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É possível o Jurassic World se tornar realidade?

Carla Bleiker (gb)12 de junho de 2015

O sangue de mosquitos presos em âmbar há milhões de anos não serve para muita coisa, mas alguns cientistas dizem que criar animais parecidos com dinossauros pode até ser possível. Um dia.

Filmszene Jurassic Park 1993
Foto: picture-alliance/AP Photo

"Bem-vindos ao Parque dos Dinossauros!" Essas palavras, ditas pelo personagem John Hammond, interpretado por Richard Attenborough, deram início a uma grande aventura para milhões de pessoas, quando o sucesso de bilheteria Parque dos Dinossauros, de Steven Spielberg, foi lançado em 1993.

Em todo o mundo, o filme sobre um parque temático onde humanos se aproximam dos dinossauros e tudo acaba mal desencadeou fantasias sobre a possibilidade de trazê-los de volta à vida – a extinção completa dos gigantes ocorreu há pelo menos 65 milhões de anos.

O recém-lançado Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros, quarto filme da série de Spielberg, deve reacender a dinomania. Mas será que a ideia de trazer os grandes répteis de volta apenas é uma loucura do cinema? Ou poderiam tiranossauros e brontossauros voltar a vagar pela Terra mesmo?

Mosquitos não vão ajudar

Para tirar o cavalo da chuva de uma vez: criar um dinossauro como fizeram os cientistas do filme não passa de ficção científica – pelo menos por enquanto. Retirar sangue e DNA de dinossauros preservados em mosquitos presos em resina fossilizada "não vão funcionar", garante o professor de paleontologia Jes Rust, da Universidade de Bonn, na Alemanha.

"O prazo limite para decifrar ou utilizar o DNA, atualmente, é de algumas centenas de milhares de anos. Na melhor das hipóteses, poderíamos, talvez, chegar a 1 milhão de anos. E isso está longe da época dos dinossauros", explicou Rust, em entrevista à DW.

Embora Rust e seus colegas já tenham encontrado âmbar com insetos antigos completamente preservados, ele reforça que é impossível achar DNA legível de dinossauros ainda hoje.

Cena de "Parque dos Dinossauros, de 1993"Foto: picture-alliance/dpa

"É como se fossem páginas de livros desintegradas em uma velha biblioteca. Os fragmentos são tão pequenos que você não consegue montá-los perfeitamente de novo", explica George Church, professor de genética da Escola de Medicina de Harvard, nos Estados Unidos.

Ainda assim, ele não descarta a possibilidade de que, um dia, alguém possa atingir a façanha que pareceu tão simples no romance escrito por Michael Crichton em 1990.

"É preciso ter cuidado quando se diz que algo não funciona. Isso não significa que nunca irá funcionar. Afinal, os cientistas estão ficando cada vez mais habilidosos. No início, o DNA mais antigo que eles conseguiam recuperar tinha apenas alguns meses, depois, centenas de anos, depois, milhares de anos, e agora eles já conseguem decodificar DNA de até 700 mil anos", diz.

Das galinhas aos dinossauros

Enquanto utilizar o DNA dos dinossauros para recriá-los pode ser algo para um futuro ainda muito distante, modificar o DNA de animais vivos para recriar a vida jurássica pode não ser tão difícil assim.

Os extintos gigantes são os ancestrais dos pássaros. Por isso, o palentólogo Jes Rust acredita que os cientistas poderiam, futuramente, modificar geneticamente o DNA de pássaros para chegar a um resultado próximo do que seria um dinossauro.

"O que poderia ser feito é algo como uma galinha com um bico que tem dentes", explica.

Se a intenção é um dino de maior porte, seria melhor optar pelo avestruz – outro pássaro cujo DNA poderia ser manipulado. O novo híbrido teria cauda e seria levemente parecido com um velociraptor, o predador inteligente da série Parque dos Dinossauros.

"Seria possível fazer uma criatura parecida com um dinossauro, digamos. Um pássaro grande com dentes e garras, algo que tem a aparência e dá a sensação de um dinossauro real", concorda Church.

O retorno do mamute

No momento, porém, o professor de genética de Harvard está trabalhando em outro grande projeto de desextinção. Caso ele e seus colegas tenham sucesso, poderia ser criado um novo parque temático, chamado "Parque Pleistoceno". Church espera trazer o mamute-lanoso de volta à vida.

O último exemplar do parente mais próximo do elefante asiático desapareceu há 4 mil anos, o que é recente o bastante para que o DNA ainda esteja legível.

Mamute: com extinção ocorrida entre 4 mil e 40 mil anos, ainda é possível encontrar amostras legíveis de DNAFoto: CC BY 2.0/Biodiversity Heritage Library

"Os mamutes não estão nem perto da barreira de 700 mil anos", diz Church, que considera a desextinção dos mamutes uma fantasia razoável. "Há mamutes por toda parte, com carcaças de 4 mil a 40 mil anos. Encontramos muitas espécies congeladas porque a tundra (região norte do planeta) está derretendo e, assim, eles ficam expostos a cada metro de neve derretida", diz Church.

O plano não é fazer uma cópia exata do mamute-lanoso. Em vez disso, Church e os colegas buscam mesclar o DNA do mamute com o do elefante para criar um híbrido – um elefante melhorado, por assim dizer.

Os pesquisadores conseguiram fazer 14 mudanças no genoma do elefante, incluindo a pele coberta por lã, uma camada mais espessa de gordura subcutânea e orelhas menores. A intenção é que o novo animal consiga sobreviver em regiões mais frias.

"O objetivo é ajudar a preservar os elefantes ameaçados de extinção e estender o seu habitat para a Sibéria e norte do Canadá. Vamos aumentar a possibilidade de os elefantes sobreviverem em família", explica Church.

Até agora, os experimentos ocorreram apenas em laboratório. Exemplares reais, claro, ainda não foram criados.

Vale a experiência?

Críticos da desextinção dizem que projetos como o de Church – ou a ideia de manipular o DNA de um pássaro para criar um animal semelhante a um dinossauro – são desnecessários e custam caro demais.

Para sorte dos humanos, o temido Tiranossauro Rex tende a permanecer extinto.Foto: Fotolia/atm2003

"Não sou fã disso porque já estamos ocupados o suficiente tentando preservar a biodiversidade que ainda temos. E mesmo se conseguirmos criar um pássaro-dinossauro híbrido, ele vai continuar sendo apenas uma curiosidade. Que utilidade há nisso?", questiona Rust.

Para os entusiastas, não é uma questão de utilidade. A ideia de ver os dinossauros novamente, não apenas seus esqueletos, detém uma profunda atração. Há, na verdade, apenas uma pequena chance de isso acontecer, mas esse fato só torna o desafio ainda mais interessante. E a desextinção, no fim das contas, não é ilegal.

"Desconheço lei ou religião que diga que não deveríamos recriar dinossauros", argumenta Church. Há algo, porém, que ele faria diferente da ficção:

"Acho que deveríamos ficar longe dos carnívoros", diz, rindo. "E também acho que o parque deveria ficar muito, muito longe das pessoas", conclui.

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