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História

6 de outubro de 1973

Peter Philipp (am)

No dia 6 de outubro de 1973, tropas egípcias e sírias atacaram Israel. Em pleno feriado do Yom Kippur, estourava o quarto conflito armado do Oriente Médio, que ficou conhecido como "Guerra de Outubro".

Photografie von David Rubinger
Foto: Getty Images/AFP/GPO/David Rubinger

Em Israel, o maior feriado religioso judeu é o Yom Kippur, um dia de completa tranquilidade e de jejum: os transportes públicos param, o rádio e a televisão não fazem transmissões, e quem tem um mínimo de fé religiosa renuncia à comida e à bebida. As sinagogas ficam mais cheias: é o dia de pedir perdão pelos grandes e pequenos pecados do ano que se encerra.

Isso era o que se esperava também em 1973: na véspera do Yom Kippur, o país iniciou o tradicional retiro religioso, e os postos de fronteira com os territórios palestinos foram fechados. Porém, fatos fora do comum ocorreram no dia 6 de outubro. Começara o quarto conflito armado do Oriente Próximo, depois denominado Guerra do Yom Kippur ou Guerra de Outubro.

Ataques simultâneos

Israel fora inteiramente surpreendido: às 14 horas as forças armadas egípcias e sírias atacaram ao mesmo tempo: as primeiras, no Canal de Suez; as outras, nas colinas de Golã.

Cinco divisões egípcias, com 70 mil homens, cruzaram o Canal de Suez em diversos pontos e puderam vencer facilmente os cerca de 500 soldados israelenses que guardavam a chamada Linha de Bar-Lev, na margem oriental do canal.

Até que chegasse o reforço do interior do país, os egípcios já tinham ampliado suas cabeças de ponte e reconquistado uma parte da Península de Sinai, que fora completamente perdida para Israel na Guerra dos Seis Dias, em 1967.

Nas colinas de Golã, também ocupadas por Israel desde 1967, a guerra começou com um ataque maciço da força aérea e da artilharia sírias. Pouco depois, avançaram divisões blindadas com um total de 1.400 tanques de guerra, seguidas de duas outras divisões. Os israelenses foram surpreendidos também nas colinas de Golã, sofreram graves perdas e tiveram, principalmente, de evacuar os povoados construídos na região desde 1967.

Combates na Síria

Por pouco os israelenses não perderam o controle sobre as colinas de Golã. Somente no terceiro dia de guerra é que a contraofensiva começou a ter êxito. As colinas foram reconquistadas em dois dias e, a partir do terceiro dia, o palco da guerra era o território sírio.

Os israelenses avançaram até Sasa, a aproximadamente 40 quilômetros de Damasco. Na frente egípcia, eles cruzaram o Canal de Suez e conquistaram o território entre o canal e a estrada Suez-Cairo. Nesse avanço, o Terceiro Exército egípcio foi cercado e isolado do restante do país.

A guerra durou mais tempo do que as anteriores. Entre outras coisas, porque as superpotências abasteceram as partes beligerantes com grande quantidade de armas. E as Nações Unidas só puderam conclamar a uma trégua em 21 e 22 de outubro.

A conclamação foi acoplada à Resolução 338 do Conselho de Segurança, na qual se fala de uma solução justa para o conflito do Oriente Médio e da necessidade de devolução de territórios ocupados. Na Europa, sentiu-se pela primeira vez naqueles dias os efeitos da nova arma árabe, o boicote de petróleo.

Difíceis negociações

No dia 24 de outubro de 1973, os combates terminaram. O Egito teve um total de 15 mil vítimas; a Síria, 3 mil e Israel, 770. A situação territorial estava mais confusa que antes. No final de 1973, foi convocada uma conferência de paz da ONU em Genebra, cujos dois encontros em nada resultaram.

Em difíceis negociações no quilômetro 101 da estrada Suez-Cairo, foi feito então um acordo de desentrelaçamento das tropas. No início de 1974, Israel retirava-se da margem ocidental do Canal de Suez.

Também o Egito recuava para a posição anterior ao início da guerra. Com a Síria, as negociações foram feitas através da mediação dos Estados Unidos, representados pelo secretário de Estado Henry Kissinger. Também neste caso, chegou-se a um acordo de desentrelaçamento mútuo das tropas. No Sinai, foram novamente estacionadas tropas da ONU. Às colinas de Golã, foi enviada a tropa Undof, das Nações Unidas, com observadores para o cumprimento do acordo.

Busca dos responsáveis

Depois da guerra, começou em Israel uma busca sistemática dos responsáveis. Para isso, foi instituída uma comissão de inquérito, a Comissão Agranat. Constatou-se logo que o serviço secreto militar e também os políticos fracassaram: os preparativos de guerra dos egípcios e dos sírios tinham sido observados desde 1972, mas sempre interpretados como manobras militares ou simulação.

Israel estava seguro demais de sua própria força, tanto da superioridade das próprias tropas como das instalações de defesa no Canal de Suez.

O chefe do Estado Maior das Forças Armadas israelenses, David Elazar, quis mobilizar as tropas antes do início da guerra, mas os políticos vetaram. Eles não acreditavam numa guerra e não queriam, com a mobilização, aumentar a tensão reinante.

A primeira-ministra Golda Meir e o seu ministro da Defesa, Moshe Dayan, renunciaram. Também Elazar passou para a reserva. Eles jamais se recuperaram do fracasso na Guerra de Outubro.

Mas essa guerra abriu também as portas para os esforços políticos: ambos os lados viam-se como vencedores e assim em igualdade de direitos. Com isso, pelo menos o Egito e Israel finalmente se dispuseram a fazer um acordo de paz.