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História

1963: Tratado do Eliseu selou amizade franco-alemã

22 de janeiro de 2020

O dia 22 de janeiro de 1963 marcou a história dos dois países vizinhos. Com a assinatura do documento, os outrora inimigos deram início a uma próspera e duradoura parceria.

Foto: picture-alliance/dpa

"Meu coração está transbordando e minha alma, agradecida", exaltou o presidente Charles de Gaulle, em alemão fluente e de maneira um tanto declamatória. A declaração foi feita após o líder francês e o chanceler federal alemão, Konrad Adenauer, terem assinado em Paris o Tratado da Amizade Franco-Alemã, também conhecido como Tratado do Eliseu. Em seguida, veio uma rápida troca de beijos e um efusivo abraço do anfitrião. "Não tenho nada a acrescentar", respondeu o então chanceler federal alemão.

Era uma noite gélida de inverno na residência oficial do presidente francês, o Palácio do Eliseu, em Paris. Dezoito anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, os dois países vizinhos comprometeram-se a consultar um ao outro sobre as questões mais relevantes das política externa, de defesa, educação, juventude e cultura.

Encontros regulares entre os chefes de governo, ministros e funcionários públicos de alto escalão deveriam assegurar a implementação do tratado. Alemanha e França passariam, assim, de amargurados inimigos de guerra a parceiros.

Os dois países já haviam começado o processo da reconciliação política alguns anos antes. Entre as forças motoras desse processo estavam Robert Schuman, ministro do Exterior da França de 1948 a 1952, e De Gaulle, presidente da França desde 1958. Adenauer sabia que se encontrava no final de sua carreira política. Por um lado, ele queria deixar uma política externa estável para seu sucessor. Por outro, relutava em desatrelar a Alemanha da Otan e dos EUA, como De Gaulle exigia.

Mas uma visão comum unia os dois líderes: uma Europa poderosa deveria integrar-se à política mundial não contra, mas de forma independente dos Estados Unidos. Para promover a ideia, Adenauer foi à França de 2 a 8 de julho de 1962. A visita com De Gaulle à Catedral de Reims enfatizou a conexão pessoal entre os dois chefes de Estado. De 4 a 9 de setembro foi a vez de o presidente francês ir à Alemanha e reforçar a disposição para uma reconciliação.

François Mitterrand e Helmut Kohl fortalecem a união em cemitério de soldados em Verdun, em 1984Foto: picture-alliance/dpa/W. Eilmes

Na cidade de Ludwigsburg, De Gaulle discursou à juventude alemã. "Eu os felicito por serem jovens alemães, os filhos de um povo grandioso. Um povo que cometeu grandes erros ao longo da sua história, mas que também deixou valores espirituais, científicos, artísticos e filosóficos ao mundo."

Uma semana antes da assinatura do Tratado do Eliseu, De Gaulle vetou a admissão do Reino Unido na Comunidade Econômica Europeia (CEE). Muitos parlamentares alemães viram nisso um risco para o acordo, já que o líder francês exigia que a Alemanha se posicionasse contra os EUA e o Reino Unido e a favor da França e de seu arsenal nuclear, a Force de frappe.

O Parlamento alemão aprovou com grande maioria o texto do tratado no dia 16 de maio de 1963. Entretanto, foi acrescentado um preâmbulo, visto como uma clara crítica alemã à política do presidente De Gaulle. O trecho definia que o tratado não seria um obstáculo para acordos com outras nações. A Alemanha defendia a parceria com a França, os Estados Unidos e a Otan. No dia 14 de junho de 1963, a Assembleia Nacional da França também aprovou o Tratado do Eliseu.

Críticos afirmavam na época que tratados eram raramente duradouros. Alguns comparavam o franco-alemão a rosas, que murcham após um tempo. Adenauer, apaixonado pela flor, não hesitou em responder. "Mas a rosa, e disso eu realmente entendo, é a planta mais duradoura que existe." Ele estava certo. O Tratado do Eliseu é até hoje o documento central da conciliação de ambos os países.

Desde 1988, existem conselhos comuns de Defesa e Segurança, de Finanças e Economia e de Cultura e Meio Ambiente. Após a formação de uma brigada teuto-francesa, ficou decidida a criação de uma força militar conjunta, que, com a inclusão de outros aliados, transformou-se na atual Eurocorps.

As duplas políticas formadas pelos chanceleres federais alemães e presidentes franceses que vieram a seguir – Schmidt-Giscard d'Estaing, Kohl-Mitterrand e Schröder-Chirac – aproveitaram as bases lançadas pelo tratado e transformaram as duas nações em precursoras da união no continente. A fundação da Agência Franco-Alemã para a Juventude, em 5 de julho de 1963, provou ser especialmente produtiva, permitindo que milhões de jovens dos dois países entrassem em contato e incentivando o respeito mútuo.

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