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HistóriaAlemanha

1983: Grafiteiro suíço Naegeli é preso na Alemanha

Peter Philipp28 de agosto de 2015

No dia 28 de agosto de 1983, a polícia alemã prendeu Harald Naegeli, de 43 anos, procurado internacionalmente. Seu crime: pichar paredes. De início incompreendida, anos mais tarde sua arte foi valorizada.

Graffiti von Harald Naegeli Undine
Foto: picture-alliance/dpa/dpaweb

A polícia alemã acreditava ter apanhado um "peixe grande" ao prender, no estado de Schleswig-Holstein, um homem há dois anos com mandado de prisão internacional. O suposto "criminoso" foi levado imediatamente para a cadeia de Lübeck, onde permaneceu 20 dias em prisão preventiva, aguardando a extradição. Até o Tribunal Superior Estadual decidir soltá-lo, mediante pagamento de fiança de 40 mil marcos na época, na expectativa de que o Tribunal Federal Constitucional aprovasse sua extradição.

Enquanto se esperava a decisão judicial, desencadeou-se na Alemanha uma discussão sobre a criminalização do grafiteiro. Em sua terra natal, a Suíça, o tribunal do Cantão de Zurique não tinha dúvidas quanto a isso. Harald Naegeli, 43 anos, teria "uma compulsão delinquente" e devia pagar uma multa de 206 mil francos.

A "delinquência" de Naegeli, porém, não se manifestava por meio de arrombamentos ou roubos e, sim, usando seu spray para adornar paredes, pontes, garagens, muros e logradouros públicos. Os meios de comunicação criaram uma aura romântica para o "grafiteiro de Zurique" – como era conhecido o artista anônimo –, proprietários de imóveis, autoridades municipais e polícia seguiam considerando-o um criminoso comum.

Protesto contra a burguesia

Naegeli pichou Zurique com seu spray durante dois anos, perseguido pela polícia e por batalhões de servidores públicos, encarregados de limpar as áreas "ornamentadas" com grafites. Ele sofreu uma série de processos, sob acusação de "vandalismo" e "dilapidação de patrimônio".

Psicólogo diplomado, Naegeli pretendia apenas protestar com sua arte contra a violência e o status quo defendido pela burguesia, como fizera desde a infância. Os desenhos infantis haviam servido de base para seus elegantes grafites da idade adulta.

Ele próprio declarou, em entrevista a um jornal, que nascera durante a Segunda Guerra e sempre abordara esse assunto em seus desenhos. "Dos quatro aos seis anos de idade, não fiz outra coisa a não ser pintar cenas de batalhas e guerras. Eram processos durante os quais eu sentia prazer em representar pessoas decapitadas, sem ter consciência do que isso representava."

Preso pela primeira vez em 1979, foi condenado a seis meses de prisão condicional por dilapidação de patrimônio em 179 casos. A pena não desencorajou o grafiteiro, que logo retomou sua atividade.

Harald Naegeli incomodou os suíços ao ponto de ser condenado novamente – dessa vez a nove meses de reclusão. Quando ele deixou o país, foi expedido mandado internacional de prisão. A polícia de Zurique, no entanto, sabia que ele estava morando em Düsseldorf e lecionava em Wiesbaden.

Reconhecimento tardio

Na Alemanha, sua arte era respeitada, se não pelos proprietários de imóveis, pelo menos no meio artístico. O "grafiteiro de Zurique" – que não gostava desse título – foi repatriado pela Justiça alemã e teve que cumprir sua pena. Novamente em liberdade, abandonou a Suíça e passou a viver reservadamente na Alemanha, fazendo desenho para tecidos e toalhas.

Com o avanço da idade, Naegeli afastou-se de sua arte inicial. Ele detesta os "pichadores" de hoje, que sujam trens, estações ferroviárias e pontes, "sem qualquer originalidade ou conteúdo".

A opinião sobre ele em Zurique também mudou. Enquanto nos anos 1980 se desenvolviam detergentes especiais para apagar suas pinturas, hoje os limpadores de fachadas conservam com cuidado os traços que ainda restam de seus grafites. Há muito as imagens do famoso grafiteiro ganharam status de obras de arte.