1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

1942: Nasce o diretor e ativista gay Rosa von Praunheim

Carlos Albuquerque

Em 25 de novembro de 1942 nascia em Riga, Letônia, o cineasta Rosa von Praunheim, principal ativista do movimento de libertação homossexual alemão.

Rosa von Praunheim em foto de 2015
Rosa von Praunheim em foto de 2015Foto: picture-alliance/dpa/T. Brakemeier

Muito teve de ser feito para que pessoas, públicas ou não, não temessem assumir abertamente sua homossexualidade. Na Alemanha, um dos principais responsáveis pela atual liberdade é o cineasta Rosa von Praunheim.

Rosa von Praunheim, cujo verdadeiro nome é Holger Mischwitsky, nasceu em 25 de novembro de 1942, em Riga, Letônia, durante a ocupação alemã. Seu nome artístico advém do "triângulo rosa" dos homossexuais nos campos de concentração nazistas, e de Praunheim, bairro de Frankfurt onde cresceu.

Após abandonar o curso de pintura da Escola Superior das Artes, em Berlim, Von Praunheim iniciou sua carreira de cineasta, no final dos anos de 1960.

Em 40 anos de atividades, Von Praunheim dirigiu, entre documentários e filmes de ficção, cerca de 70 produções. Ele mesmo se considera "um dos cineastas gays mais produtivos do planeta". Como ativista, o diretor provocou escândalo ao lançar seu semidocumentário Não é o homossexual que é perverso, mas a situação em que ele vive.

"Saiam dos banheiros, vão para as ruas"

Rosa von Praunheim sempre foi um provocador. "Saiam dos banheiros, vão para as ruas" era a mensagem do filme que acusava os gays de passividade política numa sociedade homofóbica, de se contentar com a triste vida de bares proibidos e sexo às escondidas em banheiros públicos. O filme foi lançado no Festival Internacional de Cinema de Berlim, em 1971. Durante sua transmissão pela TV pública ARD, em 1973, a televisão da Baviera saiu do ar.

Von Praunheim não atacava apenas a sociedade alemã, que somente no ano anterior anulara o parágrafo do Código Civil de 1872 que proibia relações sexuais entre o mesmo sexo. O principal alvo do diretor eram os próprios homossexuais.

Depois do filme de Von Praunheim que afirmava que "gays não querem ser gays, mas querem ter uma vida pequeno-burguesa e viver como cidadãos medianos, e que sua passividade política é agradecimento ao fato de não serem mortos", cerca de 50 grupos ativistas gays foram criados no país.

Outing de personalidades

Durante os anos de 1980 e 1990, Von Praunheim dedicou-se ao combate à discriminação dos portadores de HIV. Em 1991, no auge da crise da doença, o cineasta provocou o furor de vários homossexuais por ter declarado, em programa da rede privada de televisão RTL, que dois dos principais apresentadores da televisão alemã, Alfred Biolek e Hape Kerkeling, eram gays e tinham a obrigação de se engajar na conscientização sobre a doença.

O argumento de Von Praunheim para o outing de personalidades gays foi: "Ser gay e lésbica não será uma questão de cunho privado enquanto formos expulsos, devido à nossa homossexualidade, de nossos empregos e moradias".

Von Praunheim se dedicou desde cedo à difusão do sexo seguro, chamando até mesmo seus opositores de "assassinos" e angariando vários inimigos na cena homossexual, cujo estilo de vida combatia – um paradoxo, já que o próprio Von Praunheim se considera "promíscuo", apesar de viver com seu companheiro Mike Shepard já há 30 anos.

"Certo, útil e necessário"

Oscilando entre o kitsch e o político, o trabalho cinematográfico de Von Praunheim trata de gays, divas, mulheres fortes, homossexuais corajosos, transexuais, estrelas pornô e temas como radicalismo de direita e luta contra a aids. Seus documentários, com certeza, são seu ponto forte. Seus filmes de baixo orçamento convencem e suas provocações recebem os mais diversos elogios. "Certo, útil e necessário", afirma, por exemplo, o diário Frankfurter Allgemeine Zeitung.

O provocador Von Praunheim não lutou somente pela liberdade sexual entre gays e lésbicas, mas por seu engajamento político e por sua solidariedade como cidadãos. "Lutamos por algo mais que 700 bares de sexo", afirma um americano no filme Exército dos Amantes ou a Revolta dos Perversos (1979), sobre os movimentos de libertação nos EUA. O amor livre se impôs, a solidariedade não, reclama o diretor.

"Seis estudantes mortos"

Seu filme Seis estudantes mortos (2006) relata sua experiência como professor na Academia de Cinema e Televisão de Babelsberg. A película Minhas mães (2007) resgata o passado do diretor em Riga.

Somente em 2000 sua mãe confessou, aos 94 anos, que o diretor era adotado. Ela viveu com o filho os dez últimos anos de vida, até morrer em 2003. Após longas pesquisas, Von Praunheim descobriu que nasceu na Prisão Central de Riga e que sua mãe biológica faleceu num hospital psiquiátrico em 1946.

Eu sou minha própria mulher (1992), sobre a vida do travesti da antiga Alemanha Oriental Charlotte von Mahlsdorf; Bichas não mentem (2002), mostrando o engajamento político de gays em Berlim; e o documentário Homens, heróis, gays nazistas (2005), que trata do radicalismo de direita na cena homossexual, são outros sucessos do diretor.

Pular a seção Manchete

Manchete

Pular a seção Outros temas em destaque