"Ópera do Malandro" estreia nos palcos alemães
31 de janeiro de 2013No palco da Neuköllner Oper, os arcos da Lapa são o cenário da adaptação alemã da peça Ópera do malandro, de Chico Buarque de Hollanda, que estreia nesta quinta-feira (31/01) em Berlim. O espetáculo de cerca de duas horas de duração apresenta para o público alemão uma das grandes obras do teatro brasileiro.
Muitos espectadores se surpreenderão, pois a história apresentada na peça não é totalmente desconhecida dos alemães. Chico Buarque se inspirou em A ópera dos três vinténs, de Bertolt Brecht e Kurt Weill, para escrever a Ópera do malandro.
Esse aspecto intercultural foi relevante para a diretora alemã na hora de escolher o texto. "Eu acredito que essa era a melhor peça para uma coprodução brasileira e alemã, pois Brasil e Alemanha estão reunidos numa peça só", declarou Lilli-Hannah Hoepner, diretora da peça, à DW Brasil.
Apesar dessa ligação próxima, esta é a primeira vez a que versão brasileira é encenada no país europeu. "Eu fiquei surpresa quando descobri que essa peça nunca tinha sido montada na Alemanha, pois o público aqui gosta muito de A Ópera dos três vinténs, e quando ela é montada sempre é um sucesso", relatou Hoepner.
Para a diretora, a encenação do texto de Buarque em Berlim faz parte de um círculo de trocas entre as duas culturas. "Para mim era importante essa volta. Uma obra alemã foi levada para o Brasil, trabalhada lá e agora essa versão volta para a Alemanha. Eu não queria fechar o triângulo no Brecht, eu queria continuar a curva. Eu pego novamente o texto brasileiro, olho como uma alemã e, a partir da minha visão, adapto essa peça", explicou Hoepner, que adaptou o texto para alemão juntamente com Bernhard Glocksin e a brasileira Luciana Rangel.
A peça escrita na década de 1970 ainda continua atual. Chico Buarque tratou de temas como a corrupção e o envolvimento da polícia com a criminalidade. Na adaptação de Hoepner, poucas mudanças foram feitas, apenas alguns temas atuais, como a Copa de 2014 e a pacificação de favelas no Rio, foram inseridos. "Modificamos muito pouco, apenas acrescentamos algumas coisas para trazer a peça para um contexto mais atual", contou a diretora.
A peça conta a história de Max Overseas, um malandro que vive de dar golpes. Max se casa com Teresinha, filha de Duran e Vitória, um dono de bordéis e uma cafetina. Duran e Vitória não aceitam o casamento da filha e decidem eliminar Max. Essa tarefa cabe a Chaves, o corrupto chefe da polícia.
Coprodução Brasil-Alemanha
Alemães e brasileiros trabalharam juntos durante todo o processo de produção do espetáculo, da tradução à encenação. Testes foram realizados para a escolha dos atores. Hoepner desejava um elenco misto e acabou encontrando quatro alemães e quatro brasileiros para os papéis.
Por incrível que pareça a um espectador brasileiro, o papel de Max Overseas é interpretado pelo ator alemão Daniel Schröder. "Entre os participantes da seleção, foi ele quem representou o melhor malandro de todos", explicou a diretora.
Um das preocupações na montagem da peça foi criar uma atmosfera brasileira no palco alemão. O coreógrafo brasileiro Rônni Maciel foi responsável pela preparação corporal do elenco. "Procurei trazer o ritmo e o temperamento brasileiro para o palco", disse Maciel.
As músicas de Chico Buarque foram mantidas em português para evitar que a poesia e a musicalidade original fossem perdidas. Há legendas para o público alemão.
Além disso, a diretora optou por manter o título em português devido à dificuldade de encontrar uma palavra alemã que correspondesse ao brasileiro malandro. "Perguntei para todos os meus conhecidos que sabem português como eles traduziriam malandro. Recebi umas 40 sugestões, mas nenhuma correspondia completamente. Se colocássemos todas essas sugestões no liquidificador, teríamos a tradução para malandro", disse Hoepner.
A peça fica em cartaz na cidade até o início de março.
Autora: Clarissa Neher, de Berlim
Revisão: Alexandre Schossler