Karl-Heinz Lummerich Publicado 15 de outubro de 2015Última atualização 15 de outubro de 2018
No dia 15 de outubro de 1880, após mais de 600 anos de obras, foram declarados oficialmente encerrados os trabalhos de construção da famosa catedral gótica.
Anúncio
No dia 15 de outubro de 1880, foram dados por encerrados os trabalhos de construção da Catedral de Colônia, que durante as obras chegou a ser o prédio mais alto do mundo. A construção fora começada em 1248, mas permaneceu interrompida por mais de 250 anos por motivos financeiros.
A pedra fundamental da Catedral de Colônia foi assentada pelo arcebispo Konrad von Hochstaden num local em que existiram igrejas desde o ano 313. A planta era do mestre de construções Girard, trazido especialmente de Amiens, na França. Seu projeto previa uma igreja gótica ainda mais majestosa, alta e elegante do que as francesas de Chartres, Reims e Amiens, a fim de abrigar um grande tesouro: o arca com as relíquias dos Três Reis Magos.
Por mais de três séculos, os construtores do templo procuraram manter-se fiéis aos planos originais. Em 1560, a obra foi interrompida, quando 90% da área total já estava em condições de uso para serviços religiosos, apesar do telhado provisório de madeira.
Interrupção e utilização para fins profanos
Falta de dinheiro e desinteresse levaram à suspensão dos trabalhos. Em 1794, Colônia foi ocupada pelas tropas de Napoleão. As lideranças religiosas da cidade buscaram exílio e a catedral foi usada por muitos anos para fins profanos. Por exemplo, como depósito de armas. Só em 1801, voltou a ser uma casa de orações.
Os primeiros apelos para concluir a construção vieram do colecionador de arte Sulpiz Boisserée e do publicista Joseph Görres, no começo do século 19. Em 1814, foram redescobertas em Darmstadt os planos para a fachada da catedral. Poucos anos depois, iniciaram-se os trabalhos de restauração.
Doações ajudaram na conclusão
A conclusão da obra entraria para a história como um dos grandes feitos do rei Frederico Guilherme 4º, da Prússia. Foi ele quem lançou, em 1842, uma nova pedra fundamental para simbolizar o reinício da construção.
Utilizando equipamentos tecnológicos já à disposição na época, o arquiteto Ernst Friedrich Zwirner terminou o projeto em apenas 38 anos. Em 15 de outubro de 1880, graças a generosos recursos do tesouro da Prússia e doações vindas de toda a Alemanha, a chamada "rainha das catedrais" era concluída oficialmente.
Na época, a Prússia protestante estava em conflito com a Igreja Católica. O arcebispo de Colônia, cardeal Paul Melchers, vivia no exílio e, no dia da inauguração da catedral, a família imperial foi recebida apenas pelo bispo coadjutor Johann Anton Baudri. A população local manteve-se discreta nos festejos de vários dias, mas não pôde negar o mérito de Frederico 4º.
As dimensões dessa obra-prima gótica são gigantescas: suas torres de 157 metros podem ser vistas num raio de vários quilômetros. A nave central mede 43 metros de altura, 145 de comprimento e 86 de largura; são 407 mil metros cúbicos de espaço interno e o peso total chega a 160 mil toneladas. Ela sobreviveu ao império prussiano e resistiu a duas guerras mundiais.
Anúncio
Poluição e o fim do mundo
Ao fim da Segunda Guerra Mundial, Colônia era uma das cidades alemãs em ruínas. A catedral – apesar de danificada por 14 bombas – sobressaía, no meio dos destroços e do caos, como uma esperança: as torres altaneiras deram coragem à população para recomeçar. Mais de 30 mil tijolos foram usados no conserto dos danos causados pelos bombardeios dos Aliados. Os últimos retoques foram dados em 1954.
Mas o prédio que nem as guerras conseguiram destruir enfrenta hoje duas ameaças constantes: o tempo implacável e a poluição. Sabe-se que, mais do que o tempo, a principal causa da deterioração lenta dos mais de 50 tipos de pedra usados na obra é a poluição atmosférica. A chuva ácida, resultante da combustão de carvão e óleo e comum em regiões altamente industrializadas, agride principalmente o calcário e o arenito usados na construção desse Patrimônio Cultural da Humanidade.
Além das pedras, estão ameaçados os 10 mil metros quadrados de vitrais e suas preciosas pinturas. Por isso, arquitetos e restauradores trabalham sem cessar na oficina permanente junto à catedral. Quando os trabalhos terminam em um lado, recomeçam em outro. Segundo uma velha superstição de Colônia, mencionada até em guias turísticos, "quando a catedral ficar definitivamente pronta, o mundo vai acabar".
Tesouros da catedral de Colônia
Das relíquias dos Três Reis Magos ao primeiro crucifixo monumental após a iconoclastia, a principal igreja da metrópole renana possui vários monumentos. Confira alguns deles.
Foto: Bahman Rafiezadeh
Três Reis Magos
O mais fascinante tesouro da catedral de Colônia é a arca com os restos mortais dos Três Reis Magos. Eles foram trazidos de Milão para Colônia no século 12, como presente do imperador alemão Frederico Barbarossa para seu chanceler, Rainald von Dassel, arcebispo de Colônia. Exames demonstraram que os ossos e as vestimentas encontrados no relicário pertencem a três homens que viveram no século 1°.
Foto: picture-alliance/ dpa
Obra de Nicolas de Verdun
A urna em ouro e prata decorada com centenas de pedras preciosas foi obra de Nicolas de Verdun, um dos ourives mais famosos da Idade Média. Em 1248, começou a construção da nova igreja em Colônia para abrigar o relicário e a multidão de peregrinos. A conclusão, no entanto, só aconteceu no século 19, após a expulsão dos franceses. Durante a ocupação, a urna foi escondida num convento em Sauerland.
Foto: picture-alliance/dpa
Vitrais ancestrais
Na catedral, há vitrais coloridos cuja execução se estende por um período de quase 750 anos. A janela mais antiga data do século 13. O tesouro mais recente é obra do pintor alemão Gerhard Richter, um dos artistas mais renomados da atualidade. Inaugurada em 2007, a janela abstrata não concorre com as demais. Lembrando pixels, as cores do vitral são as mesmas dos outros encontrados na catedral.
Foto: picture-alliance/dpa/O. Berg
Cruz de Gero
Encomendado pelo bispo Gero após os conflitos iconoclastas, por volta de 980, este crucifixo surge como a mais antiga representação monumental de Cristo na Idade Média, sendo por assim dizer a primeira cruz monumental. Outra particularidade é o fato de ela estar há mais de mil anos na catedral, algo tão pouco óbvio como a sobrevivência da arca com os restos mortais dos Três Reis Magos.
Foto: picture-alliance/akg-images
Altar dos Patronos da Cidade
Pintado por Stefan Lochner por volta de 1442, este tríptico é a principal obra da chamada escola de pintura de Colônia no gótico tardio. O altar foi escondido das tropas francesas na ocupação napoleônica, sendo transferido para a catedral após a secularização da capela onde se encontrava originalmente. Hoje, ele ocupa o centro da Capela de Nossa Senhora, onde é rezada missa todos os dias.
Foto: Imago/Schöning
Cadeiral do coro
No coro do altar da catedral, encontra-se um dos maiores e mais antigos cadeirais da Idade Média. A estrutura inferior dos bancos pôde ser datada entre 1308 e 1311. Para as 104 cadeiras, foram utilizados cerca de 29 troncos de carvalho. Os assentos serviam não somente aos cônegos e a seus representantes, mas também a visitantes. Na foto, vê-se o então decano Johannes Bastgen, em 2008.
Foto: picture-alliance/dpa/O. Berg
Exemplo para Torre Eiffel
A estrutura metálica do teto sobre as naves da catedral é outro tesouro do prédio. Este monumento dentro do monumento é uma das primeiras estruturas de telhado executadas em ferro de que se tem notícia. Os detalhes construtivos dessa obra serviram de exemplo para a Torre Eiffel, cujos engenheiros visitaram a catedral em Colônia após a sua finalização em 1880 – 20 anos antes do símbolo parisiense.
Foto: picture-alliance/dpa/F. von Erichsen
Sinos
Na catedral de Colônia, o maior e mais badalado se chama Sino de São Pedro, mais conhecido como "Dicker Pitter", "o Pedro gordo". Em 1924, ele substituiu o Sino do Imperador, que havia sido derretido na Primeira Guerra Mundial. A catedral também possui um dos mais antigos carrilhões do Ocidente, formado pelo Sino do Ângelus e pelo Sino da Transformação, inaugurados por volta de 1322.
Foto: Imago/Schöning
Gárgulas
Nas igrejas góticas, o sistema de drenagem de águas das calhas terminava numa gárgula. Essas goteiras em pedra se destinavam a escoar a água das chuvas para longe das paredes. Elas eram esculpidas quase sempre com muita fantasia: em forma de figuras grotescas, animais fantásticos e criaturas híbridas demoníacas. A catedral de Colônia possui 108 gárgulas, executadas entre os séculos 13 e 21.
Foto: picture-alliance/Rainer Hackenberg
Altar dos Três Reis Magos
Este magnífico altar barroco em mármore preto e alabastro foi esculpido entre 1668-83 por Heribert Neuss. No centro, encontrava-se uma grade de onde se podia ver a arca com as relíquias dos Três Reis Magos. Hoje ali está a chamada Virgem das Joias. Em agosto, ela se torna lugar de peregrinação para milhares de ex-iugoslavos, que não podiam ir aos seus países durante a guerra nos anos 1990.
Foto: Imago/SMID
O maior tesouro
"Vamos deixar a catedral em Colônia", diz uma música de Carnaval. Mas, na verdade, foi Colônia que não deixou a catedral. A cidade foi uma das mais destruídas na 2ª Guerra. Devido à dimensão da destruição da cidade, pensou-se até em reconstruí-la mais ao norte. A catedral, no entanto, ficou de pé. E esse foi o motivo de hoje Colônia se encontrar no lugar onde foi fundada há mais de 2 mil anos.