Publicado 5 de fevereiro de 2016Última atualização 5 de fevereiro de 2018
Em 5 de fevereiro de 1916, foi inaugurado em Zurique o ponto de encontro para artistas Cabaret Voltaire. Era o início do dadaísmo, uma tendência artística antiburguesa que se baseia no irracional.
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"O dadaísmo é o produto da tensão dialética entre os ímpetos redutivo e criativo da atividade artística." Assim o descreve a historiadora de Arte Karin Thomas. Mas é também possível expressar-se de outra forma: "Dada é a vida sem pantufas e sem paralelas, é pró e contra a unidade e decididamente contra o futuro", pois "a arte não é séria", proclamava o escritor francês Tristan Tzara.
Tudo começou em 5 de fevereiro de 1916. Poucos dias antes da Batalha de Verdun, o poeta, diretor, anarquista e místico alemão Hugo Ball promoveu a primeira soirée de seu Cabaret Voltaire na parte antiga de Zurique. Ele queria realizar lá o que chamou de "coisas bonitas".
Ball pediu a artistas plásticos, como Hans Arp, que contribuíssem com objetos de arte, e a poetas, como Tristan Tzara ou Huelsenbeck, que colaborassem com palavras poéticas. Assim, nasceram composições como as três variações sobre um motivo dado, em três línguas. Tratava-se do primeiro poema simultâneo dadaísta com o título: "O almirante tenta alugar uma casa". Humor e nonsense tinham um pano de fundo sério.
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Arte, acaso da natureza
A Primeira Guerra Mundial estava às portas. Pintores, poetas, pacifistas, filósofos e músicos de todas as nacionalidades se reuniam no Cabaret Voltaire, no solo neutro da Suíça. "Eles eram contra a sociedade pequeno-burguesa decadente, contra autoridades na política e na Igreja e, de maneira não pouco significativa, contra o aparato da arte estabelecida", como explica Raimund Meyer, responsável pela exposição Dada Global, de 1994, em Zurique.
Dada é espatifar aquilo que até então era válido, quer dizer, não mais utilizar a tinta a óleo para pintar, nem empregar a língua do modo como era usada na literatura. A arte deveria ficar ao acaso da natureza.
Por acaso, combinavam-se palavras achadas, letras, sílabas. Como por acidente, produziam-se colagens de cores, materiais, palavras, movimentos e sons. Como que acidentalmente, nasceu o nome Dada, ao folhear um dicionário.
Não havia uma orientação estilística determinada, nem uma escola definida. Pois justamente isso levou à briga com os surrealistas, que podiam até flertar com os dadaístas, mas exigindo diretrizes claras. Em 9 de abril de 1919, o movimento encontrou seu apogeu e declínio numa gigantesca exposição de arte total, com poemas simultâneos e danças de máscaras ao som de música atonal.
Fora da Suíça, contudo, o dadaísmo continuou vivendo. Em Nova York, Marcel Duchamp declarou objetos utilitários como peças de arte. Em Berlim, Huelsenbeck fundou o Club Dada, de orientação sociocrítica. O poeta e colagista sonoro Kurt Schwitters não era um de seus membros, porém seu nome está estreitamente ligado ao dadaísmo, sendo sua ursonate uma das obras mais célebres do movimento.
E o que restou do dadaísmo?
Meyer: "Se vejo o Dada como um estado de espírito, ele está em nós. Quando me remeto ao passado, as agitações estudantis em 1980, em Zurique, penso que ali, nas ruas, o Dada tomou novamente uma forma bem palpável. Quer dizer, que eu coloque algo fundamentalmente em questão, o ataque radicalmente, usando de todos os meios para isso."
Livremente baseado no Dada: Se o mundo está em ruínas, todos os meios são permissíveis. Também permaneceu algo que os dadaístas sempre rechaçaram: a indústria artística literária estabelecida. Ela incorporou o Dada, ela declarou a antiarte como arte. E, assim, Dada vive também protegido pela redoma dos museus, conservado, eternamente jovem.
Dadaísmo: a arte reage ao absurdo da guerra
Em 1916, artistas se rebelaram contra o establishment e a carnificina da Primeira Guerra Mundial. Assim surgia o movimento que celebrava o absurdo, através de performance, poesia e arte conceitual.
Foto: Gemeinfrei
Tudo começou num clube noturno
A revolução artística do dadaísmo teve início na neutra Suíça, refúgio de artistas europeus durante a Primeira Guerra Mundial. Foi lá que os dadaístas se reuniram em 5 de fevereiro de 1916, no Cabaret Voltaire, clube noturno fundado em Zurique pela cantora Emmy Hennings e o poeta Hugo Ball. Vestindo um traje cubista, Ball recita seu famoso poema absurdo "Jolifanto bambla ô falli bam ..."
Foto: Gemeinfrei
Arp, Tzara, Richter
Os artistas Hans Arp, Tristan Tzara e Hans Richter chegaram a Zurique durante a Primeira Guerra Mundial. Eles criticavam os massacres sem sentido do conflito através de suas próprias obras absurdas. Suas performances caóticas atacavam a burguesia e a Igreja.
O psicanalista e poeta alemão Richard Huelsenbeck também fugiu para Zurique e se tornou um dos membros fundadores do dadaísmo. Depois da guerra, Huelsenbeck se mudou para Berlim e, em 1920, publicou o "Dada Almanach", que incluía seu "Manifesto Dada." Nele, comparou sua famosa poesia simultaneísta a "jogar tudo numa confusão".
Foto: picture alliance/akg-images
Hannah Höch
Dadaístas se rebelaram contra interpretações tradicionais da arte. Eles eram inspirados por associações ilógicas encontradas em sonhos. As artes visuais também foram influenciadas pela introdução de novos materiais e a aceitação da imperfeição. A artista alemã Hannah Höch era especializada em colagens e montagens de fotos. Ela criou referências paradoxais, distorcendo a realidade.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Pilick
Marcel Duchamp
Ele chamava suas obras de "ready mades". Transformou um mictório enuma peça de museu, chamando-o, ironicamente, de "A fonte" e mostrou que uma roda sobre um banquinho pode ser considerada uma escultura. Duchamp também acrescentou um bigode a uma reprodução da Mona Lisa.
Foto: Getty Images/D. Kitwood
Kurt Schwitters
Ele se tornou uma estrela dadaísta solo em Hannover. Schwitters inventou seu próprio movimento artístico e o batizou de Merz. O nome surgiu através de uma montagem usando uma propaganda do banco alemão Kommerz- und Privatbank. Ele criou edifícios Merz, que eram obras de arte arquitetônicas em madeira, reboco e pintura. Também publicou revistas Merz, em que promovia sua poesia.
Foto: picture-alliance/dpa/H. Hollemann
Francis Picabia
O artista francês participou de vários movimentos. Picabia começou como impressionista, passou para o cubismo, se tornou dadaísta e acabou com os surrealistas. Suas pinturas estão cheias de alusões a sonhos e desejos reprimidos, como neste trabalho, "Dresseur d'animaux", de 1923.
Foto: picture-alliance/dpa/W. Bieri
Max Ernst
Em Colônia, Max Ernst se autodenominou Dadamax. Ele experimentava novas técnicas e materiais, integrando, por exemplo, objetos do cotidiano, como madeira e ferramentas, em uma obra de arte e chamando-a de "fruto de uma longa experiência". Também trabalhava suas experiências de guerra em colagens, usando imagens de pilotos e bombas, retiradas de reportagens ilustradas da frente de batalha.
Foto: picture-alliance/dpa
Man Ray
O americano é um dos representantes mais importantes do dadaísmo, mesmo que tenha passado depois para o surrealismo. Ray também criava associações inesperadas, sobretudo através de fotos. Esta transforma o corpo de uma musa enigmática num violoncelo. Os retratos que fez de seus colegas vanguardistas também o tornaram famoso.
Foto: picture-alliance/dpa/P. Lux
Sophie Taeuber-Arp
Às vezes, ela preferia dança às artes visuais. A artista suíça usava máscaras quando se apresentava no Cabaret Voltaire. Suas pinturas, compostas de formas geométricas, não eram provocantes. Taeuber-Arp preferia fazer círculos, quadrados e retângulos brilharem alegremente. Ela se casou com o dadaísta Hans Arp em 1922.
Foto: VG Bild-Kunst
Hans Arp
O franco-alemão era também ativo em várias formas de arte. Foi pintor, escultor e poeta. Seus trabalhos consistiam em colagens e xilogravuras. Arp colaborava frequentemente com sua mulher. O casal tinha como objetivo criar uma arte impessoal, que não era realizada por apenas uma pessoa. Ele também colaborou com Max Ernst em Colônia.
Foto: VG Bild-Kunst, Bonn 2016
André Breton
O autor do "Manifesto surrealista" conheceu em Paris o artista romeno Tristan Tzara, que era então um dos principais promotores do movimento Dada. Os dois começaram a organizar eventos dadaístas juntos. Breton publicou textos escritos por dadaístas na revista "Littérature", ajudando a popularizar o movimento na capital francesa.
Foto: picture alliance/Heritage Images/Fine Art Images