Ópera de Viena estreia obra de uma mulher pela primeira vez
9 de dezembro de 2019
Em seus 150 anos de existência, o venerável teatro apresentou exclusivamente óperas de compositores. "Orlando", de Olga Neuwirth, abre novos horizontes, com desafios musicais e irreverente temática LGBTQ.
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A estreia da ópera Orlando, da compositora Olga Neuwirth, neste domingo (08/12) na Ópera Estatal de Viena (Wiener Staatsoper), foi um evento de vanguarda em mais de um aspecto. Acima de tudo, trata-se a primeira obra composta por uma mulher executada no venerável teatro dominado pela autoridade masculina, em seus 150 anos de existência.
Um certo ceticismo cercava o evento, já que a ex-punk nascida em 1968 tem fama de enfant terrible da cena de música contemporânea austríaca, cultivando um estilo que mistura desde estética renascentista a sons pop e recursos eletroacústicos ao vivo. No entanto, apesar de algumas vaias isoladas quando desceu a cortina final, a récita foi celebrada como uma vitória total, coroada por longo aplauso.
Baseado no romance homônimo da escritora inglesa Virginia Woolf (1882-1941), o libreto da dramaturga francesa Catherine Filloux reconta a história de um jovem aristocrata da época elisabetana. Imortal, ele descobre a poesia, e vira mulher com o passar dos séculos. Transformado em filme por Sally Potter, em 1992, Orlando é hoje uma "bíblia" para a comunidade LGBTQ.
A versão operística não termina na década de 1920, como o romance original, mas continua a história pelo presente adentro, abordando tópicos de fluidez de gênero, apimentados com irreverentes palavras de ordem feministas, e culminando com um apelo contra a repressão feminina e pelas múltiplas identidades. Ao fim, são celebradas em versos explícitos todas as características sexuais externas, inclusive as intermediárias.
A meio-soprano americana Kate Lindsey foi aclamada com entusiasmo especial por sua interpretação da personagem-título. Assim como os cantores, a Orquestra Filarmônica da Ópera de Viena, regida pelo compositor e maestro alemão Matthias Pintscher, se viu diante de desafios inusitados.
A partitura cheia de extremos exige que parte dos violinos seja afinada um quarto de tom mais grave que o resto da orquestra, criando um efeito decididamente "desafinado", e inclui guitarras elétricas, sintetizador, um combo de percussionistas, além do coro e órgão da casa de ópera. "A peça exige que todo mundo dê um salto de fé. Todo mundo tem que sair de sua zona de conforto", comentou à imprensa a compositora austríaca, que além de feminista defende o amor homossexual.
Orlando encerra o mandato de dez anos do atual diretor artístico, Dominique Meyer, que assumirá o posto à frente do Teatro La Scala, de Milão. A estreia representou uma guinada no atual repertório da Ópera de Viena, até então convencional – em contraste com sua concorrente de Munique, louvada pela crítica e premiada por sua programação ousada.
Embora alguns instrumentistas tenham expressado desagrado com a música, que, segundo o jornal local Die Presse, os coloca num "humor agressivo", outros se mostraram entusiásticos. Os figurinos são da autoria da designer japonesa Rei Kawakubo, da griffe parisiense Comme des Garçons. Animações em vídeo completam a encenação.
Considerada uma das mais belas casas de ópera da Europa, a Semperoper tornou famoso o autor do projeto, o arquiteto Gottfried Semper, por causa da excelente acústica.
Foto: Fotolia/Sabine Kipus
História turbulenta
Ela é um destaque do centro histórico de Dresden. Poucos sabem que este prédio já é a terceira versão da Ópera Semper. A primeira, de 1840, foi totalmente destruída por um incêndio. A segunda foi arrasada pelas bombas da Segunda Guerra Mundial. A cuidadosa reconstrução de edifício se deve também à insistência dos habitantes da cidade.
Foto: AP
Projeto desenhado no exílio
Assim era a primeira versão da Ópera Semper, que pegou fogo em 1869. O arquiteto Gottfried Semper, autor do projeto, foi encarregado de reconstruir o edifício, mas não podia voltar à cidade, por ser procurado pela polícia, acusado de participar das revoluções de 1848. Ele projetou a nova construção no exílio, em Viena, e seu filho Manfred liderou as obras em Dresden, seguindo as instruções do pai.
Foto: DW/S. Bartlick
Destruição na Segunda Guerra
Mas a segunda versão da Ópera Semper também não durou muito. O bombardeio de Dresden, em fevereiro de 1945, destruiu palco e auditório. O resto do edifício foi consumido por um incêndio. Nos anos do pós-guerra, a fachada foi refeita, e a reconstrução do interior começou em 1977. Exatamente 40 anos depois de sua destruição, a ópera foi reaberta em 13 de fevereiro de 1985.
Foto: picture alliance/zb
Gesso minimiza risco de incêndio
Graças aos inúmeros esboços originais de Semper, muitos detalhes puderam ser reconstruídos. Nos trabalhos no teto do foyer, os restauradores descobriram até mesmo alguns afrescos originais. O revestimento da parede, que parece de carvalho, é feito de gesso pintado. Com a ideia, Semper visou reduzir o risco de incêndio.
Foto: DW/Elisabeth Jahn
Suntuosas escadarias
As colunas de mármore no hall de entrada, através do qual o visitante se aproxima do salão, o ponto alto da casa, também são imitações. Elaboradas meticulosamente, elas não se prestaram a reduzir custos, mas a corresponder ao estilo escolhido por Semper: o alto renascimento italiano.
Foto: DW/Elisabeth Jahn
Camarote para convidados
No salão da Ópera Semper, a reconstrução trouxe algumas mudanças. Para uma melhor visualização, o piso e as fileiras de assentos foram ligeiramente inclinados. Para ganhar mais espaço, a parede foi colocada uns poucos metros para fora. Em troca, diversos camarotes deixaram de existir. Apenas um sobrou, bem no meio, reservado a convidados do governo do estado da Saxônia.
Foto: DW/Elisabeth Jahn
Lugares cobiçados
Concertos, óperas e balés são realizados neste palco frequentemente com casa lotada. A Ópera Semper, com seus 1.300 assentos, é a casa de ópera economicamente mais lucrativa da Alemanha. Atores e cantores não precisam de microfone, graças à excelente acústica. A orquestra da casa, a Sächsische Staatskapelle, está entre as mais antigas do mundo.
Foto: DW/Elisabeth Jahn
Original derretido
O lustre, pendurado no teto ornamentado do salão, pesa 1,9 tonelada e é preso por inúmeras cordas. Ele sobreviveu, como por milagre, às bombas na Segunda Guerra, mas não à sede por metais não ferrosos dos primeiros anos da Alemanha Oriental. O original foi derretido. O lustre atual é uma réplica.
Foto: DW/Elisabeth Jahn
Foyer principal
Estes corredores arqueados do saguão principal no primeiro andar encantam os visitantes da ópera nas pausas dos espetáculos. Aqui também os ornamentos do teto em estuque puderam ser restaurados de acordo com os desenhos originais de Semper. As grandes janelas convidam a um olhar para fora, onde fica a Theaterplatz, a praça mais importante de Dresden do ponto de vista da história da arquitetura.
Foto: DW/Elisabeth Jahn
Theaterplatz
Nos arredores da Theaterplaz (praça do teatro) estão a igreja barroca Katholische Hofkirche e o palácio renascentista Residenzschloss, onde residiam os reis, e que foi recentemente restaurado. No canto direito, o Schinkelwache, prédio em estilo clássico. No verão, a praça é palco de concertos ao ar livre.
Foto: DW/Elisabeth Jahn
A Florença do Elba
A Ópera Semper (no canto direito) é uma das várias atrações turísticas reconstruídas do centro antigo de Dresden. Para os habitantes de Dresden, ela é mais do que uma mera casa de ópera. Graças à sua restauração, o edifício devolveu à cidade um pedaço de sua antiga silhueta, assim como de sua identidade, se tornando um sinal de reconciliação com o passado.