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HistóriaAlemanha

1936: Samuel Beckett desembarca na Alemanha

Paulo ChagasPublicado 4 de outubro de 2014Última atualização 4 de outubro de 2020

No dia 4 de outubro de 1936, Samuel Beckett chegou ao porto de Hamburgo. O irlandês ficou na Alemanha, então sob o regime nazista, até abril de 1937.

Foto: dpa

Quando desembarcou no porto de Hamburgo, em 4 de outubro de 1936, Samuel Beckett era um escritor quase desconhecido. Ele ficou na Alemanha, então sob o regime nazista, até abril de 1937.

Nascido perto de Dublin, Beckett havia se mudado em 1928 para Paris, cidade que conquistou seu coração. Foi aí que ele conheceu o outro grande escritor irlandês do século 20, James Joyce, do qual se tornou uma espécie de discípulo.

Durante a Segunda Guerra Mundial, Beckett permaneceu em Paris, ligando-se ao movimento clandestino de resistência. Foi forçado a fugir em 1942, mas retornou à capital francesa em 1945, depois de a cidade ser libertada da ocupação alemã. Nos anos seguintes, viveu o seu melhor período de produção literária, escrevendo suas peças de teatro Esperando Godot (1951) e Fim do Jogo (1957), entre outras.

Beckett ficou na história como o grande autor do teatro do absurdo. Apesar de o inglês ser sua língua materna, escreveu suas obras-primas em francês, por considerar que uma língua adquirida lhe traria mais disciplina e economia de expressão. Em 1969, foi agraciado com o Prêmio Nobel de Literatura.

Influências da filosofia e da pintura alemãs

Beckett conheceu a Alemanha em pleno regime nazista. Ele visitou Hamburgo, Berlim, Dresden, Munique e outras cidades menores. Seu interesse principal era conhecer as coleções de arte dos museus alemães, que eram consideradas das mais importantes da Europa.

As impressões dessa viagem, anotadas no seu diário, revelam a extraordinária curiosidade intelectual e a sede de conhecimento do escritor irlandês – ao observar em detalhes as culturas e cerâmicas do Museu Pergamon de Berlim, por exemplo. Os diários mostram claramente o talento do futuro grande escritor para reconhecer analogias entre coisas aparentemente distantes e sua sensibilidade para retratar o instante vivido.

Beckett admirava a literatura alemã e estava familiarizado com os importantes filósofos do país, como Kant, Schopenhauer e o filósofo da linguagem Fritz Mauthner. Os Diários Alemães publicam duas cartas escritas que Beckett escreveu, em alemão, a um amigo de Hamburgo.

Os Diários Alemães contêm descrições de quadros que iriam inspirar o posterior mundo visual de Beckett. Algumas técnicas empregadas no teatro de absurdo – como distorção, fragmentação e alienação – podem ser relacionadas a tendências da pintura moderna.

Arte degenerada

Durante sua viagem à Alemanha, Beckett teve a oportunidade de conhecer obras que o regime nazista considerava "arte degenerada". Elas haviam sido retiradas das salas dos museus, mas ainda podiam ser vistas nos depósitos, até serem, mais tarde, definitivamente destruídas.

Beckett conheceu vários pintores cuja obra havia sido proibida pelos nazistas. Ele pôde ver de perto o perigo que corria a arte moderna na Alemanha nazista. O regime qualificava de persona non grata não apenas os artistas, mas também marchands e colecionadores de arte moderna. Eles tinham suas obras confiscadas e eram vítimas de perseguição.

Após a Segunda Guerra Mundial, Samuel Beckett tornou-se famoso também na Alemanha, com a peça Esperando Godot. Ele regressou ao país e fez novas amizades. Na década de 1960, foi convidado para dirigir suas próprias peças no Teatro Schiller de Berlim e, posteriormente, teve a oportunidade de encenar peças de teatro para a televisão alemã.