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É possível ter uma moeda única na América Latina?

Tobias Käufer
7 de junho de 2022

Inflação e a especulação assolam as moedas latino-americanas, trazendo à tona discussão sobre uma moeda única na região. Ideia é defendida por nomes como Lula e Paulo Guedes. Mas será que poderia funcionar?

Mandeiras do Mercosul lado a lado
Ideia de uma moeda comum nao é nova, mas voltou à tona recentemente. Foto: Juan Mabromata/AFP

Para Luiz Inácio Lula da Silva, trata-se da independência de toda a região: "se Deus quiser, vamos criar uma moeda na América Latina, porque não tem esse negócio de ficar dependendo do dólar", disse o ex-presidente brasileiro no início de maio.

Resta saber se isso foi apenas uma tentativa de definir um tema na agenda da campanha eleitoral antecipada ou se Lula,que lidera as pesquisas de intenção de voto para as eleições presidenciais de outubro, está realmente levando a ideia a sério.

Seja como for, a declaração gerou debate. O portal de negócios argentino El Destape perguntou: "Uma moeda única para toda a América Latina - isso é possível?".

Uma moeda chamada "Sur"

A ideia não é inteiramente nova. Fernando Haddad, candidato do PT nas eleições presidenciais de 2018 e atualmente pré-candidato ao governo de São Paulo, já havia levantado a questão de uma moeda única na América do Sul.

Em abril, o ex-prefeito da capital paulista e o economista Gabriel Galípolo trouxeram à tona novamente o tema em um artigo publicado pelo jornal Folha de S.Paulo.

Haddad e Galípolo sugeriram até mesmo um nome para a moeda digital sul-americana: "SUR", que significa "sul" em espanhol, o idioma da maioria dos países da região. E, quando uma figura de peso político como Lula defende a ideia, pode significar uma prova de que a questão tem o que é preciso para mover as pessoas política e socialmente.

O ministro da Economia do governo Jair Bolsonaro, Paulo Guedes, também defende regularmente a ciração de uma moeda única para os países do Mercosul ou no mínimo entre Argentina e Brasil.

Lula defende a ideia de uma moeda únicaFoto: Andre Penner/AP/picture alliance

Caminho não é fácil

A ideia de uma moeda única é fácil de formular, mas o caminho para ela é mais difícil. Jacques D'Adesky, da Universidade Federal Fluminense, aponta como obstáculo as diferenças e rivalidades históricas existentes, por exemplo, entre Brasil e Argentina.

"A formação de uma zona de moeda única exigiria inicialmente muitas negociações entre os futuros parceiros", disse D'Adesky à DW, reforçando que tal processo levaria anos.

O economista Leandro Dias, do banco AkinTec, de São Paulo, prefere esperar para ver se a ideia sobreviverá à atual campanha eleitoral.

Para ele, porém, em princípio, o espaço econômico do Mercosul já contribuiu para que a região trabalhasse mais em conjunto.

Atualmente, no entanto, "a maioria dos países ainda quer manter sua soberania e independência econômica", destaca Dias.

Uma moeda única sul-americana, para Haddad, visa melhorar o comércio e integrar ainda mais os países da região. De acordo com a proposta do petista, ela deve ser apoiada por um banco central sul-americano como moeda digital. Para dar o primeiro passo nessa direção, no entanto, é necessária uma declaração de intenções de vários governos para que as negociações possam começar.

Bandeira de Maduro

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, cujo país sofre com inflação crônica há anos, também trouxe recentemente de volta a ideia de uma moeda única.

Maduro sugeriu promover o Sucre, um meio de pagamento usado pela aliança de Estados Alba- grupo que inclui também Bolívia, Cuba, Nicarágua e e algumas nações menores do Caribe -, como um meio de pagamento digital regional que poderia substituir o dólar americano.

No entanto, o Sucre não passou até hoje de um status simbólico. Além disso, em vista da crise em curso na Venezuela, a confiança na competência política e econômica de Maduro na região é baixa.

Euro como modelo

A introdução de uma moeda latino-americana única teria também uma dimensão política, semelhante à do euro na Europa. A América Latina - ou a América do Sul - se aproximaria econômica e socialmente e seria vista como uma única área econômica.

O "SUR" proposto por Haddad seria, então, um precursor de um desenvolvimento político que poderia, eventualmente, levar a uma União Latino-Americana ou aos "Estados Unidos da América Latina".

*Colaborou Ramona Samuel (Rio de Janeiro)

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