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Esporte

Özil anuncia saída da seleção alemã

22 de julho de 2018

Em comunicado, jogador ataca dirigente da federação alemã, se defende por fotografia ao lado de presidente turco e diz ter sido alvo de racismo. "Sou alemão quando ganhamos, mas imigrante quando perdemos."

FIFA Fußball-WM 2018 in Russland | Mesut Özil, Deutschland
"Me sinto como se não fosse bem-vindo e penso que aquilo tudo que conquistei desde a minha estreia internacional em 2009 foi esquecido", disse Özil. Foto: picture-alliance/GES/Thomas Eisenhuth

O jogador Mesut Özil anunciou neste domingo (22/07) que não pretende mais jogar pela seleção alemã. Veterano da equipe e um dos campeões da Copa de 2014, Özil anunciou a decisão em um longo comunicado, onde apontou que foi vítima de racismo e disse ter sido transformado em bode expiatório após o fraco desempenho da seleção na Copa da Rússia. 

As maiores críticas de Özil foram direcionadas ao presidente da Federação Alemã de Futebol (DFB, na sigla em alemão), Reinhard Grindel, um ex-deputado conservador que assumiu a chefia da federação em 2016. Özil apontou que "não iria mais continuar a ser um bode expiatório para a incompetência de Grindel e sua inabilidade para desempenhar seu trabalho adequadamente".

Ele também afirmou que o dirigente foi desrespeitoso com sua origem. Alemão de nascimento, Özil, de 29 anos, tem raízes turcas. "Aos olhos de Grindel e seus apoiadores, eu sou um alemão quando ganhamos, mas um imigrante quando perdemos. Isso porque, apesar de pagar impostos na Alemanha, fazer doações para escolas alemãs e ganhar a Copa de 2014 pela Alemanha, eu ainda não sou aceito pela sociedade. Eu sou tratado como 'diferente'."

O desgaste de Özil com a seleção alemã se tornou público antes mesmo do início da Copa de 2018. Em maio, o jogador, que também atua pelo Arsenal, posou para uma foto ao lado do presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan. O episódio provocou críticas na imprensa e em parte do meio político alemão. Nos últimos anos, as relações entre a Turquia e a Alemanha se deterioraram à medida em que Erdogan passou a agir de maneira cada vez mais autoritária.

Ilkay Gündogan, colega de Özil na seleção, também posou ao lado de Erdogan. Gündogan, no entanto, divulgou sua versão sobre o episódio poucas semanas depois, enquanto Özil permaneceu em silêncio até este domingo. 

Após a eliminação da Alemanha na primeira fase da Copa da Rússia, Özil passou a ser criticado pelo seu fraco desempenho durante o torneio.

No comunicado divulgado hoje, dividido em quatro partes (todas em inglês), Özil defendeu a fotografia com Erdogan, e disse que, se tivesse se recusado a se encontrar com o presidente, isso "teria sido desrespeitoso com as raízes de meus antepassados, que sei que estariam orgulhosos de onde estou hoje em dia". Ele também afirmou que o encontro não teve caráter político.

Özil e Erdogan durante encontro em maio. Episódio provocou críticas na Alemanha. Foto: picture-alliance/dpa/Presidential Press Service

O jogador apontou que as críticas geradas pelo episódio mascaravam racismo. Segundo ele, um encontro em julho entre o ex-jogador Lothar Matthäus – campeão da Copa de 1990 pela seleção alemã – com o presidente Vladimir Putin não gerou o mesmo tipo de controvérsia na imprensa. "Eles [a imprensa] não criticaram minha performance, não criticaram a performance da equipe, apenas criticaram minha ascendência turca e o respeito que tenho pelas minhas origens", disse.

Özil também lançou acusações contra outras pessoas que o criticaram publicamente. "Usaram minha foto com o presidente Erdogan como uma oportunidade para expressar suas tendências racistas até então ocultas, e isso é perigoso para a sociedade", disse ele.

O jogador também expressou frustração por, segundo ele, ser sempre chamado de turco-alemão. "Meus amigos Lukas Podolski e Miroslav Klose nunca são apontados como teuto-poloneses, então por que eu sou turco-alemão? Porque se trata da Turquia? Porque sou muçulmano? (...) Eu nasci e fui educado na Alemanha, então por que as pessoas não aceitam que sou alemão?"

"O tratamento que recebi da DFB e de muitos outros fizeram com que eu não queira mais usar a camisa da seleção da Alemanha. Me sinto como se não fosse bem-vindo e penso que tudo que conquistei desde a minha estreia internacional em 2009 foi esquecido. (...) Quando pessoas em altas posições na DFB me tratam como o fizeram, desrespeitando minhas raízes turcas e me usando de maneira egoísta para propaganda política, então é hora de dizer chega. Não é para isso que jogo futebol, e não vou desistir e não fazer nada sobre isso. O racismo nunca e jamais deve ser aceitável."

JPS/ots

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