matinal no Vaticano, Francisco critica fiéis que levam vida dupla, sem seguir o que a Igreja prega. "Muitos católicos são assim. Eles escandalizam", diz.
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O papa Francisco manifestou críticas a membros de sua própria Igreja nesta quinta-feira (23/02), sugerindo que é melhor ser ateu que um dos muitos católicos que ele disse levarem uma vida dupla e hipócrita.
"O escândalo é dizer uma coisa e fazer outra; é ter vida dupla. Vida dupla em tudo: sou muito católico, vou sempre à missa, pertenço a esta e àquela associação, mas minha vida não é cristã", criticou o pontífice. "Não pago o que é justo aos meus funcionários, exploro as pessoas, faço jogo sujo nos negócios. Muitos católicos são assim. Eles escandalizam."
O papa citou como exemplo um empresário católico de férias numa praia do Oriente Médio enquanto os trabalhadores de sua companhia, quase falida, ameaçavam fazer uma greve justa porque não recebiam os salários.
"Quantas vezes ouvimos dizer: 'Ser católico como aquele, melhor ser ateu'. O escândalo é isso. Destrói. Joga você no chão", afirmou, apontando que isso acontece todos os dias. "Basta ver os telejornais e ler os jornais."
"A vida dupla provém do seguir as paixões do coração, os pecados mortais que são as feridas do pecado original [...] A todos nós, a cada um de nós, fará bem, hoje, pensar se há algo de vida dupla em nós", concluiu na missa matinal no Vaticano.
Desde que foi eleito papa em 2013, Francisco disse repetidamente a padres e fiéis católicos que pratiquem o que a religião prega. Em seus sermões, ele já condenou o abuso sexual de crianças por padres, disse que católicos na máfia excomungam a si mesmos e pediu aos cardeais da Igreja que não atuassem como "príncipes".
Menos de dois meses após assumir o papado, ele causou polêmica ao declarar que cristãos deveriam ver ateus como pessoas boas se eles fizerem o bem.
LPF/rtr/lusa
Papa Francisco faz 80 anos
No aniversário do pontífice argentino, a DW relata alguns detalhes de sua trajetória, desde a vida familiar de Jorge Bergoglio, passando pelo arcebispado de Buenos Aires, a suas ideias reformistas para a Igreja Católica.
Foto: Reuters/T. Gentile
Descendente de imigrantes italianos
Jorge Mario Bergoglio (2º da esq.) nasceu em 17 de dezembro de 1936 na capital argentina, Buenos Aires, como o mais velho de cinco irmãos. Depois de trabalhar como técnico em química, aos 22 anos o descendente de imigrantes italianos filiou-se à Ordem dos Jesuítas e começou a estudar teologia e filosofia.
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Arcebispo democrático
Em 1998, aos 62 anos, Bergoglio foi nomeado arcebispo de Buenos Aires. O principal representante da Igreja Católica na metrópole argentina era conhecido por gostar de andar de metrô, sobretudo para conversar com os mais pobres.
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Habemus Papam
Em 2013 o religioso argentino foi eleito pelo conclave no Vaticano, tornando-se o 266º líder da Igreja Católica. Como papa Francisco 1º, ele sucedeu ao alemão Bento 16, que renunciara por se sentir inapto a atender às exigências físicas e mentais do pontificado, devido à saúde frágil.
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Papa argentino
Jorge Bergoglio é o primeiro latino-americano a liderar, como bispo de Roma, os cerca de 1,2 bilhão de católicos em todo o mundo. Ele é também o primeiro jesuíta a ocupar o cargo.
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Avesso às formalidades
Ao contrário de seu predecessor, a aparência exterior papal não é tão importante para Francisco. Assim dispensou, por exemplo, os famosos sapatos vermelhos que Bento 16 tanto gostava de usar, como parte da vestimenta oficial do líder da Igreja.
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Humilde
Em apenas três anos como líder da Igreja, Francisco já se destaca em relação aos antecessores por seu engajamento político. Durante as celebrações da Páscoa de 2016, ele lavou e beijou os pés de refugiados. Para o ritual de reconciliação, convidou também três muçulmanos que, no passado, haviam produzido armas para terroristas.
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Ponte entre as diferentes religiões
Em 2014 Francisco viajou ao Oriente Médio para reforçar a cooperação com clérigos muçulmanos e mobilizar contra a perseguição de cristãos e outras minorias religiosas na região. Na Turquia, prestou homenagem ao fundador da atual República, com uma visita ao mausoléu de Mustafa Kemal Atatürk.
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Tolerante
Em 2015, Francisco se encontrou com Fidel Castro. O ex-ditador já deveria ter sido excomungado em 1960 por decreto papal, por estatizar todas as propriedades da igreja no país durante a Revolução Cubana. O papa conversou em Havana com o líder revolucionário de formação católica, morto em 25 de novembro de 2016.
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Rigoroso
Também em 2015, Francisco visitou os EUA e discursou perante o Congresso reunido no Capitólio, em Washington, como primeiro chefe da Igreja Católica. O argentino fez um apelo aos políticos para se lembrarem de suas raízes como imigrantes ao tratarem das questões dos refugiados, e defendeu a abolição da pena de morte no país.
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Ativo na crise dos refugiados
Francisco visitou alguns campos de refugiados, como o localizado no porto de Mitilene, na ilha grega de Lesbos, em abril de 2016. Após a visita à Grécia, ele ofereceu a várias famílias de migrantes um novo lar no Vaticano.
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Visão religiosa realista
Como papa, Jorge Bergoglio mantém o interesse pelas preocupações e necessidades do cotidiano humano. Ele se interessa por pesquisa e progresso científico – como nesta visita à unidade de terapia intensiva para prematuros de um hospital de Roma.
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Abertura da Igreja
Com propostas de reforma e uma visão conciliadora sobre homossexualidade, celibato e restrição do sacerdócio, Francisco inicia uma modernização da Igreja Católica, instituição frequentemente criticada como reacionária e alienada do mundo.
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Ecumenismo vivo
Assim, em setembro de 2016 o papa convidou representantes internacionais de diferentes religiões para um congresso da paz – também com o fim de reforçar a cooperação entre os líderes espirituais no combate ao terrorismo de fanáticos religiosos.
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Papa da modernidade
Mais de 10 milhões seguem o papa no Twitter, nas enquetes ele é mais popular do que Barack Obama, Angela Merkel e muitos outros políticos internacionais. Em seus três anos como líder dos católicos, Francisco trouxe novos ares para a Igreja sediada em Roma.