Índice global aponta aumento da fome no Brasil
11 de outubro de 2018O Brasil caiu 13 colocações no Índice Global da Fome deste ano em comparação com dados divulgados em 2017, refletindo uma tendência na direção equivocada mundo afora, alerta a Ação Agrária Alemã (Welthungerhilfe), uma das organizações responsáveis pelo índice atualizado anualmente.
Publicado nesta quinta-feira (11/10), o índice compilado também pela organização irlandesa Concern Worldwide e pelo Instituto Internacional de Investigação sobre Políticas Alimentares (IFPRI, na sigla em inglês) coloca o Brasil em 31° lugar entre 119 países, com 8,5 pontos, um valor que ainda é considerado baixo.
O Brasil obteve 5,4 pontos no índice de 2017, indicando que uma menor parcela da população passava fome. No ano passado, o país também figurava entre as nações que conseguiram diminuir a fome em mais de 50% a partir de 2000.
O estudo anual calcula o índice de fome com base nos dados consolidados mais atuais relativos a quatro indicadores: subnutrição, caquexia infantil (grau de extremo enfraquecimento e emagrecimento), atraso no crescimento e mortalidade infantil.
Para calcular os valores para 2018, as organizações compilaram dados internacionais relativos à subnutrição no período de 2015 a 2017. Os dados sobre o retardo do crescimento e a caquexia levaram em consideração o período entre 2013 e 2017, com os dados mais atuais disponíveis. E a mortalidade infantil levou em conta os dados de 2016.
Para observar a evolução no longo prazo, o índice indicou como referência os anos de 2000, 2005 e 2010. O Brasil registrou queda constante da fome nos períodos analisados, com uma média respectiva de 13, 7 e 6,6 pontos, respectivamente. Entre 2010 e 2018, a média voltou a subir, para 8,5 pontos.
Por outro lado, tanto o percentual de pessoas subnutridas no Brasil quanto o da mortalidade infantil diminuíram nos períodos de referência. Em 2000, 11,9% da população brasileira sofria de subnutrição. Em 2018, são 2,5%, e a tendência dessa é de queda, mostram os gráficos do estudo divulgados no site do índice.
As taxas de mortalidade de crianças com menos de cinco anos de idade também caíram nos períodos analisados, ainda que a curva seja mais rasa: de 3,6% em 2000 para 1,5% em 2018.
Já a taxa de disseminação da caquexia entre crianças com menos de cinco anos aumentou de 1,6% em 2005 para 5,5% em 2018, e o atraso no crescimento também registrou alta entre 2005 e 2018: de 7,1 para 13,4%.
A escala do Índice Global da Fome vai de 0 (sem fome) a 100 e tem as categorias "baixo" (de 0 a 9,9 pontos), "moderado" (de 10 a 19,9 pontos), "sério" (20 a 34,9 pontos), "muito sério" (36 a 49,9 pontos) e "grave" (número de pontos igual ou maior a 50).
Alerta contra aumento de pessoas com fome
Apesar de o índice de fome no mundo ter caído 28% desde 2000, o número de pessoas que passam fome no planeta aumentou para 821 milhões de pessoas, em parte devido a conflitos armados e efeitos das mudanças climáticas.
Segundo o especialista Klaus von Grebmer, da Ação Agrária Alemã, a tendência voltou a ir "na direção errada". "Se o ritmo do combate à fome continuar igual, 50 países não conseguirão eliminar a fome até 2030 [meta global]", disse a organização em comunicado nesta quinta-feira, durante a apresentação do relatório.
Em 51 países do mundo, a Ação Agrária Alemã avalia a situação como preocupante ou muito preocupante. A presidente da organização, Bärbel Dieckmann, exigiu mais empenho na eliminação de conflitos. "Não podemos vencer essa luta sem soluções políticas", afirmou.
As crianças são o grupo mais atingido pela fome no mundo: 151 milhões apresentam atraso no crescimento devido à subnutrição, e 51 milhões de crianças sofrem de extremo enfraquecimento e emagrecimento.
Das 821 milhões de pessoas que passam fome no mundo, cerca de 124 milhões sofrem de fome aguda, diz a Ação Agrária Alemã. O número representa um aumento expressivo em relação aos 80 milhões computados há dois anos, diz o Índice Global da Fome.
A última colocada do ranking de países é a República Centro-Africana, onde a situação é considerada grave, com um índice de 53,7 pontos. Em 2012, eclodiu uma guerra civil no país, opondo milícias da maioria cristã a grupos da minoria muçulmano. A situação se estabilizou com uma intervenção militar francesa e uma missão de paz da ONU enviada ao país, mas novos conflitos começaram em 2017.
Em outros sete países – Burundi, República Democrática do Congo, Eritreia, Líbia, Somália, Sudão do Sul e Síria – nos quais não se pôde aplicar o índice por não haver dados disponíveis, a situação da fome e da subnutrição é considerada preocupante.
Os maiores níveis de fome regionais foram registrados no sul da Ásia e na África subsaariana. "Nas duas regiões, os níveis de subnutrição, atraso no crescimento infantil, caquexia e mortalidade são inaceitavelmente altos", diz o relatório, que aponta ainda que países com conflitos armados registram níveis duas vezes mais altos que o resto do mundo.
Segundo o relatório, a América Latina foi a região com os menores índices de fome do estudo. Com uma média de 14 pontos em 2000, os países latino-americanos reduziram os critérios avaliados para 9 pontos em 2018, um índice considerado baixo pela organização.
Apesar dessa notícia parecer animadora, as autoras do estudo alertam que a América Latina e o Caribe também são exemplo simbólico para as disparidades entre os diferentes países da região.
"O Haiti é um dos apenas sete países do relatório deste ano que apresentaram um índice classificado como muito sério ou grave", diz o documento.
Outros exemplos positivos citados no índice foram Angola, Ruanda, Etiópia e Myanmar, com melhorias de mais de 45% no Índice Global da Fome.
RK/dpa/efe/epd/ots
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