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História

1993: Ex-chefe de governo da antiga RDA era libertado

Doris Bulau (gh)

No dia 13 de janeiro de 1993, o ex-chefe de Estado e de Partido da antiga Alemanha Oriental, Erich Honecker, deixou a prisão preventiva.

Homem grisalho de óculos sentado junto à janela em avião
Honecker no avião para o ChileFoto: Picture-alliance/dpa/W. Kumm

Após ter chefiado por 18 anos o governo da antiga República Democrática Alemã (RDA), a Alemanha de regime comunista, Erich Honecker (1912–1994) entrou para a história como suposto criminoso. Ele foi o chefe da segurança que supervisionou a construção do Muro de Berlim e respondeu a processo judicial sob a acusação de haver ordenado a morte de 200 pessoas que tentaram cruzar o Muro entre 1961 e 1989.

Às 10h25 de 13 de janeiro de 1993, ele comemorou sua "última vitória". O porta-voz da Justiça, Bruno Rautenberg, anunciou o arquivamento do processo e a libertação de Honecker da prisão preventiva de Berlim-Moabit. Um mandado de prisão por regalias que desfrutara no condomínio residencial das lideranças do Politburo (órgão central do antigo Partido Comunista), em Wandlitz, também foi suspenso. Seguiram-se horas de espera, especulações e dribles da polícia.

Sua libertação causou protestos das vítimas do regime comunista alemão-oriental.

Finalmente, às 15h03, Honecker era um homem livre, a caminho do aeroporto de Berlim-Tegel. Às 20h15, embarcou no voo 2431 da Lufthansa, via Frankfurt e São Paulo, para o exílio em Santiago do Chile. Segundo seu advogado, Friedrich Wolf, ele se despediu "sem dizer frases históricas que merecessem ser transmitidas às gerações futuras".

Das minas a Moscou

Honecker nasceu em 25 de agosto de 1912, numa família de mineiros da cidade de Wiebelskirchen, na região do Sarre, próxima à fronteira da França. Ingressou aos 14 anos na Juventude Comunista. Em 1929, filiou-se ao Partido Comunista e, um ano depois, foi para Moscou, onde estudou por alguns meses na Escola Lenin.

Com a ascensão do nazismo ao poder na Alemanha em 1933, passou à clandestinidade. Em dezembro de 1935, foi preso pela Gestapo, a polícia secreta do regime nazista. Foi condenado por alta traição e ficou preso quase dez anos numa penitenciária perto de Berlim.

Após ser libertado pelo Exército da União Soviética em 1945, voltou a se filiar ao Partido Comunista, denominado na RDA Partido Socialista Unitário da Alemanha (SED). Dirigiu a Juventude Comunista entre 1946 e 1955 e, em 1950, ingressou como suplente no Politburo. Entre 1956 e 1957, passou mais uma temporada em Moscou e se tornou titular do Politburo em 1958, assumindo o posto de secretário do Comitê Central do SED para questões de segurança.

Construção do Muro

Dez anos após supervisionar a construção do Muro de Berlim, foi eleito secretário-geral do SED, em 3 de maio de 1971, após a demissão do secretário-geral Walter Ulbricht. Um mês depois, passou a chefiar também as Forças Armadas.

Em outubro de 1976, foi eleito presidente do Conselho de Estado. Em setembro de 1987, foi recebido com honras pelo chanceler federal Helmut Kohl, na primeira visita oficial de um chefe do regime comunista alemão à República Federal da Alemanha.

Pressões e queda do Muro

No começo de 1989, descartava a possibilidade de reunificação da Alemanha, afirmando que o Muro de Berlim ainda duraria "cem anos". Em outubro do mesmo ano, foi deposto por um golpe de membros de seu governo, pressionados pela abertura soviética e as manifestações em favor da democracia, que forçaram a derrubada do Muro de Berlim.

Para escapar da prisão, Honecker fugiu em 1991 para Moscou e se refugiou na embaixada chilena. Antes que fosse extraditado para a Alemanha, voltou ao país em julho de 1992. Ficou preso por seis meses na Alemanha, acusado pelas mortes no Muro. Sofria de câncer do fígado e os médicos lhe davam apenas mais três meses de vida quando o julgamento foi suspenso. Passou o último ano de vida recluso num subúrbio de Santiago, com a mulher e a família de sua filha. Morreu no dia 30 de maio de 1994 e foi cremado no Chile.

Sem arrependimentos

Honecker nunca lamentou os abusos cometidos durante o seu governo e morreu sem renegar seu passado comunista. Dizia que a reunificação da Alemanha era o início de um "Quarto Reich" e responsabilizou o ex-líder soviético Mikhail Gorbatchov por permitir a queda do regime comunista na Alemanha Oriental.

"A imolação da República Democrática Alemã é a pior coisa que já vivenciei, mas nem por causa disso o socialismo desapareceu do cenário histórico mundial. O futuro vai demonstrar isso", foi uma de sua últimas declarações públicas.

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