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HistóriaChile

1973: Golpe militar derruba Allende no Chile

Norbert Ahrens Publicado 11 de setembro de 2013Última atualização 11 de setembro de 2021

Em 11 de setembro de 1973, militares chilenos, liderados por Augusto Pinochet, derrubaram governo do socialista Salvador Allende, dando início a uma brutal ditadura militar.

Soldados no telhado em prédio em frente ao palácio do governo
Palácio La Moneda, em Santiago, é atacado por soldados em 11 de setembro de 1973Foto: AFP/Getty Images

No final da manhã de 11 de setembro de 1973, o locutor da emissora sindical Rádio Corporación anunciou com voz trêmula: "Aviões da Força Aérea chilena atacaram o prédio da Rádio Corporación. Isso significa que é preciso contar com lutas em todas as fábricas. Isso significa que todos os sindicatos devem entrar em contato com os cinturões industriais e esses, por sua vez, com a central sindical única CUT, a fim de preparar-se para o que necessariamente virá. O importante nesse momento, camaradas, é que o povo esteja unido, venha o que vier! Cada fábrica, cada latifúndio, cada bairro pobre deve transformar-se numa fortaleza popular. Mas temos de manter a tranquilidade, pois somente assim poderemos estar preparados para o que vier. Apesar de tudo isso, temos de manter a cabeça fria e o coração quente."

Todo o cinturão industrial de Santiago havia sido cercado pelos militares, apoiados por armas pesadas. O próprio presidente Salvador Allende recusara terminantemente as reivindicações da extrema esquerda de armar os operários. Ele, o primeiro marxista a ser eleito democraticamente como chefe de Estado e de governo de um país ocidental, acreditou profundamente e durante muito tempo na força da preservação dos valores e tradições democráticos.

Não tinha ele sido conduzido ao poder até mesmo com os votos dos democrata-cristãos? Não tinha ele próprio nomeado o general Augusto Pinochet como chefe do Exército e, assim, comandante-em-chefe da maior das três armas?

Mas o mesmo Pinochet tornara-se o líder do golpe militar de 11 de setembro, que surpreendeu a opinião pública mundial não apenas pela sua brutalidade. O Chile sempre fora tido como um exemplo de situação democrática estável, à qual também os militares se submetiam. Mesmo Allende acreditara até o final na lealdade dos seus oficiais.

Poucas semanas antes do golpe militar, Allende descrevera o Chile marcado pelo seu governo com grande orgulho: "Um país no qual a vida pública está organizada por instituições civis, as quais se apoiam em Forças Armadas com um elevado grau de formação profissional e permeadas de profundo espírito democrático; um país de quase dez milhões de habitantes que produziu dois portadores do prêmio Nobel de Literatura dentro de uma única geração, Gabriela Mistral e Pablo Neruda, ambos filhos de simples trabalhadores".

"Quem foi libertado de quê?"

Poucos dias após os acontecimentos de 11 de setembro, o escritor alemão Heinrich Böll, que recebeu o prêmio Nobel de Literatura de 1972, perguntava: "Quem foi libertado do que através desse golpe? Os esclarecimentos forçados, já quase sem pudor, de uma parte da imprensa mundial, que justifica o golpe no Chile como uma espécie de ilegalidade preventiva necessária, as suspeitas pessoais e políticas contra Salvador Allende, os prognósticos sombrios de uma iminente catástrofe econômica no Chile – nada disso eliminará o fato de que a legalidade foi rompida no Chile, de que predominam o terror, a tortura, a xenofobia e de que a queima de livros foi declarada virtude. São os carrascos que cuidam da paz e da ordem lá".

Realmente, os militares chilenos – aparentemente tão democráticos – atuavam como carrascos. O golpe de Pinochet foi festejado politicamente pelo governo americano de Richard Nixon, do qual também obteve apoio logístico. O golpe militar de 11 de setembro de 1973 foi o sangrento ponto final da política externa dos EUA contra o socialista Allende, que fora combatido por Washington desde o início do seu governo.

Poucos dias depois da posse de Allende, os Estados Unidos lançaram as suas reservas de cobre no mercado mundial, fazendo com que caísse rápida e drasticamente o preço do principal artigo chileno de exportação no mercado mundial. Dessa maneira, o financiamento das reformas sociais anunciadas por Allende tornou-se praticamente impossível.