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HistóriaFrança

1985: Ataque ao Greenpeace derrubava ministro francês

Oliver Ramme (am)

No dia 20 de setembro de 1985, renunciou o então ministro francês da Defesa, Charles Hernu, devido ao afundamento do navio Rainbow Warrior, na Nova Zelândia.

Navio à deriva
O barco teria sido afundado para evitar um protesto contra testes nuclearesFoto: picture-alliance/dpa/J. Miller/Greenpeace

A crise no governo francês fora desencadeada por um evento ocorrido dois meses antes. Na madrugada do dia 10 de julho de 1985, o navio Rainbow Warrior estava ancorado no porto de Auckland, na Nova Zelândia, preparado para uma ação do Greenpeace contra testes nucleares que seriam realizados pelo governo francês no atol de Mururoa, quando se ouviram duas explosões. Rapidamente começou a entrar água no navio, que afundou parcialmente. O português Fernando Pereira, fotógrafo e ativista do Greenpeace, morreu afogado no interior inundado do navio.

"Eles poderiam ter telefonado 10 minutos antes. Eles não se preocuparam nem um pouco se alguém seria morto ou não", disse Stephen Sawyer, membro da tripulação do barco. Poucas horas depois do ocorrido, já se sabia que não fora um acidente, mas um ato de sabotagem.

Serviço secreto francês

Poucos dias depois, numa praia próxima, foram encontrados um barco inflável e equipamentos de mergulho: o mesmo tipo de aparelhagem utilizada pelos militares franceses. Isto reforçou cada vez mais a suspeita de que as explosões do Rainbow Warrior haviam sido obra dos franceses.

Foi preso um casal, visto com frequência nas proximidades do navio do Greenpeace. Os dois portavam passaportes suíços falsos. Logo ficou constatado que ambos trabalhavam para o serviço secreto francês.

Meses antes, já estava certo que o Greenpeace iniciaria ações de protesto contra os testes nucleares franceses no Pacífico Sul, na região do atol de Mururoa. Também o Rainbow Warrior, uma espécie de nau capitânia da organização ambientalista, deveria participar dos protestos.

Segundo um relatório do serviço secreto francês, ao lado dos ativistas conhecidos, também comunistas e rebeldes polinésios que lutavam pela independência estariam a bordo do navio. Como não se queria que isso acontecesse, foi decidido que o Rainbow Warrior seria explodido no porto de Auckland: uma ação secreta, da qual participou um grupo de agentes franceses.

Sindicância a contragosto

Apesar de os indícios apontarem, com clareza cada vez maior, em direção a Paris, o governo francês negava, alegando ser tudo mentira produzida com muita fantasia. Mas a imprensa francesa continuou insistindo na apuração dos fatos. E também a Nova Zelândia, há anos insatisfeita com os testes atômicos franceses em Mururoa, exigia um esclarecimento. A contragosto, Paris ordenou uma sindicância. Um mês e meio depois do ato de terrorismo foram apresentados os resultados do inquérito.

O então primeiro-ministro neozelandês David Lange comentou com escárnio o conteúdo do relatório: "Ele é tão transparente que não se pode nem dizer que está enganando alguém. Ele ignora fatos, se contradiz em partes decisivas. Creio que se pode afirmar sem hesitação que ele se tornará vexaminoso para o governo francês. Eles estão sentados sobre uma bomba-relógio que pode explodir a qualquer momento."

E foi o que ocorreu. Questionava-se, de maneira cada vez mais insistente, quem teria dado a ordem para o atentado. O ministro da Defesa Hernu negou qualquer participação. No entanto, os indícios mostravam que Hernu tinha, no mínimo, conhecimento prévio da ação e que provavelmente teria dado a ordem para a sua execução.

Demissão do ministro

O governo do então presidente François Mitterrand estava enterrado até o pescoço no escândalo. O primeiro-ministro Laurent Fabius tinha de agir e demitiu então o ministro da Defesa Charles Hernu em 20 de setembro de 1985.

Fabius foi além disso: ele admitiu a participação da França no atentado. Mas quis desculpar os responsáveis diante da imprensa: "Foram agentes do serviço secreto francês que explodiram o navio. Eles cumpriram ordens. É preciso resguardar os órgãos executores da ação, pois não podemos aceitar que sejam comprometidos os soldados que apenas obedeceram ordens e que, no passado, executaram missões perigosas pelo nosso país."

Uma pergunta permaneceu sem resposta: Quem deu realmente a ordem para o ato de sabotagem? Estaria o próprio chefe de Estado francês por trás do atentado contra o Rainbow Warrior? Do Ministério da Defesa vazou, pouco depois, a notícia do desaparecimento de partes importantes do dossiê do Greenpeace.

Somente anos mais tarde é que alguns conhecedores dos segredos estatais da época manifestaram-se sobre o assunto: a ordem teria sido dada pelo ministro da Defesa, com a aprovação prévia do então presidente François Mitterrand.