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História

1904: Revolta dos hereros contra colonizadores alemães

Carsten von Nahmen gh

Em 2 de janeiro de 1904 estourou uma revolta do povo banto dos hereros contra os colonizadores alemães no então Sudoeste Africano Alemão, a atual Namíbia. A resposta de Berlim foi o genocídio.

Namibia Genozid deutscher Truppen
Foto: picture-alliance/dpa/W. Gebert

A revolta surpreendeu os alemães no Sudoeste Africano Alemão. Durante 20 anos, eles tinham expandido o seu domínio na atual Namíbia usando a tática de alimentar rivalidades entre os povos inimigos dos nama e herero. Mas, desta vez, eles próprios foram as vítimas. Os revoltosos, liderados pelo cacique Samuel Maharero, matavam todo alemão que pudesse portar uma arma.

Os hereros viviam basicamente da pecuária. Passo a passo, o orgulhoso povo de pastores perdeu seus campos para os colonizadores alemães. Às vezes na base de negociações, mas frequentemente também por meio de falcatruas e violência.

A situação chegou a um ponto em que o cacique dos hereros, Samuel Maharero, conclamou seu povo e outras tribos a resistirem à dominação alemã. Numa carta ao líder nama Hendrik Witbooi, ele escreveu: "Toda a nossa subserviência e paciência em relação aos alemães não nos trouxe vantagens. Por isso, faço um apelo, meu irmão, para que participes da nossa revolta, de modo a toda a África levantar suas armas contra os alemães".

Reação violenta

Porém, esse desejo de Maharero não se tornou realidade. Os nama ficaram na expectativa, enquanto o Império Alemão reagiu com extrema brutalidade. O imperador Guilherme 2º mandou tropas comandadas pelo general Lothar von Trotha ao Sudoeste Africano Alemão.

Em carta ao governador da colônia, Theodor von Leutwein, ele anunciou uma violenta repressão: "Conheço muitas tribos africanas. Terror, violência brutal: essa é a minha política", escreveu.

Em 11 de agosto, Von Trotha cercou os hereros na decisiva batalha de Waterberg, cerca de 400 quilômetros ao norte de Windhoek. O general alemão organizou suas tropas de forma a que os hereros só podiam romper o cerco num determinado ponto, para fugir rumo ao deserto de Omaheke. Ainda assim foram perseguidos pelos alemães, segundo relatou o comando do Exército imperial.

"Ordem de extermínio"

Somente alguns poucos fugitivos conseguiram escapar para o território britânico de Betshuana. Outros tentaram romper a barreira militar alemã e voltar aos seus povoados de origem. Mas Von Trotha foi implacável. Em 2 de outubro de 1904, ele baixou uma proclamação que entraria para a história como uma "ordem de extermínio".

Esse ato de barbárie foi demais até para o governo alemão em Berlim. O chanceler imperial Bernhard von Bülow interveio junto ao imperador, argumentando que os hereros eram mão de obra indispensável para as fazendas e minas do Sudoeste Africano Alemão e, por isso, deveriam ser poupados. Guilherme 2º ainda hesitou quase duas semanas até revogar a ordem de extermínio e exigir que Von Trotha aceitasse a capitulação dos hereros.

Para a maioria dos rebeldes, porém, essa decisão veio tarde demais. Apenas cerca 15 mil de um total de 80 mil hereros escaparam do genocídio. O domínio alemão ainda persistiu por mais uma década.

Sob os auspícios sul-africanos

Em 1915, durante a Primeira Guerra Mundial, a atual Namíbia foi ocupada pela África do Sul, na época colônia britânica. Em 1920, a Liga das Nações deu à África do Sul um mandato para administrar o território, situação que perdurou até o final da década de 1980.

A luta pela libertação eclodiu em 1966, com o início das guerrilhas praticadas pela Organização dos Povos do Sudoeste da África (Swapo), de linha marxista. A Namíbia, no entanto, só se tornaria um país independente em 21 de março de 1990.