Catrin Möderler Publicado 6 de julho de 2014Última atualização 5 de julho de 2022
Em 5 de julho de 1946, a dançarina Micheline Bernardini desfilou em Paris com a peça que revolucionaria a moda de banho.
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Dois pequenos pedaços de pano revolucionaram as piscinas e praias na década de 40 do século passado. O engenheiro francês Louis Réard deu a elas o nome de biquíni, e as apresentou em 5 de julho de 1946.
Uma espécie de maiô de duas peças já havia sido experimentado por algumas garotas anos antes mas o duas-peças foi uma verdadeira revolução por seu tamanho diminuto.
O francês garantiu que, ao criar o nome, pensou apenas no lado romântico do famoso atol no Oceano Pacífico. Verdade é que praticamente coincidiu com o controvertido teste nuclear dos Estados Unidos naquela região, que havia acontecido pouco antes.
As mudanças de estilo dos trajes de banho femininos
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A opinião pública ainda estava aturdida com o poder de destruição da bomba, quando Réard chocou com seus minúsculos triângulos de pano, cujas partes de cima mal cobriam os mamilos e a de baixo mais parecia uma tanga. A dançarina de clube noturno Micheline Bernardini apresentou a novidade, pois nenhuma manequim se dispôs a desfilar a nova peça.
Durante muitos anos o biquíni ficou longe dos olhos do público, até mesmo a famosa revista de moda Vogue o rejeitou. Estrelas de cinema como Marilyn Monroe e Brigitte Bardot, no entanto, se agarraram ao biquíni e se deixaram fotografar regularmente.
Filme de James Bond
O feitiço foi quebrado o mais tardar com o filme de James Bond 007 contra o satânico Dr. No, de 1962, em que a "bondgirl" Ursula Andress usa um biquíni de cor de marfim.
Nos anos 1960, o triunfo do biquíni avançou. Ele tomou muitas formas diferentes, chegou ao mercado como um "trikini" auto-adesivo, até mesmo como um "monokini" sem a parte de cima, mas não pegou.
A revolução nos maiôs andou de mãos dadas com o aumento da autodeterminação das mulheres. A pílula anticoncepcional apareceu, assim como a minissaia e a rebelião contra o establishment no movimento estudantil dos anos 60. O biquíni foi um golpe libertador para muitas mulheres.
Biquíni em vez de vestido de noiva
Até hoje, o biquíni não perdeu nenhum de seus encantos. Nos anos 80 e 90, o ponto alto de muitos dos grandes espetáculos de moda incluiu as últimas coleções de biquínis, em vez dos vestidos de noiva usuais. Estrelas da passarela como Claudia Schiffer, Linda Evangelista e Naomi Campbell disputavam tais trabalhos.
Três quartos de século após a sua invenção, o biquíni é um favorito perene, usado por mulheres de todas as idades.
Os 75 anos do biquíni
Logo após a Segunda Guerra, quatro pedaços de pano revolucionavam o mundo. Com economia extrema e pureza de formas, biquíni é criação de um engenheiro francês. Já sua conclusão lógica, o "fio dental", é invenção carioca.
Foto: AP Photo/Brooklyn Museum of Art
Quatro triângulos e pouco mais
Mais economia, impossível: quatro triângulos de tecido, unidos por cordões. Em 5 de julho de 1946, a dançarina de strip-tease Micheline Bernardini se apresentava às câmeras numa piscina pública de Paris, trajando o primeiro biquíni da história. Seu criador era nada menos do que um engenheiro automobilístico, o francês Louis Réard, ainda sem noção da revolução que estava iniciando – não só na moda.
Foto: picture-alliance/dpa
"Bomba an-atômica"
Fim da Segunda Guerra Mundial, início da Guerra Fria. No Atol de Bikini, Pacífico Sul, os EUA testavam suas bombas atômicas. Réard calca a publicidade para sua criação num jogo de palavras: "Le bikini, la première bombe an-atomique." Não se sabe se a expressão – politicamente incorreta e sexualmente ofensiva! – "bombas", para designar os seios, tem a mesma origem. Na foto, um modelo de 1947.
Foto: picture-alliance/Mary Evans Picture Library
Desde os romanos
A rigor, o biquíni não foi uma invenção do engenheiro parisiense. Pois é comprovadamente muito mais antiga essa ideia de reduzir a roupa esportiva ao mínimo, só cobrindo as partes estritamente necessárias. Na Villa Romana del Casale, na Sicília, encontram-se afrescos em que jovens romanas praticam esporte trajando o ancestral do biquíni.
Foto: picture alliance/ZB/W. Thieme
Alegria das garotas da folhinha
Antes de se tornar estrela de cinema, a atriz americana Marilyn Monroe ganhava um dinheirinho extra posando para fotos em trajes sumários, destinadas a calendários e páginas centrais de revistas. Para as modelos, o advento do biquíni foi um presente, convidando a despreocupada seminudez. Esta imagem de 1949, exposta no Museu de Arte de Brooklyn, Nova York, chama-se simplesmente "Marilyn na praia".
Foto: AP Photo/Brooklyn Museum of Art
À prova de escorregão
Nos anos 50, Hollywood faturava nas bilheterias com coreografias aquáticas protagonizadas por belas sereias – também de biquíni. Entre as modalidades esportivas celebradas, estava até o esqui aquático, como nesta foto. Note-se: a parte superior desta ousada variante do traje de banho parece estar a um triz de cair, mais na de baixo há pano suficiente para encarar as velocidades de até 50 km/h.
Foto: picture alliance/AP Images
Clássico das "Bond girls"
Quando, em 1962, a beldade suíça Ursula Andress surgiu do mar trajando estas precárias duas peças, muitos moralistas ficaram de queixo caído nos cinemas. Até o escolado James Bond (Sean Connery) perdeu o fôlego por um momento. O filme era "007 contra o satânico Dr. No". O mesmo sucederia a Pierce Brosnan, exatos 40 anos mais tarde, em "Um novo dia para morrer". Dessa vez a sereia era Halle Berry.
Foto: picture-alliance/dpa/UPI/Fox
Até por baixo das roupas
Após a ofensiva bondiana de seminudez, caíam na Alemanha os últimos bastiões da resistência contra o traje de banho de duas peças. No Porto de Hamburgo foram apresentadas as últimas criações para o verão 1963: o modelo Capri (esq.) tem parentesco inegável com o biquíni de Andress. À direita, o modelo Sissi, "conjunto íntimo moderno com uma nota esportiva". Enfim: quase um biquíni.
Foto: picture alliance/L. Heidtmann
Mínimo e ainda furadinho
Na Alemanha Oriental, a moderna mulher comunista também tinha direito de exibir suas formas. A editora feminina Verlag für die Frau louvava o biquíni de crochê, que não exigia tanto fio de algodão nem muito tempo para confeccionar. A variante tornou-se popular também entre os hippies. A desvantagem é que o material pesa com a água e alarga. Hoje dá-se preferência aos fios sintéticos.
Foto: picture alliance/akg-images
A pátria do fio dental
Quem diria: no Rio de Janeiro da década de 1950 havia uma associação antibiquíni. Isso não impediu a evolução lógica da peça: por que quatro triângulos de pano, se três bastam? E assim nascia a tanga, logo apelidada "fio dental", por motivos óbvios. Pelos anos 70 adentro, também sofreu má fama, até conquistar as praias cariocas, as do Brasil e, em breve, o mundo. Liberdade global para as nádegas!
Foto: picture-alliance/dpa/A. Lacerda
Presa perfeita para teleobjetivas
Paparazzi rondam as praias do mundo fotografando VIPs em situações reveladoras. A teleobjetiva é sua arma: X ganhou uns quilinhos? Y estará grávida? E a cada povo seus ídolos: a loira da esquerda é a famosa modelo e apresentadora de TV suíça Michelle Hunziker – em perfeita forma, mesmo depois de três filhos. Já a cunhada, que a acompanha, estava magra demais, dizem as más línguas.
Foto: picture alliance/Riccardo Dalle Luche Excl/IPA
Esportivo, porém sexista
Em 1996, o vôlei de praia passou a disciplina olímpica, logo se tornando num dos esportes mais apreciados por ambos os sexos. Talvez também por oferecer, de quebra, uma generosa visão da anatomia das jogadoras. Até 2012 o biquíni esportivo era obrigatório nas competições, mas a Associação Mundial de Voleibol suspendeu essa regra sexista. Hoje, tudo é possível, da calça de ciclista ao fio dental.
Foto: Getty Images/B. Kara
Biquíni tem museu
Em 2020 foi aberto em Bad Rappenau, na Alemanha, um museu dedicado à peça. Na foto, uma coleção de biquínis no estilo Brigitte Bardot.
Foto: picture-alliance/dpa/U. Anspach
Imortalmente sumário
Em marshalês, "bikini" quer dizer, aliás, "lugar dos cocos". Os habitantes do atol há muito deixaram Bikini para ir viver em áreas menos radioativas, mas o biquíni sobreviveu às décadas. Aparentemente imortal, na Vanity Couture At Miami Swim Week 2019, ele voltou a ser celebrado em várias versões e cores.
Foto: picture-alliance/ZUMAPRESS/Zuma Wire/SMG
Andando com o tempo
Duas beldades numa praia italiana em 2020, em plena pandemia de coronavírus e obrigatoriedade do uso de máscaras faciais, expõem a versatilidade da peça, que aqui podemos chamar de "triquíni".