Último avião dos EUA deixa Cabul após duas décadas de guerra
31 de agosto de 2021
Americanos concluem missão de retirada do Afeganistão, e combatentes do Talibã assumem o controle do aeroporto.
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Combatentes do Talibã observaram o último avião dos Estados Unidos desaparecer no céu, por volta da meia-noite de Cabul nesta segunda-feira (30/08), e em seguida deram tiros de armas de fogo para cima, celebrando o fim da ocupação americana após 20 anos de guerra.
A partida da aeronave marcou o fim de uma gigantesca operação aérea, na qual dezenas de milhares de pessoas fugiram do Afeganistão com medo do retorno do Talibã ao governo, depois de eles assumirem o controle da maior parte do país e entrarem na capital neste mês.
"O último avião saiu, acabou!", disse Hemad Sherzad, um combatente do Talibã que estava no aeroporto internacional em Cabul. "Não posso exprimir minha felicidade em palavras. Mais de 20 anos de sacrifícios funcionaram."
Em Washington, o general Frank McKenzie, chefe do Comando Central dos Estados Unidos, anunciou o fim da guerra mais longa da história do seu país e dos esforços de retirada, dizendo que os últimos aviões decolaram de Cabul um minuto antes da meia noite-local no Afeganistão. "Não retiramos todos os que queríamos ter retirado", afirmou.
Com a saída de seus últimos militares, os Estados Unidos encerraram sua guerra de duas décadas com o Talibã de volta ao poder. Muitos afegãos seguem com medo do movimento fundamentalista islâmico e de mais instabilidade no futuro, e há registros esporádicos de assassinatos e outros abusos ocorridos em áreas sob o controle do Talibã, apesar de suas promessas de restaurar a paz e a segurança no país.
Mais cedo nesta segunda, militantes do braço afegão do Estado Islâmico haviam atirado uma bateria de foguetes em direção ao aeroporto, sem atingir ninguém. Durante todo o dia, aviões militares dos Estados Unidos pousaram e decolaram, apesar do ataque.
No domingo, os Estados Unidos realizaram um ataque com um drone que, segundo os americanos, visava evitar uma ameaça terrorista no aeroporto, mas deixou numerosas vítimas civis.
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"Independência completa"
"Soldados americanos deixaram o aeroporto de Cabul, e nossa nação obteve a sua independência completa", disse Zabihullah Mujahid, porta-voz do Talibã, no início da madrugada da terça-feira no Afeganistão.
O Departamento de Estado americano divulgou um comunicado no domingo, assinado por cerca de cem países, além da Otan e da União Europeia, informando ter recebido "garantias" do Talibã de que pessoas com documentos de viagem poderiam sair do país.
O Talibã disse que permitirá permitir viagens normalmente após assumir o controle do aeroporto, mas ainda não está claro como os combatentes irão administrar a base aérea e quais empresas voarão para Cabul, considerando as preocupações de segurança.
O Catar informou na segunda-feira que está participando de negociações sobre a operação do aeroporto com representantes afegãos e de outros países, principalmente dos Estados Unidos e da Turquia. Um membro do Ministério das Relações Exteriores do Catar afirmou que a prioridade é retomar a atividade normal do aeroporto e manter a segurança do local. O Catar é um aliado dos Estados Unidos que por muito tempo sediou também um escritório político do Talibã.
bl (AP)
Dez filmes sobre o Afeganistão
A turbulenta história do país serviu de pano de fundo para muitos filmes internacionais, como "O caçador de pipas" e "A Caminho de Kandahar".
Foto: Mary Evans Picture Library/picture alliance
"Hava, Maryam, Ayesha" (2019)
O filme mais recente da diretora afegã Sahraa Karimi estreou no Festival de Cinema de Veneza em 2019. Ele conta a história de três mulheres grávidas em Cabul. Pouco antes de a capital afegã ser tomada, Karimi enviou uma carta aberta ao mundo alertando sobre o Talibã. Depois, ela fugiu do Afeganistão e encontrou abrigo em Kiev.
Foto: http://hava.nooripictures.com
"Osama" (2003)
Durante o primeiro regime talibã (1996-2001), as mulheres não podiam trabalhar, o que representava uma ameaça existencial para todas as famílias cujos maridos foram mortos ou feridos na guerra. Em "Osama", uma jovem se veste de menino para sustentar sua família. Foi o primeiro filme a ser rodado no Afeganistão desde 1996, quando a produção de filmes foi proibida pelo Talibã.
Foto: United Archives/picture alliance
"A ganha-pão" (2017)
O premiado estúdio irlandês Cartoon Saloon criou um filme de animação com um enredo semelhante: "A ganha-pão", baseado no romance best-seller de Deborah Ellis, é sobre Parvana, de 11 anos, que assume a aparência de um menino para ajudar sua família. O filme foi produzido por Angelina Jolie e foi indicado ao Oscar de melhor desenho animado.
A adaptação cinematográfica do best-seller de Khaled Hosseini trata de temas universais como culpa e redenção. A história está ancorada no turbulento último meio século do Afeganistão: a derrubada da monarquia, a intervenção militar soviética, o êxodo em massa de refugiados afegãos e o regime do Talibã. O diretor foi o cineasta suíço-alemão Marc Forster.
Foto: Mary Evans Picture Library/picture-alliance
"A Caminho de Kandahar" (2001)
O filme do diretor iraniano Mohsen Makhmalbaf conta a história de uma afegã-canadense que retorna à sua terra natal para evitar o suicídio de sua irmã. Quando "A caminho de Kandahar" estreou em Cannes, em 2001, não atraiu muita atenção. Mas então vieram os ataques de 11 de Setembro, e o mundo quis saber mais sobre a situação das mulheres no Afeganistão.
Foto: Mary Evans Arichive/imago images
"Às cinco da tarde" (2003)
Dois anos depois, Samira, filha de Makhmalbaf, também representante do Novo Cinema iraniano, apresentou outro filme sobre mulheres afegãs em Cannes. "Às cinco da tarde" conta a história de uma jovem em Cabul devastada pela guerra. Depois que o Talibã foi derrotado, ela tenta estudar - e até sonha se tornar presidente.
Foto: Mary Evans Picture Library/picture alliance
"Neste mundo" (2002)
O filme retrata dois jovens refugiados afegãos em sua árdua jornada de um campo de refugiados no Paquistão para Londres. O diretor Michael Winterbottom filmou o drama em estilo documentário com atores amadores. O filme ganhou o Urso de Ouro e o prêmio Bafta de melhor filme em idioma não inglês na Berlinale de 2003.
Foto: Mary Evans Picture Library/picture-alliance
"O grande herói" (2013)
O filme de guerra dos EUA é baseado em um relato factual do soldado americano Marcus Luttrell. Durante a Operação Red Wings, em 2005, uma equipe de quatro pessoas tinha como alvo um grupo de combatentes do Talibã na província afegã de Kunar. Luttrell, interpretado por Mark Wahlberg, foi o único sobrevivente de uma emboscada. Um helicóptero enviado para ajudar também foi abatido.
Foto: Gregory E. Peters/SquareOne/Universum Film/dpa/picture alliance
"Rambo 3" (1988)
O terceiro filme da série com Sylvester Stallone no papel-título se passa durante a guerra soviético-afegã. Rambo vai ao Afeganistão para salvar seu ex-comandante do exército soviético. Quando lançado, supostamente o filme teria sido dedicado aos "corajosos mujahedin", que também lutaram contra os soviéticos − um mito puro para os especialistas em cinema.
Foto: United Archives/IFTN/picture alliance
"Jogos do poder" (2007)
Na década de 1980, o congressista americano Charlie Wilson arquitetou um programa secreto de financiamento para os mujahedin afegãos. O plano visava financiar armas aos combatentes, ainda considerados heróis na luta de resistência contra os soviéticos. A sátira política estrelada por Tom Hanks foi o último trabalho de direção do diretor americano Mike Nichols.