1939: Hitler e Stalin formalizam pacto
Publicado 23 de agosto de 2014Última atualização 23 de agosto de 2022O pacto de 23 de agosto de 1939 entre os ditadores da Alemanha nazista e da União Soviética foi um cálculo cínico, e de início funcionou para ambos os lados. Adolf Hitler assegurava-se da neutralidade soviética para uma planejada invasão da Polônia. Como isso colocaria em cena as potências garantidoras do país, o Reino Unido e a França, de início o líder nazista evitava uma guerra de dois fronts.
Assim, ele queria neutralizar um possível bloqueio marítimo britânico, que na Primeira Guerra terminara com a derrota alemã. Stalin, por sua vez, acreditava que o Reich Nazista se envolveria num longo conflito com as potências ocidentais. No longo prazo, contudo, ele considerava inevitável uma guerra contra os alemães, e queria fazer uma pausa para reforçar seu arsenal. O acordo entre os ditadores também ficou conhecido como Pacto Molotov–Ribbentrop, em referência aos ministros das Relações Exteriores dos dois regimes totalitários.
Aliança para apagar países do mapa
Porém o ponto decisivo não constava do acordo oficial, e sim da ata suplementar secreta, que dividia, entre os dois arqui-inimigos ideológicos signatários, toda a região em zonas de influência, para o caso de "reconfigurações territorial-políticas". Assim, por exemplo, a Estônia, Letônia, o leste da Polônia e a Bessarábia romena cabiam à URSS como "esferas de interesse", enquanto a parte oeste da Polônia ficava para o Reich.
Em 1º de setembro de 1939, a Wehrmacht alemã atacou a Polônia. Duas semanas mais tarde, o Exército Vermelho adentrava a partir do leste, ocupando pouco a pouco os demais territórios definidos no acordo como parte da esfera de influência soviética. A divisão de todo o Leste da Europa se completou nas primeiras duas semanas da Segunda Guerra, com militares, serviços secretos e funcionários administrativos alemães e soviéticos atuando em cooperação estreita.
A Polônia desapareceu pela segunda vez do mapa. Os Estados bálticos, que haviam obtido sua independência após o fim da Primeira Guerra, em 1919, se transformaram em repúblicas soviéticas. A Bessarábia romena foi anexada à República Soviética da Ucrânia. Em 1940, a URSS ainda atacou a Finlândia.
Para os habitantes de ambos os lados da linha divisória, começaram anos de sofrimento: Hitler impunha sua ideologia territorial e de raça nas zonas ocupadas, mandando matar milhões; enquanto na parte soviética vastas parcelas da população eram expulsas, numerosos membros das antigas elites assassinados ou deportados para campos de trabalhos forçados.
O pacto entre Hitler e Stalin durou menos de dois anos. Em junho de 1941, depois de ter subjugado a metade da Europa Ocidental, o ditador nazista se sentiu bastante forte para atacar o parceiro de aliança. Foi uma autossuperestimação decisiva: já no inverno seguinte, a mesa começou a virar, do ponto de vista militar. Para os povos das "esferas de interesse", no entanto, isso significou mais anos de conflito, com miséria, expulsões e milhões de mortes.
Décadas de ditadura
O acordo teve consequências para além do fim da guerra: como a USRR pertencia às forças vencedoras, os Aliados ocidentais não puderam impedir "que os territórios designados à União Soviética no pacto Hitler-Stalin permanecessem com ela após o fim da Segunda Guerra Mundial", explica o historiador Jörg Ganzenmüller.
Só no início dos anos 90 os Estados bálticos, por exemplo, recuperaram sua independência.
Por muitos anos após o fim da guerra o pacto caiu em esquecimento. No Leste, ele fora declarado tabu durante a Guerra Fria. Na Alemanha Ocidental, não representava papel muito significativo no processamento histórico do pós-guerra. Apenas no final dos anos 1980 a lembrança do acordo Hitler-Stalin retornou ao debate público.
Em 23 de Agosto de 1989, as populações da Estônia, Letônia e Lituânia organizaram a chamada "Corrente Báltica", quando dois milhões de pessoas deram as mãos para formar uma corrente humana de mais de 600 quilômetros de comprimento, cruzando os três países, como parte dos esforços para recuperar sua independência. A data não foi escolhida por acaso, e ocorreu no 50º aniversário do Pacto Molotov–Ribbentrop.
Contudo as feridas permaneceram. Em 2009, quando o pacto completou 70 anos, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, o classificou como imoral numa "Carta aos poloneses". Porém essa admissão perdeu substância nos anos seguintes. Em 2014, poucos meses após a anexação da ucraniana Península da Crimeia pelos russos, Putin defendeu o acordo como um passo necessário, do ponto de vista da época.
No oeste, no entanto, o 23 de agosto é hoje conhecido Dia Europeu da Memória das Vítimas do Stalinismo e do Nazismo, conforme um projeto aprovado em 2009 pelo Parlamento Europeu. Em 2010, o pacto entre Hitler e Stalin foi descrito pelo então presidente do Parlamento Europeu, Jerzy Buzek, como "o conluio das duas piores formas de totalitarismo na história da humanidade".