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Índice Global da Paz aponta aumento de mortes em conflitos

28 de junho de 2023

Segundo o indicador, número de mortes em guerras quase dobrou em 2022, provocando uma perda de 13% do PIB global. E a Ucrânia nem foi palco do conflito mais sangrento do mundo.

Soldado do Grupo Wagner guarda uma área externa de blocos de apartamentos na cidade de Artyomovsk (Bakhmut), danificada em um bombardeio.
Aumento dramático nas taxas de mortalidade foi impulsionado principalmente pela guerra na UcrâniaFoto: Valentin Sprinchak/TASS/dpa/picture alliance

O século 21 nunca registrou tantas mortes em conflitos como agora, apontou o novo Índice Global da Paz (IGP), contabilizando mais de 238 mil pessoas vítimas só no ano passado. E a Ucrânia, que há mais de ano tenta se defender da agressão russa, não foi sequer o conflito mais sangrento do mundo.

Desde o início do século 21, a humanidade nunca pagou tão caro pela guerra: em comparação com o ano anterior, o número de mortes em conflitos quase dobrou em 2022. A guerra também provocou uma perda de 13% do PIB global, segundo o IGP, divulgado nesta quarta-feira (28/06) pelo Instituto para Economia e Paz (IEP).

O enorme levantamento do think tank mundial disse que o nível médio de "pacificação global" caiu pelo nono ano consecutivo, com as mortes em conflitos superando o pico anterior alcançado em 2014 com a guerra civil na Síria.

O aumento dramático nas taxas de mortalidade foi impulsionado principalmente pela guerra na Ucrânia, onde 83 mil pessoas foram mortas no ano passado, embora o conflito mais sangrento tenha ocorrido na Etiópia, onde 100 mil pessoas tiveram suas vidas extirpadas.

Conflito internacionalizado

Para a elaboração do IGP, são avaliados quase todos os países do mundo de acordo com 23 indicadores, divididos em três categorias: "Conflito interno e internacional contínuo", "Segurança social e proteção" e "Militarização", que refletem tanto a paz social (estatísticas criminais, número de homicídios) e os conflitos internos e externos de um país. Ao todo, o nível médio de "tranquilidade global", conforme medido pelo índice, deteriorou-se em 0,42%.

Segundo Steve Killelea, fundador e presidente executivo do IEP e um dos autores do relatório, a tendência mais perceptível foi a internacionalização dos conflitos: atualmente, 91 países estão envolvidos em algum tipo de confrontamento, em comparação com 58 em 2008.

"Isso não é necessariamente bom ou ruim", disse Killelea à DW. "Alguns podem estar envolvidos em operações de manutenção da paz, como a CEDEAO [Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental]. Por um lado, mais países estão se envolvendo em guerras no exterior, mas também podemos dizer que estamos nos tornando mais internacionalizados na forma como trabalhamos juntos."

Isso pode parecer surpreendente para muitos, dado que a intervenção militar ocidental tem sido reduzida na última década. Os Estados Unidos e a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) já se retiraram do Iraque e do Afeganistão, por exemplo. Mas, conforme aponta Killelea, os EUA ainda estão envolvidos em conflitos – sendo agora inclusive os maiores apoiadores da Ucrânia.

'Guerras são difíceis de vencer'

Para Killelea, o novo índice mostra que "as guerras são realmente difíceis de vencer". No Iêmen e na Síria, os conflitos já duram 9 e 12 anos, respectivamente, e em nenhum deles há perspectiva aparente de uma vitória militar.

"Mesmo os militares mais bem equipados do mundo acham difícil vencer uma população local que não quer ser invadida e tem bons recursos", disse Killelea. Ele acrescenta que isso se deve à sofisticação e à disponibilidade de armamento moderno, que estão fazendo com que guerras assimétricas sejam cada vez mais fáceis de ser mantidas. "Quase qualquer pessoa com treinamento básico em engenharia pode agora detonar bombas remotamente, ao tempo que as armas têm muito mais precisão." O relatório também aponta que o número de grupos não governamentais usando drones dobrou entre 2018 e 2022, enquanto o número total de ataques com drones quase triplicou no mesmo período.

O resultado dessas tendências é que a guerra (e a paz) se mostram notavelmente duráveis: a Islândia continua sendo o país mais pacífico do mundo, uma posição que ocupa no índice desde 2008, enquanto o Afeganistão foi classificado como o país menos pacífico do mundo por oito anos consecutivos. Da mesma forma, Iêmen, Síria, Sudão do Sul e República Democrática do Congo estão entre os dez países menos pacíficos do mundo desde que o índice foi lançado, em 2007.

Killelea, contudo, insiste em alguns pontos positivos: "Acho que um dos desdobramentos mais positivos ocorreu no Oriente Médio e no Norte da África, onde, nos últimos três anos, 13 países tiveram, na verdade, uma melhora nos indicadores de paz, enquanto apenas sete pioraram", destacou. "Existe hoje uma tendência duradoura de melhora no quesito paz no Oriente Médio. Portanto, essas dinâmicas todas não são necessariamente ruins."

Outra observação positiva foi que muitas nações se tornaram mais seguras internamente: no ano passado, vários países do Caribe e da América Central, por exemplo, registraram reduções nas taxas de terrorismo doméstico e homicídios.

O preço da guerra

Uma das descobertas mais marcantes do relatório é o custo econômico da guerra. No total, guerra e violência custaram ao mundo 17,5 trilhões de dólares no ano passado, ou 12,9% do PIB global. Para os países mais afetados por conflito, o impacto é particularmente devastador: a Ucrânia, por exemplo, gastou 63% de seu PIB na defesa contra a invasão russa.

A ameaça de conflitos futuros também é alarmante: conforme o relatório, um potencial bloqueio chinês a Taiwan, por exemplo, levaria a uma queda na produção econômica mundial equivalente ao dobro da perda ocorrida como resultado da crise financeira global de 2008.

Claro, muitas empresas de armas também ganham dinheiro com a guerra, mas de acordo com o índice, esses ganhos econômicos são irrisórios quando comparados com as despesas que guerra e militarização impõem. "Se eu construir um porta-aviões, isso pode me custar 20 bilhões de dólares para construí-lo e 500 milhões de dólares por ano para mantê-lo em funcionamento", disse Killelea. "O melhor que pode acontecer é eu não ter que usá-lo. Mas esse dinheiro poderia ser usado para estimular negócios, no sistema de saúde, onde teria um benefício muito mais produtivo para a economia."

 

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