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CiênciaFrança

1804: Humboldt retorna da expedição pela América Latina

Publicado 3 de agosto de 2004Última atualização 3 de agosto de 2020

A 3 de agosto de 1804, chegaram à França o pesquisador alemão Alexander von Humboldt e seu companheiro de viagem, o médico e botânico francês Aimé Bonpland. Ambos pisavam na Europa após mais de cinco anos de expedição.

Retrato do naturalista alemão Alexander von Humboldt
Alexander von Humboldt Foto: picture-alliance/Prisma Archivo

Os aplausos na chegada a Bordeaux, na França, não eram apenas expressão de alívio – ainda algumas semanas antes, os jornais alemães haviam noticiado que o barão Humboldt morrera de febre amarela em Acapulco –, como principalmente manifestação de admiração pela façanha dos dois viajantes, que encerravam assim uma das mais importantes expedições de todos os tempos.

Da parte para o todo

Da bagagem de Humboldt e Bonpland, faziam parte 40 caixotes contendo folhas e mais folhas de anotações, bem como incontáveis amostras coletadas em suas andanças por territórios hoje pertencentes à Venezuela, Cuba, Colômbia, Equador, Peru e México. Só de plantas, os pesquisadores trouxeram 60 mil exemplares, entre os quais 3600 espécies então desconhecidas.

A pé, a cavalo, no lombo de burros e a bordo de canoas, ambos tinham percorrido planícies, escalado montanhas, atravessado rios, com uma disposição que até hoje causa admiração. Desprovidos de equipamentos alpinos, conseguiram chegar a quase 6000 metros de altitude no Chimborazo, no Equador. Precipícios intransponíveis e o mau tempo forçaram a interrupção da escalada apenas algumas centenas de metros abaixo do pico.

Analisar o material trazido e passar para o papel suas observações e conclusões foram tarefas a que Humboldt se dedicou nos 30 anos seguintes de sua vida. O resultado encontra-se expresso nos 34 volumes de Viagem às Regiões Equinociais do Novo Mundo, publicados em francês entre 1805 e 1839.

Longos preparativos

Segundo depoimentos do próprio Humboldt, ele levara seis anos se preparando para sua grande viagem ao continente então praticamente desconhecido. Apaixonado por instrumentos de medição, levou consigo 50 deles, os mais modernos de sua época, que sabia usar com precisão. Com sua ajuda, mediu temperaturas e pressão atmosférica, latitudes e longitudes, estabeleceu o percurso de rios, o perfil de montanhas e o desenho das costas.

Terras brasileiras não foram incluídas em sua expedição, ao que consta, em virtude da desconfiança da corte portuguesa em relação ao estudioso que simpatizava com os ideais da Revolução Francesa.

Saber enciclopédico

Alexander von Humboldt foi o primeiro a descrever cientificamente a transição do verão para o inverno nos Andes e as mudanças da vegetação de acordo com a altitude. Fiel a seu preceito de observar o mundo como um todo, investigando e descrevendo as inter-relações entre os diferentes fenômenos, ele é considerado o último sábio universal.

Não se restringiu a estudar a natureza do Novo Continente, mas observou e refletiu também sobre a organização social nas colônias hispânicas na América. Coletou dados econômicos sobre a agricultura e a mineração e apontou para as conseqüências nefastas da intervenção do homem na natureza, sendo assim um precursor da ecologia, conceito que só foi criado em 1866 pelo pesquisador alemão Ernst Haeckel. Adversário da escravidão, alertou que o fosso entre a privilegiada classe dos brancos e os miseráveis indígenas dificultaria o desenvolvimento dos países na região.

Ao falecer em Berlim em 1859, pouco antes de completar 90 anos, Alexander von Humboldt havia consumido quase toda sua considerável fortuna em estudos e no fomento ao trabalho de jovens cientistas. Seu nome, porém, está imortalizado não apenas em sua obra paradigmática, como também em mais de mil acidentes geográficos, localidades e instituições em todo o mundo, na corrente marítima que transporta águas frias pelo Pacífico e até numa cratera lunar.