1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

É redondo? É futurista? É um design Colani!

Marcus Bösch (av)16 de maio de 2006

Com quase 80 anos de idade, o designer teuto-ítalo-suíço-polonês continua reinventando o mundo. Controvertido e irreverente, ele converteu sua queda para ficção científica em formas aerodinâmicas e orgânicas.

Luigi Colani em foto de 1996Foto: AP

O universo é redondo. A Terra é redonda. Todos os projetos do designer Luigi Colani são, de alguma forma, redondos. "Do ponto de vista filosófico, a linha reta não tem justificativa para a existência", afirma o autointitulado "filósofo das formas". Em mais de 50 anos de carreira, ele projetou todo tipo de objeto do dia-a-dia, de canetas esferográficas a um navio de frete com 500 metros de comprimento.

Sacerdote do próprio culto

Carro experimental na mostra 'Colani – formas e visões do 3º milênio'Foto: AP

O elegante serviço de chá Drop, de Rosenthal, em forma de gota, é um trabalho de Colani. Assim como a câmara fotográfica T90, da Canon – que se adapta com perfeição à palma da mão – e a futurista cozinha esférica de Poggenpohl.

Com uma queda para a ficção científica, sobretudo nas décadas de 60 e 70 ele marcou o conceito de design na consciência do grande público. E embora atualmente Colani seja o sinônimo alemão para a arte do desenho industrial inovador, nenhum designer é tão controvertido quanto esse eloqüente sacerdote do culto de si mesmo.

"Não há uma entrevista em que ele não recrie o cosmos, ou abra guerra contra seus colegas, 'esses imbecis', ou sublinhe que na Ásia é venerado como divindade", comenta o Süddeutsche Zeitung. O jornal critica o fato de que "após o lançamento encenado como sensação", os produtos projetados por Colani "desaparecem no alçapão – não se prestam à produção em série".

Nome gravado na história do design

Consta que 70% dos projetos futuristas de Colani jamais foram construídos, a revista Der Spiegel chega a contar "menos de meia dúzia que foram fabricados e vendidos".

Modelo de locomotiva aerodinâmica a vapor projetada para a União SoviéticaFoto: AP

Porém, mesmo que proceda, o fato não parece afetar o mestre e seus seguidores. Afinal de contas, a culpa cabe sempre aos outros, os "grosseirões bitolados", os "funcionários do design" ou "executivos bem penteados".

Um adepto defende: "Mesmo se considerarmos apenas 10% dos projetos de Colani como bem-sucedidos, ainda sobra o suficiente para ele entrar na história do design como um dos maiores".

Infância sem brinquedos

Luigi (Lutz) Colani nasceu em 2 de agosto de 1928 em Berlim, filho de um ítalo-suíço e de uma polonesa. Ambos o incentivaram desde cedo à criatividade, privando-o, por princípio, de todo tipo de brinquedo convencional.

Em compensação, forneceram-lhe uma fabulosa oficina de trabalhos manuais. Aos 4 anos, Luigi já sabia soldar e criava seus primeiros automóveis, aviões e navios com gesso, argila e massa de modelar.

Após os anos de escola, ele estudou de início escultura e pintura na Academia de Artes de Berlim. Mais tarde freqüentou cursos sobre aerodinâmica na Sorbonne. O estudo do movimento das substâncias gasosas fascinou o jovem, que – segundo suas próprias afirmativas – passara a infância ao lado de um campo de aviação. Alguns de seus protótipos para carros, aeronaves e bicicletas alcançam, nos testes em túnel de vento, índices de deixar outros construtores de queixo caído.

Continue lendo sobre a vida e obra do designer Luigi Colani

Em 1952, "diretamente dos degraus da Sorbonne", Colani é contratado pelo fabricante norte-americano de aeronaves Douglas. Em breve, o especialista em aerodinâmica e high-speed researcher estaria também mexendo em carros de corrida franceses e em 1954 receberia a Rosa de Ouro pelo Fiat 1100TV.

O Colani-Speedster e seu criador, em 2002Foto: AP

Na década de 60, chovem encomendas das indústrias automobilística e de móveis. Colani trabalha com formas orgânicas, convencido de que "nós, humanos, nos sentimos mais felizes em formas redondas, sem horizonte, e em espaços curvos".

Em 1972, ele cuida da própria felicidade: com direito a Rolls Royce e grande séquito, muda-se para o castelo de Harkotten, na Vestfália, criando uma das primeiras agências de design da Alemanha.

Deus na Ásia

Após uma primeira viagem para a Ásia em 1979, três anos mais tarde Colani já está se transferindo para o Japão. Está definitivamente enojado com "a mediocridade e subserviência" européias, no mínimo após haver perdido sua carteira de habilitação, por manobras mirabolantes ao volante.

A bordo de seu iate Caprice, o multimilionário ruma para a Ásia. "Lá sou um santo, um profeta", ostenta. E, de fato, os japoneses mostram-se altamente impressionados com o alemão de bigodes de leão marinho.

Além de abocanhar numerosos prêmios de design, Colani leciona Planejamento Urbano, desenha moda feminina e, a partir de 1991, fornece idéias para a agência espacial norte-americana Nasa.

No meio tempo, volta a dar o ar de sua graça na Europa, com a grife Bio-Design. Afinal – em sua pouco modesta opinião –, sem ele, o velho continente estava ameaçado de "cair na escuridão".

De volta ao futuro em 12 mil metros quadrados

O caixão do centro tem design de Luigi ColaniFoto: dpa

Do sarcófago de luxo ao navio de 500 metros que se amolda à curvatura terrestre, ou mesmo à toda uma "bio-cidade", Luigi Colani continua criando com energia, apesar de quase oito décadas de vida.

"O lixo que nos circunda, o mau design, a forma ruim são uma constante fonte de irritação para mim", comenta o provocador, que ostenta jamais haver utilizado uma régua. E entre a alta tecnologia e a escultura, ele continua elaborando seu projeto de mundo – inspirado somente em Hieronymus Bosch e Antoní Gaudi.

Um panorama desse mundo pode ser admirado no Colani Designcenter, de Karlsruhe-Neureuth, criado em fevereiro de 2004. Num espaço de 12 mil metros quadrados, naquela região industrial, aquele que se considera um "cigano do design" apresenta o resultado de 50 anos de criatividade irrefreável.

São esboços futuristas, geralmente adiante de seu tempo, o retorno a um futuro do qual a maior parte dos mortais pouco ou nada sabe. E Colani tem finalmente motivos para estar de bem com o Ocidente: sob sua direção nasceu uma mostra "comparada à qual o Museu de Arte Moderna de Nova York não passa de um gole de água morna".