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História

1985: Peça de Fassbinder acusada de antissemitismo

Bettina Henzler (rw)

No dia 31 de outubro de 1985, manifestantes judeus impediram a estreia de uma peça de Rainer Werner Fassbinder no Teatro Municipal de Frankfurt.

Rainer Werner FassbinderFoto: AP

A peça Der Müll, die Stadt und der Tod (O lixo, a cidade e a morte) havia sido escrita por Rainer Werner Fassbinder em 1975. O então diretor do Frankfurter Theater am Bauturm baseou-se num romance de Gerhard Zwerenz para escrever uma peça sobre o lamaçal da especulação imobiliária e a corrupção que levaram à edificação de um moderno bloco bancário no bairro tradicional de Westend, em Frankfurt. No dia de sua estreia, o palco foi ocupado pelos manifestantes.

No roteiro de Fassbinder, o especulador era um judeu rico, que apoiado pelos poderosos compra terrenos e destrói casas em detrimento da população. As áreas depois são revendidas por altos preços. O tubarão imobiliário mantinha uma relação com uma prostituta, que acaba matando. Mas não lhe acontece nada porque a polícia o protege.

Judeus acusaram uso de clichês nazistas

O personagem de Fassbinder era feio, astuto, ganancioso e vingativo. A comunidade judaica em Frankfurt protestou que o regime de Hitler havia usado os mesmos clichês na campanha nazista contra os judeus antes da Segunda Guerra. Os manifestantes protestavam que, mais uma vez, um judeu rico era usado como bode expiatório num fato de que também participaram comerciantes cristãos e muçulmanos.

Rainer Werner Fassbinder, em cenaFoto: AP

Por outro lado, havia os que defendiam uma arte crítica e livre, que queriam assistir à peça e só depois formar uma opinião. Um deles era Daniel Cohn-Bendit, também judeu e um dos que se engajou a favor dos moradores de Westend no final da década de 60.

Os defensores de Fassbinder diziam que ele havia quebrado um tabu na Alemanha, justamente ao tentar advertir do perigo de um novo antissemitismo. Para eles, os clichês são flagrados como uma projeção do medo, ainda presente na sociedade.

Cohn-Bendit condenava a crítica a Fassbinder. Para ele, a condenação atingia a pessoa errada: "Justamente Fassbinder, que, em seus filmes, sempre se opôs à normalidade, ao racismo latente e ao antissemitismo na Alemanha", alegou Cohn-Bendit.

Boa repercussão nos Estados Unidos

Os manifestantes que ocuparam o palco no dia da estreia da peça, entretanto, não se deixaram demover. Depois de duas horas de debate, o diretor do Teatro Municipal de Frankfurt, Günther Rühle, foi obrigado a cancelar o espetáculo, que nunca chegou a ser apresentado na Alemanha.

Já no exterior, não houve problemas. A peça estreou em Nova York, em 1987, e foi apresentada em Milão, em 1998, onde inclusive teve boa repercussão entre a comunidade judaica.