Em resposta a atentado em base militar atribuído a grupo baseado no Paquistão, Exército indiano realiza "ataques cirúrgicos" na fronteira. Os dois países disputam há décadas a região.
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O Exército da Índia anunciou nesta quinta-feira (29/09) que lançou "ataques cirúrgicos" na noite anterior ao longo da fronteira de fato com o Paquistão, na disputada região da Caxemira. O objetivo das operações "antiterroristas" seria frustrar uma série de atentados planejados contra importantes cidades.
Segundo o tenente-general indiano Ranbir Sing, os "ataque cirúrgicos" pretendem evitar a "infiltração de terroristas" nas regiões de Jammu e Caxemira. O militar disse que houve "baixas significativas".
O Paquistão, por sua vez, afirmou que dois de seus soldados foram mortos em trocas de tiros ao tentar repelir a "incursão" indiana. Islamabad negou que a Índia tenha realizado ataques com alvos específicos, como alegou o país vizinho.
As operações foram realizadas dias depois de um grupo de quatro insurgentes, supostamente do Paquistão, se infiltrarem e executarem um ataque suicida na base de Uri, na Caxemira. O atentado na instalação militar de infantaria perto da chamada Linha de Controle (LoC), a fronteira de fato, causou a morte de 18 soldados no último dia 18 de setembro.
Nova crise
O Exército indiano atribuiu o ataque ao grupo rebelde Jaish-e-Mohammad, com base no Paquistão. Este já tinha sido implicado num ataque, em janeiro, a uma base da Força Aérea indiana em Pathankot, no estado do Punjab, no qual morreram sete soldados.
O ministro do Interior indiano, Rajnath Singh, chegou a acusar Islamabad de enviar radicais para realizar o ataque, dizendo que o país vizinho era um "Estado terrorista". O episódio abriu uma nova crise entre os dois países, levantando a possibilidade de uma escalada militar que colocaria fim a um cessar-fogo declarado na Caxemira em 2003.
Uma ofensiva da diplomacia indiana levou ao cancelamento da cúpula da Associação para a Cooperação Regional do Sul da Ásia (Saarc). Programado para novembro em Islamabad, o encontro não será realizado devido à decisão da Índia, de Bangladesh, do Butão e do Nepal de não comparecer.
A Índia e o Paquistão reivindicam a soberania sobre a Caxemira, dividida entre eles após o fim do domínio britânico, em 1947. Três guerras foram disputadas pelos dois países desde então, duas delas envolvendo a Caxemira.
LPF/lusa/efe/rtr
A face encantadora da Caxemira
Os poetas falam dessa região como uma das mais belas do planeta. Já analistas políticos acreditam ser uma das mais perigosas. Afinal, o que há na verdadeira Caxemira?
Foto: M.Davari
"A Suíça do Oriente"
Dividida entre a Índia, o Paquistão e a China, a Caxemira possui alguns dos mais bonitos e floridos campos do mundo, além de montanhas cujos picos ficam cobertos de neve no inverno. Muitas pessoas chamam o lugar de "Suíça do Oriente", e mais de 1 milhão de turistas visitaram o estado autônomo de Jammu e Caxemira, na Índia, em 2014.
Foto: picture-alliance/dpa
Região multicultural
A Caxemira é conhecida por sua ampla diversidade cultural e linguística. O vale da Caxemira é de maioria muçulmana, enquanto os Hindus são predominantes em Jammu, e Ladakh é essencialmente budista. Mas a violência interminável tem danificado o tecido social da região.
Foto: picture-alliance/Arcaid
Açafrão em abundância
A Índia é o terceiro maior exportador de açafrão do mundo, atrás somente do Irã e da Espanha – e a região da Caxemira é bastante famosa pela produção da especiaria. O açafrão, extraído de flores de Crocus sativus, é um dos temperos mais caros do mundo.
Foto: imago/Xinhua
Coberta de neve
A neve em abundância cobre a Caxemira de branco no inverno. Muitas áreas da região seriam perfeitas para esquiar, não fosse a falta de infra-estrutura. Além disso, a violência de grupos extremistas islâmicos continua sendo a maior barreira ao desenvolvimento do turismo.
Foto: UNI
Terra de muitos rios
A parte himalaia da Caxemira é fonte de água pura para mais de vinte rios, sendo os maiores o Indus, o Neelum e o Ravi. Todos eles seguem da Índia para o Paquistão.
Foto: UNI
Madeira de qualidade
A madeira do salgueiro da Caxemira também colabora para a fama da região. Especialistas dizem que esta é a melhor madeira para a produção de bastões de críquete, por exemplo. Ela também é usada para confeccionar barcos.
Foto: picture alliance/NurPhoto/Y. Nazir
Sufismo
O sufismo, dimensão mística do Islã, chegou à Caxemira no século 16, e a tradição sufi é associada principalmente à harmonia religiosa. Muitos dos santos adorados pelos moradores da Caxemira eram monges sufis. E cantores como Abida Paveem, que seguem a filosofia, fazem muito sucesso até hoje.
Foto: AP
Nas telas do cinema
A Caxemira costumava ser o cenário favorito da indústria cinematográfica indiana durante os anos 1980 – a era de ouro da região. O vale, no entanto, vem sofrendo com uma violência quase diária desde então. Hoje em dia, apenas um ou dois filmes por ano são rodados na Caxemira.
Foto: picture-alliance/dpa
Batalha nas nuvens
O conflito na Caxemira, entre a Índia e o Paquistão, se arrasta desde 1948, e especialistas têm poucas esperanças de uma solução no futuro próximo. Os dois países gastam muito com seus respectivos exércitos em cada uma das metades divididas do território. Os soldados estão espalhados pelo que alguns chamam de "o campo de batalha mais alto do mundo", na geleira Siachen (5.753 metros de altitude).