Doris Bulau (lk)Publicado 13 de agosto de 2017Última atualização 13 de agosto de 2023
Em 13 de agosto de 1961, as autoridades da Alemanha Oriental começaram a separar com arame farpado e blocos de concreto os lados leste e oeste de Berlim, isolando a parte ocidental.
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O funcionário do Serviço de Defesa da Constituição de Berlim que estava de plantão no segundo final de semana de agosto de 1961 não esperava ocorrências extraordinárias. Mas já na madrugada de sábado para o domingo, dia 13, ele foi surpreendido à 01h54 pela notícia de que o tráfego de trens entre Berlim Ocidental e Berlim Oriental fora suspenso.
A abrangência do fato, porém, só ficou clara quando o dia amanheceu. A República Democrática Alemã (RDA), de regime socialista, dera início à construção de um muro entre as duas partes de Berlim, cortando o acesso de 16 milhões de alemães ao lado ocidental. "A fronteira em que nos encontramos, com a arma nas mãos, não é apenas uma fronteira entre um país e outro. É a fronteira entre o passado e o presente", era a interpretação ideológica do governo alemão-oriental.
Queda após 28 anos
A RDA via-se com razão ameaçada em sua existência. Cerca de 2 mil fugas diárias haviam sido registradas até aquele 13 de agosto de 1961, ou seja, 150 mil desde o começo do ano e mais de 2 milhões desde que fora criado o "Estado dos trabalhadores e dos camponeses". O partido SED puxou o freio de emergência com o auxílio de arame farpado e concreto, levantando um muro de 155 quilômetros de extensão que interrompia estradas e linhas férreas e separava famílias.
Ainda dois meses antes, Walter Ulbricht, chefe de Estado e do partido único da Alemanha Oriental, desmentira boatos de que o governo estaria planejando fechar a fronteira: "Não tenho conhecimento de um plano desses, já que os operários da construção estão ocupados levantando casas e toda a sua mão de obra é necessária para isso. Ninguém pretende construir um muro". A frase entraria para a história como sinônimo de engodo político.
Nos bastidores, porém, corriam os preparativos, sob a coordenação de Erich Honecker e com a bênção da União Soviética. Guardas da fronteira e batalhões fiéis ao politburo encarregaram-se da tarefa. Honecker não tinha a menor dúvida: "Com a construção da muralha antifascista, a situação na Europa fica estabilizada e a paz, salvaguardada".
As potências ocidentais protestaram, mas nada fizeram. Para os berlinenses de ambos os lados da fronteira, a brutalidade do muro passou a fazer parte do cotidiano. Apenas 11 dias após a construção, morria o primeiro alemão-oriental abatido a tiros durante uma tentativa de fuga. A última vítima dos guardas da fronteira foi Chris Gueffroy, morto em fevereiro de 1989.
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Reação às fugas
Até 1989, o Muro de Berlim foi o símbolo por excelência da Guerra Fria, da bipolarização do mundo e da divisão da Alemanha.
Ainda no início de 1989, Honecker, no poder desde 1971, manifestava confiança em sua estabilidade: "O muro ainda existirá em 50 ou em cem anos, enquanto não forem superados os motivos que levaram à sua construção".
Apenas dez meses depois, em 9 de novembro daquele ano, os habitantes de ambas as partes da cidade caíam incrédulos nos braços uns dos outros, festejando o fim da muralha que acabou sendo derrubada pouco a pouco e vendida aos pedaços como suvenir.
Menos de um ano depois, o país dividido desde o fim da Segunda Guerra foi unificado, mas a verdadeira integração entre as duas partes é um processo que ainda não terminou.
De Cortina de Ferro a Cinturão Verde
Os 1.400 quilômetros da antiga fronteira entre as Alemanhas formam hoje o chamado Cinturão Verde. De Kühlungsborn, passando pelo monte Brocken, até Mödlareuth, o trecho inclui paisagens únicas e pontos históricos.
Foto: picture-alliance/ZB
Torre de vigia na orla do Mar Báltico
A BT11, em Kühlungsborn, é uma torre de vigia da época da Alemanha Oriental. Entre 1973 e 1989, os guardas de fronteira subiam nela para achar possíveis fugitivos, cujo objetivo era alcançar a costa do estado ocidental de Schleswig-Holstein ou um navio que estivesse de passagem. Tombada como patrimônio histórico, a torre é uma das últimas das mais de 70 que existiam na costa do Mar Báltico.
Foto: picture-alliance/ZB
Gansos selvagens perto de Darchau
Agora, 25 anos após a queda da Cortina de Ferro, é possível ver que a antiga fronteira, a chamada Faixa da Morte, foi uma bênção para a natureza. O Cinturão Verde entre as regiões de Altmark e Wendland atrai aves migratórias de forma mágica. Grandes quantidades de gansos, cisnes, patos e cegonhas fazem escala na região no outono, antes de continuar a rota migratória rumo ao sul.
Foto: picture-alliance/ZB
Paisagem do rio Elba
Dos 1.091 quilômetros do Elba, 95 ficavam na área interditada da fronteira entre as Alemanhas. Neste lugar, perto do lugarejo de Lenzen, está uma das últimas paisagens fluviais quase intocadas do país. Os diferentes níveis de água fazem o rio formar planícies alagadas e criam paraísos naturais únicos. A Reserva da Biosfera Paisagem do Rio Elba, da Unesco, se estende por quase 375 mil hectares.
Foto: picture-alliance/dpa
Memorial da fronteira Hötensleben
A principal finalidade da fronteira alemã oriental era impedir tentativas de fuga da própria população. Isso a diferencia de outras fronteiras fortificadas, que servem principalmente para proteger de invasões de fora. Em Hötensleben, ainda podem ser vistas partes das barreiras originais, incluindo muros, torres de vigia e obstáculos antitanque.
Foto: picture-alliance/dpa
Pedalando pelo Cinturão Verde
A região ao norte da cadeia montanhosa do Harz é marcada por colinas suaves. Os 70 quilômetros entre Hornburg e Ilsenburg convidam ciclistas a passearem ao longo do Cinturão Verde. A rota passa por pomares, campos e alamedas de castanheiras, em meio à natureza intocada e restos das antigas instalações fronteiriças.
Foto: picture-alliance/dpa
Montanha entre as Alemanhas
Localizado na antiga fronteira entre as Alemanhas, a montanha Brocken era inacessível para cidadãos de leste e oeste, se tornando, assim, um símbolo da divisão alemã. Com a queda do Muro, o monte voltou novamente ao centro geográfico da Alemanha e virou um popular destino turístico. É possível chegar ao topo a pé ou de trem.
Foto: picture-alliance/dpa
Anel da memória
O monumento em Sorge, perto de Wernigerode, é um círculo de árvores mortas com 70 metros de diâmetro. Fica diretamente na antiga Faixa da Morte, como símbolo da unificação das Alemanhas. Na concepção do autor, o artista Herman Prigann, os troncos devem ser lentamente cobertos por plantas, estimulando, assim, a reflexão sobre decadência e crescimento.
Foto: picture-alliance/dpa
Biodiversidade no caminho de patrulhamento
Apenas a estaca de marcação ainda lembra a antiga fronteira na montanha Warteberg, perto de Nordhausen. À sombra da Cortina de Ferro, ao longo do antigo caminho de patrulhamento da guarda de fronteira, se desenvolveram habitats de espécies animais e vegetais raras. Espécies ameaçadas de extinção, como orquídeas e cegonhas-pretas encontraram aqui refúgios valiosos.
Foto: picture-alliance/ZB
Museu da Fronteira Eichsfeld
Desde 1995, existe na antiga passagem de fronteira Duderstadt / Worbis o Museu da Fronteira Eichsfeld. Entre 1973 e 1989, cerca de 6 milhões de viajantes utilizaram a passagem de fronteira entre as aldeias de Gerblingerode, no oeste, e Teistungen, no leste. Num espaço de mil metros quadrados, a exposição conta a história da divisão alemã.
Foto: picture-alliance/ZB
Pequena Berlim
O passeio pelo Cinturão Verde termina em Mödlareuth, povoado de 50 pessoas. Os americanos a chamavam de "Little Berlin" ("Pequena Berlim"), por ela, como sua irmã maior, Berlim, ter se tornado um símbolo da divisão alemã. A exemplo da atual capital alemã, até 1989, Mödlareuth era dividida por um muro de concreto de 700 metros de comprimento e 3,40 metros de altura.
Foto: picture-alliance/dpa
De Faixa da Morte a linha da vida
A Cortina de Ferro dividiu a Alemanha e a Europa por quase quatro décadas. Muros, cercas de arame farpado e torres de guarda separaram famílias e amigos. Aquilo que um dia dividia, agora é algo que nos une à natureza. O Cinturão Verde foi o primeiro projeto de conservação da natureza da Alemanha reunificada.