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"É um balão vazio", diz Moro sobre vazamentos

3 de julho de 2019

Em depoimento à Câmara, ministro volta a negar conluio com Ministério Público na condução da Lava Jato e afirma que é alvo de "revanchismo". "Se as minhas mensagens não foram adulteradas, não haverá nada", diz.

Brasilien Daten-Leck - Moro vor dem Senat
Foto: picture-alliance/dpa/Agencia Brazil/M. Camargo

O ministro da Justiça, Sergio Moro, voltou a negar nesta terça-feira (02/07) que tenha feito parte de um conluio com o Ministério Público durante a condução dos casos da Lava Jato à época em que esteve à frente dos julgamentos da operação. Tal como ocorreu no mês passado, Moro foi mais uma vez ao Congresso responder a perguntas sobre o caso. Desta vez, o depoimento foi na Câmara dos Deputados.

Moro voltou a repetir que a divulgação das mensagens vem sendo tratada com "sensacionalismo". "Quando se reflete melhor com o que está sendo divulgado, é um balão vazio", disse.

Ele também voltou a defender a Lava Jato e a contestar a autenticidade de uma série de diálogos em um aplicativo de mensagens divulgados pelo site The Intercept Brasil, que levantaram questionamentos sobre a conduta do ex-juiz e seu relacionamento com os procuradores da Lava Jato. O ministro ainda afirmou que todo caso revela uma tentativa de "evitar o prosseguimento das investigações" contra suspeitos de corrupção.

"A meu ver existe uma tentativa criminosa de invalidar condenações, e o que é pior: a minha principal suspeita é que o objetivo principal seja evitar o prosseguimento das investigações. Criminosos que receiam que as investigações cheguem até eles e estão querendo se servir desse expediente para impedir que as investigações prossigam", disse.

O ministro ainda reclamou de sofrer ataques desde o início do escândalo. "Existe aí muito revanchismo. Eu tenho certeza de que se durante a condução da Operação Lava Jato eu tivesse deixado a corrupção florescer, virado os olhos para o outro lado, eu não sofreria os ataques como sofro atualmente. Tenho certeza de que isso não aconteceria", disse aos deputados.

Ele também voltou a afirmar que acredita que a divulgação das mensagens tenha relação com um ataque hacker. "Não há nenhuma dúvida de que foi um ataque hacker. É uma fantasia afirmar que não existe esse ataque."

O ministro ainda disse que as mensagens divulgadas até agora podem ter sido "total ou parcialmente alteradas", mas ao mesmo tempo afirmou que não tem nada a esconder. "Se as minhas mensagens não foram adulteradas, não haverá nada. É um balão vazio cheio de nada."

Moro também foi questionado se a Polícia Federal, que está sob a alçada de seu ministério, está investigando as movimentações financeiras do fundador do Intercept, o jornalista americano Glenn Greenwald, como foi divulgado nesta terça-feira pelo site O Antagonista, alinhado à Lava Jato. A notícia provocou temor de que o governo esteja tentando intimidar o site.

O ministro não foi categórico em negar ou confirmar a informação, e aproveitou a ocasião para criticar o Intercept.

"O que apareceu em três semanas? Um balão vazio cheio de nada. A minha impressão é que havia uma intenção de sofrerem uma espécie de busca e apreensão, para pousar como mártir da imprensa, mas isso não foi feito. Não foi feito. O que a Polícia Federal está investigando é a invasão hacker criminosa nos aparelhos celulares. Agora, a Polícia Federal faz isso com autonomia. Não estou dirigindo essa investigação", afirmou.

Paralelamente, no Twitter, o jornalista Greenwald disse que "nenhuma intimidação ou ameaça interromperá as reportagens". "Ameaças do Estado só servem para expor seu verdadeiro rosto: abuso do poder – e por que eles precisam de transparência de uma imprensa livre", escreveu.

Ironias e bate-boca

Moro ainda foi irônico em alguns momentos quando questionado por parlamentares do PT sobre a condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

"Se ouve muito da anulação do processo do ex-presidente. Tem que se perguntar quem defende, então, Sérgio Cabral, Eduardo Cunha, Renato Duque, todos esses inocentes que teriam sido condenados segundo o site de notícias. Nós precisamos de defensores também dessas pessoas, para defender que elas sejam colocadas imediatamente em liberdade, já que foram condenados pelos malvados procuradores da Operação Lava Jato, os desonestos policiais e o juiz imparcial", ironizou o ministro.

A sessão começou pouco depois das 14h desta terça-feira e ainda continuava por volta de 20h30. Mais de cem deputados, que têm direito a três minutos de fala cada, se inscreveram para fazer perguntas ao ministro. No Senado, Moro falou por mais de oito horas.

Em alguns momentos, houve principio de confusão entre deputados governistas e da oposição. Na primeira meia hora de sessão, o deputado Rogério Correia (PT-MG) chamou o procurador Deltan Dallagnol de "cretino", o que provocou reação de deputados governistas.

Deputados do PSL ou alinhados com a Lava Jato também fizeram ataques aos seus rivais petistas. Enquanto o petista Paulo Pimenta (PT-RS) falava, vários deputados governistas, entre eles, Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, levantaram uma placa onde estava escrito "Montanha". Esse foi o apelido atribuído ao deputado petista na planilha da Odebrecht.

Em outro momento, o deputado Filipe Barros (PSL) aproveitou sua fala para citar o apelido de outros deputados petistas na palinha, conforme apontado por investigadores, entre eles "Solução" (Maria do Rosário) e "Amante" (Gleisi Hoffmann).

Vários petistas, por sua vez, aproveitaram suas falas para criticar Moro. "Se houvesse o mínimo de dignidade o senhor não estaria mais ministro, no mínimo até o fim da apuração. Vossa Excelência agiu como um Batman da toga e agora é capacho de um governo", disse o deputado Alencar Santana Braga (PT-SP).

Moro também foi questionado pela deputada Gleisi Hofmann (PT-PR) se teria contas no exterior. Ele negou. "Conta no exterior é maluquice. Nunca recebi dinheiro no exterior. Sempre agi com correção. Não existe nada. Não sou eu quem sou investigado por corrupção."

Nos diálogos divulgados até agora pelo The Intercept Brasil, Moro aparece cobrando a realização de novas operações em um diálogo com um procurador, oferece uma dica sobre uma testemunha e chega a propor aos procuradores uma ação contra a defesa do ex-presidente Lula.

Na véspera do comparecimento de Moro ao Senado, o site ainda divulgou um diálogo no qual Moro se posiciona contra o envio de uma ação contra o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, uma vez que ela poderia "melindrar alguém cujo apoio é importante". Um dos vazamentos também reforçou as suspeitas de que houve estreita cooperação entre o juiz e o procurador Deltan Dallagnol, chefe da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, para evitar que tensões entre o então juiz e os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) prejudicassem as investigações durante uma fase crítica para a força-tarefa em 2016.

Mais recentemente, o site também divulgou mais conversas entre procuradores da Lava Jato. Em um dos diálogos revelados, membros da força-tarefa criticam a ida de Moro ao Ministério da Justiça e manifestam temor de que a nomeação arranhasse a imagem da operação.

O ministro já disse que não reconhece a autenticidade dos diálogos revelados, mas ao mesmo tempo falou que o material revelado até agora não atestou nenhuma conduta ilegal. Ele também chegou a classificar de "descuido" ter indicado duas testemunhas para a força-tarefa, conforme descrito em um diálogo publicado pelo Intercept.

No último sábado, porém, Moro foi mais incisivo e explorou alguns erros iniciais de edição de uma reportagem do Intercept, que indicou uma data incorretamente e trocou os nomes de dois procuradores.

"A matéria do site, se fosse verdadeira, não passaria de supostas fofocas de procuradores, a maioria de fora da Lava Jato. Houve trocas de nomes e datas pelo próprio site que as publicou, como demonstrado por O Antagonista", escreveu o ministro no Twitter.

"Isso só reforça que as mensagens não são autênticas e que são passíveis de adulteração. O que se tem é um balão vazio, cheio de nada. Até quando a honra e a privacidade de agentes da lei vão ser violadas com o propósito de anular condenações e impedir investigações contra corrupção?", questionou.

JPS/ots

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