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HistóriaAlemanha

1990: Alemanha e Rússia selam acordo para Reunificação

Matthias Schmitz (gh)Publicado 15 de julho de 2016Última atualização 16 de julho de 2020

Entre 14 e 16 de julho de 1990, o então presidente russo, Mikhail Gorbatchov, e o chanceler federal alemão na época, Helmut Kohl, definiram condições para a reunificação alemã e a filiação da nova Alemanha à Otan.

Helmut Kohl conversando com Gorbachov
Kohl e Gorbachov em julho de 1990Foto: picture-alliance/dpa

Um dos problemas de política externa mais controvertidos no processo da reunificação alemã foi a definição do futuro alinhamento militar da República Federal da Alemanha.

Em maio e junho de 1990, os aliados ocidentais haviam reiterado seu desejo de integração plena da Alemanha na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Eles exigiam a permanência das tropas americanas no país, sem que isso representasse uma restrição da soberania alemã.

Num encontro com o então chanceler federal Helmut Kohl, em fevereiro de 1990, o então presidente da União Soviética (URSS), Mikhail Gorbatchov, dera sua anuência à reunificação da Alemanha, mas rejeitara categoricamente o ingresso do país na Otan.

Contudo, nas conversações em Moscou e no Cáucaso, entre os dias 14 e 16 de julho do mesmo ano, ele surpreendentemente aceitou a filiação, o que Kohl avaliou como "um novo auge nas relações teuto-soviéticas; isso se refere à intensidade das nossas conversações em Moscou, no avião e aqui em Stavropol, terra natal do presidente Gorbatchov".

Kohl e Gorbatchov sempre ressaltaram que o encontro no Cáucaso foi decisivo para a solução da questão da aliança militar. Na realidade, porém, o acordo teuto-soviético foi apenas uma consequência prática da concessão feita por Gorbatchov na reunião de cúpula soviético-estadunidense, em 31 de maio de 1990.

Naquela ocasião, o presidente da União Soviética surpreendera o então presidente americano, George Bush, com a promessa de respeitar o princípio da Conferência sobre Segurança e Cooperação na Europa (CSCE), que garante a cada país o direito de escolher seu bloco militar.

Com isso, a União Soviética deixou de exigir que a Alemanha permanecesse neutra ou aderisse simultaneamente à Otan e ao Pacto de Varsóvia – uma das hipóteses aventadas anteriormente e que era considerada como inteiramente inviável.

Bloco de oposição

Gorbatchov temia o isolamento internacional da URSS, caso insistisse numa política de bloqueio quanto à questão alemã. Além disso, em junho de 1990, eram poucos os países-membros do Pacto de Varsóvia que ainda resistiam ao ingresso da Alemanha Oriental na Otan. Nesse ponto, Klaus Meckel, ministro das Relações Exteriores da Alemanha Oriental, foi bem claro em seu primeiro encontro com seu colega de pasta russo, Eduard Chevarnadze, em Moscou:

"A reunificação alemã virá e, se vocês tentarem brecá-la, ela virá sem vocês; daí, teremos um problema conjunto. Por isso, temos de tentar realizar esse processo e não impedi-lo ou retardá-lo". Meckel foi o chefe da diplomacia do primeiro governo eleito livremente na Alemanha comunista.

A virada nas relações da União Soviética com a Alemanha ocorreu gradativamente, com muitas nuanças táticas e alterações obscuras. Em parte, isso decorreu da resistência de forças ortodoxas e adversários das reformas, incrustados na máquina do partido estatal, mas que eram incapazes de formar um bloco de oposição.

Apesar de Gorbatchov ter sido severamente criticada pelos próprios correligionários, a concordância com a reunificação e a integração da Alemanha à Otan não foi completamente altruísta. Ele apostava num alívio das tensões internacionais para poder se dedicar à solução de problemas internos urgentes, como as reformas econômicas e partidárias, bem como a manutenção da União Soviética.

A integridade da URSS começava a correr risco com a separação das repúblicas bálticas e os emergentes conflitos étnicos. Além disso, a ajuda econômica prometida pela Alemanha foi decisiva para obter a anuência de Gorbatchov à reunificação.

Após fornecer um enorme volume de alimentos, em janeiro, o governo alemão preparara o terreno para a visita de Kohl ao Cáucaso, concedendo um crédito de 5 bilhões de marcos à URSS. Essa injeção financeira garantiu a sobrevivência política de Gorbatchov e de Chevarnadze no 28º Congresso do Partido Comunista da União Soviética.

"Venda" da Alemanha Oriental

O governo alemão ainda fez novas concessões, quando Gorbatchov pediu uma compensação bilionária pela retirada das tropas soviéticas da Alemanha Oriental. As negociações sobre esse assunto ameaçaram, momentaneamente, a assinatura do Tratado Dois + Quatro, destinado a assegurar o reconhecimento internacional da reunificação alemã.

Em setembro de 1990, a então Alemanha Ocidental liberou mais 15 bilhões de marcos para a manutenção e o transporte das tropas soviéticas estacionadas no lado oriental, bem como para a construção de quartéis na URSS. A liberação desses créditos deu margem a especulações de que a União Soviética "vendera" a Alemanha Oriental ao Ocidente.

"Essa impressão é falsa. Os alemães pagaram quantias relativamente baixas para fins claramente especificados", afirmou o então secretário-adjunto das Relações Exteriores da URSS, Iuly Kwizinsky.

 

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