1977: Morre Wernher von Braun
Publicado 16 de junho de 2016Última atualização 16 de junho de 2021"Um pequeno passo para uma pessoa, um salto para a humanidade." A frase do americano Neil Armstrong, o primeiro homem a pisar na Lua, em julho de 1969, só pôde ser dita graças ao trabalho de uma figura-chave no mundo da astronáutica: o alemão Wernher von Braun (1912-1977). Desde 1960 diretor do Centro Marshall de voos espaciais da Nasa, Von Braun foi responsável pelo desenvolvimento dos foguetes Saturno V, que permitiram o envio da nave Apolo 11 à Lua.
De família aristocrática e conservadora, Von Braun, nascido em 1912 na cidade de Wirsitz (hoje Wirzyzk, Polônia), interessou-se desde cedo pela cosmonáutica. Em 1925, mergulhou na leitura de um livro do "pioneiro dos foguetes", Hermann Oberth, no qual eram apontados os caminhos para uma viagem espacial tripulada.
Com o propósito de levar à frente suas ideias, Von Braun mostrou-se apto a fazer qualquer concessão aos donos do poder. Para ele, a ciência não possuía "dimensões morais em si". E foi através da proximidade com as Forças Armadas da Alemanha nazista que ele pôde concluir, no ano de 1934, sua tese de doutorado sobre Os princípios básicos dos foguetes movidos a combustível líquido.
Primeiro foguete operacional do mundo
Alguns anos depois, Von Braun tornou-se diretor-técnico da base militar de Peenemünde, localizada numa ilha do Mar Báltico, no norte da Alemanha. Sob seu comando, foi desenvolvido o V-2 (V de Vergeltung, que em alemão significa vingança), o primeiro foguete operacional do mundo. Após testes em 1942, os V-2 foram usados durante a Segunda Guerra Mundial, principalmente em bombardeios a Londres, tendo ficado conhecidos como "armas do terror".
Utilizados em grande escala pela Alemanha para atacar cidades das forças aliadas, os artefatos deixaram um saldo de 8.500 mortos e 46.200 feridos. Von Braun também certamente sabia que milhares de trabalhadores forçados, mantidos em campos de concentração, faziam parte da equipe de produção em série dos V-2. O cientista nunca protestou contra tais condições de trabalho escravo.
Apesar de sua conivência com o regime nazista, Von Braun foi poupado de um julgamento oficial e mesmo moral após o fim da guerra. Acompanhado de seus 130 assistentes da base militar de Peenemünde, o especialista alemão foi enviado aos Estados Unidos para trabalhar em sistemas de mísseis teleguiados, tão logo entregou-se às tropas americanas em maio de 1945. O interesse militar por ocasião da Guerra Fria falou mais alto que qualquer julgamento moral.
Defesa do programa Apolo
Em 1961, von Braun foi convidado pelo então presidente Kennedy a coordenar o programa Apolo, que anos mais tarde levaria o homem à Lua. Acusado por alguns de dispender muito dinheiro com um projeto megalômano, no qual estavam envolvidas 20 mil empresas, centenas de instituições e departamentos públicos, mais de 400 mil pessoas e gastos em torno de 24 bilhões de dólares, Von Braun defendeu-se: "O programa Apolo não foi um desperdício louco de dinheiro público, mas um dos investimentos mais racionais, inteligentes e com visão de futuro que qualquer nação já fez".
As viagens ao espaço programadas por Von Braun acabaram, no entanto, ficando muito aquém do esperado. A partir de 1965, foi reduzida não só boa parte das verbas destinadas a seus projetos, mas principalmente o apoio político a seus planos de criar uma estação espacial e organizar uma missão a Marte.
Amargurado, o cientista despediu-se da Nasa em 1972, instituição da qual havia sido nomeado diretor de planejamento dois anos antes. Em 1975, ele fundou o Instituto Nacional de Astronáutica, pouco antes de morrer, a 16 de junho de 1977, na cidade de Alexandria (Virgínia), nos Estados Unidos.