1911: "Mona Lisa" era roubada do Louvre
Publicado 21 de agosto de 2014Última atualização 21 de agosto de 2020Como quase todos os museus do mundo fecham nas segundas-feiras, o Louvre estava fechado em 21 de agosto de 1911. Somente uns poucos funcionário faziam trabalhos de manutenção e reforma nos salões do importante acervo artístico em Paris. Entre eles, o pintor de paredes Vicenzo Peruggia.
Sem testemunhas por perto, o italiano vai até a obra-prima de Leonardo da Vinci. Naquela época, o quadro Mona Lisa, de 1503, era conhecido apenas por alguns entendidos em arte, tanto que ocupava um lugar discreto no Louvre. Peruggia retira a tela da moldura e deixa o museu sem chamar a atenção. O roubo só se tornaria público no dia seguinte.
Dois anos depois, a informação de um comerciante de antiguidades levou a polícia de Florença à província de Como, no norte da Itália. Lá, o decorador Peruggia estava vendendo a pintura. Ao ser detido, ele confessou o crime e o justificou com um motivo incomum: patriotismo.
O pintor queria apenas levar de volta a seu país um dos maiores tesouros da arte italiana e, assim, vingar-se de Napoleão, que no século anterior teria confiscado a obra. Um engano de Peruggia, condenado a um ano e 15 dias de prisão. Na verdade, o próprio Da Vinci vendera o retrato Mona Lisa ao rei francês Francisco 1º, em 1516, por 4 mil táleres de ouro, um valor significativo para a época.
Reencontrada a pintura, especialistas do Louvre a levaram à Galleria degli Uffizi, em Florença, para verificar sua autenticidade. Eles identificaram o retrato como original. Desde então, Mona Lisa passou a ser bem vigiada. Hoje, a moça sorri para o público através de uma proteção especial.
O mistério de Mona Lisa e seu sorriso
Com seu "sequestro", que quase provocou uma crise cultural na Europa, Mona Lisa tornou-se famosa em todo o mundo. Numerosos entendidos passaram a discutir cada detalhe da pintura. Eles remeteriam ao local onde Leonardo pintou a mulher e à identidade da retratada. Seria ela Isabella Gualanda, uma cortesã do Vaticano, ou realmente a esposa do mercador florentino Francesco del Giocondo, motivo pelo qual o quadro também é conhecido como La Gioconda?
Outros afirmaram tratar-se, na verdade, de um autorretrato de Da Vinci, enquanto em 1914 um estudioso francês defendeu a opinião de que Mona Lisa não deveria ser vista como uma florentina histórica, mas como uma representação artística idealizada, sem necessidade de identificação da pessoa.
Os entendidos são também implacáveis no debate sobre o sorriso de Mona Lisa. Dois médicos franceses o consideraram doentio. A mulher teria sofrido uma atrofia muscular. Outros viram uma paralisia facial e há ainda quem acredite em esquizofrenia. A artista canadense Suzanne Giroux enxergou na boca atrofiada as costas nuas de um belo rapaz, quando se gira a imagem a 90 graus, e fundamentou com isto sua tese de que Da Vinci teria tendência homossexual. Até mesmo o psicanalista Sigmund Freud intrometeu-se no debate e interpretou o sorriso como sendo inspirado no da mãe do pintor, falecida precocemente.
Que Leonardo tenha talvez simplesmente retratado uma moça sorridente parece profano demais para os especialistas oficiais e os assim autodenominados.
Não bastasse a discussão teórica sobre a modelo do mestre italiano, Mona Lisa foi reinterpretada também através de novas obras, inspiradas nela. Assim, Marcel Duchamps acrescentou à figura feminina um bigode idêntico ao do ditador soviético Josef Stalin. Já Salvador Dalí instalou sobre sua cabeça um capacete prussiano. Andy Warhol não aguentou. Para o artista pop, uma Mona Lisa é pouco, ele pintou 30.
Hoje, ela segue se multiplicando. E não só como obra de arte. Degradada a ícone da cultura kitsch, ajuda a vender roupas, queijos e cigarros. Já foi vista inclusive espiando os frequentadores do banheiro de um bar, pendurada numa parede. Os tempos em que Mona Lisa decorava apenas o quarto de Napoleão são mesmo páginas viradas da história.