Exibido pela primeira vez em 26 de novembro de 1942, em Nova York, o filme em preto e branco "Casablanca", dirigido por Michael Curtiz, é considerado um dos maiores clássicos da história do cinema.
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"Assisti a Casablanca mais uma vez recentemente, após longo tempo. Nos Estados Unidos, ele passa toda semana na televisão. Eu ainda acho o filme incrivelmente ágil; não há monotonia. Ele tem tudo: heroísmo, romantismo e muitos artistas fantásticos em papéis pequenos", comentou certa vez a atriz Ingrid Bergman, falecida em 1982. Mas não foi apenas a comovente história de amor entre a beldade antifascista Ilsa Lund e o honesto dono de bar Rick Blaine, interpretado por Humphrey Bogart, que tornou o filme tão popular até hoje.
No business like war business
Passada a tão festejada noite de gala, no dia 26 de novembro de 1942 em Manhattan, a película dirigida por Michael Curtiz ficou de início relativamente esquecida. Porém um bom motivo a trouxe de volta ao cartaz nos cinemas dos Estados Unidos, dois meses depois.
Com a entrada dos EUA na Segunda Guerra Mundial em dezembro de 1941, do lado dos Aliados, filmes que criticavam a Alemanha nazista ganharam prioridade em Hollywood. Para melhor promover a produção, a Warner Brothers adiou propositalmente seu lançamento em circuito comercial para o dia de encerramento da Conferência de Casablanca, em 26 de janeiro de 1943.
Foi nesta que o então primeiro-ministro britânico Winston Churchill e o presidente norte-americano na época Franklin D. Roosevelt acertaram que a guerra só poderia terminar com a capitulação incondicional de Alemanha, Itália e Japão.
Prêmios e clichês
A estratégia de marketing deu certo. Casablanca foi um sucesso de público e conquistou três Oscars, entre eles o de Melhor Filme de 1943.
Em 1992, Lauren Bacall, o grande amor e última esposa de Humphrey Bogart, perguntava-se mais uma vez por que a história de 1942 tanto atraía a todos, mesmo com o passar dos anos. Seria o espírito do patriotismo em tempo de guerra, ou as intrigas e perigos num local misterioso do deserto, ou o desespero dos apaixonados presos numa armadilha em Casablanca?
Os diálogos sob medida e várias insinuações sutis certamente impulsionaram a fama de Casablanca. Não há como negar que a película é repleta de clichês e absurdos. Contudo, nada disso conseguiu manchar sua aura, até hoje.
Por exemplo, os vistos no passaporte para a viagem a Lisboa trazem a assinatura de Charles de Gaulle, ou seja, exatamente do homem que liderava o movimento de resistência francesa contra o governo de Vichy, colaboracionista com os nazistas. E Victor Laszlo, que havia acabado de fugir de um campo de concentração, andava para lá e para cá sempre vestido com um bem passado terno tropical da alta costura parisiense.
Adulterado na Alemanha
Por ironia do destino, europeus que fugiram do continente devido à perseguição nazista interpretaram no filme tanto os papéis dos refugiados como também dos homens da SS alemã.
Para Humphrey Bogart, Casablanca foi o ponto máximo de sua carreira: o aventureiro desiludido tornado anti-herói, cinicamente calmo. Um homem de ação, como o comissário Louis Renault, da polícia francesa, atestava no seguinte diálogo na tela:
Rick Blaine:"Louis, por que acha que eu poderia me interessar em ajudar Laszlo a fugir?"
Louis Renault:"Porque eu, meu querido Rick, suspeito que por trás desse ar cínico bate um coração sentimental. Pode rir à vontade, mas estou me orientando exatamente pelo seu passado. Deixe-me só destacar dois momentos: em 1935 você contrabandeava armas para a Etiópia, em 1936 lutou na Espanha contra os fascistas."
Casablanca só foi estrear nos cinemas alemães em 1952. No entanto, numa versão abreviada e adulterada de tal forma através da dublagem, que o filme ficou desfigurado. Todas as referências ao nazismo haviam sido eliminadas. E a figura de Laszlo, membro da resistência, fora transformada em físico nuclear norueguês. A seu jeito, a Guerra Fria dos tempos de Adenauer se apoderara do passado.
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Conflito mundial e suas facetas são tema de uma série de produções cinematográficas. Confira dez filmes conhecidos, de "O grande ditador" até "A queda".
Foto: picture-alliance/United Archives/TBM
O grande ditador
A sátira de Charles Chaplin à figura de Adolf Hitler, de 1940, foi a primeira obra sonorizada do diretor, que mais tarde diria que o filme só foi feito devido ao desconhecimento sobre o alcance do terror nazista. "Se soubesse do horror dos campos de concentração, não teria podido fazer 'O grande ditador'". Em março de 1931, Chaplin foi alvo de protestos por parte dos nazistas ao visitar Berlim.
Foto: AP
Ser ou não ser
Um dos primeiros filmes que tratam do nazismo, o longa-metragem de Ernst Lubitsch narra a história de uma trupe de atores de Varsóvia durante a Segunda Guerra Mundial. Sátira veemente antinazista, rodada no ano de 1942, revela, contudo, certa ingenuidade do diretor – judeu alemão vivendo nos EUA – frente ao que ocorria na Europa.
Foto: Kinowelt/Arthaus
Kanal
O filme de 1957 do polonês Andrzej Wajda, com impressionante fotografia em preto e branco, foi premiado no Festival de Cannes. O longa-metragem encena o levante no Gueto de Varsóvia durante a Segunda Guerra, embora sua força não esteja no registro do conflito, mas no olhar sobre as tragédias individuais. O título remete à canalização de esgoto da cidade por onde os combatentes fugiram.
Foto: picture-alliance/Mary Evans Picture Library
A infância de Ivan
O diretor russo Andrei Tarkóvski assumiu um filme em andamento, transformando a narrativa militar da direção anterior em uma obra (de 1962) sobre a guerra a partir da perspectiva infantil. Tarkóvski contrapõe o passado/sonho (a infância do protagonista antes de ter a família exterminada) ao presente/real (a Rússia invadida pelos nazistas) – prenúncio de temas que o diretor viria a retomar depois.
Foto: picture-alliance/United Archives/IFTN
O ovo da serpente
O cenário deste filme do sueco Ingmar Bergman de 1977 é a Alemanha entre guerras, mais precisamente da hiperinflação de fins de 1923, mas seu tema é a gênese do nazismo no país, identificada nos anos da República de Weimar. O longa-metragem foi considerado pelo próprio Bergman seu pior filme, mas se tornou importante quando se fala em Segunda Guerra Mundial e nas raízes do regime nazista.
Foto: picture-alliance/ dpa
A trégua
Baseado no livro autobiográfico de Primo Levi, o filme de 1996 dirigido por Francesco Rosi relata a volta do escritor para a Itália após sua libertação de Auschwitz. O filme concentra-se no "retorno à vida" dos prisioneiros após a libertação dos campos de concentração, entregues à memória daquele momento atroz. Dias após ficar sabendo que seu livro seria adaptado para o cinema, Levi suicidou-se.
Foto: picture-alliance/United Archives/Impress
Moloch
Primeiro filme da tetralogia do poder do diretor russo Aleksandr Sokúrov, esta ficção de 1999 retrata Adolf Hitler e Eva Braun na mansão de descanso do ditador perto de Berchtesgaden. Com referências à iconografia romântica de Caspar David Friedrich, integrante do imaginário nazista, Sokúrov cria uma caricatura ridícula de Hitler na intimidade, expondo os medos e as misérias do ditador.
Foto: picture-alliance/United Archives/TBM
A queda
Superprodução dirigida por Oliver Hirschbiegel em 2004, A queda concentra-se nos 12 últimos dias de um Hitler alheio à realidade, escondido em seu bunker ao lado da família Goebbels. Filme altamente polêmico, recebeu críticas por arrancar o ditador do contexto histórico do nazismo, desvencilhando-o do mundo real de uma sociedade alemã que aplaudia seus discursos antissemitas em praça pública.
Foto: picture-alliance/dpa
Os falsários
O filme dirigido em 2007 por Stefan Ruzowitzky resgata um capítulo pouco conhecido da história do nazismo: o de uma operação de falsificações de dinheiro em pleno campo de concentração de Sachsenhausen. Nos anos que antecederam o fim da Segunda Guerra, 142 prisioneiros foram obrigados a falsificar milhões de dólares e libras esterlinas, com o objetivo de provocar danos à economia dos Aliados.
Foto: picture-alliance/dpa/Beta Film
Bastardos inglórios
O filme de 2009, dirigido por Quentin Tarantino, começa com a França ocupada pelos nazistas durante a Segunda Guerra. Um grupo de soldados de origem judaica planeja um atentado, enquanto uma judia, que viu a família ser massacrada, planeja vingança. Para críticos, o fim do filme é a prova de que Tarantino se exime completamente de qualquer compromisso com fatos históricos autênticos.